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terça-feira, 30 de setembro de 2014
A MIOPIA DOS RETORNADOS
Escrever sobre Angola desencadeia paixões, acorda ressentimentos hibernados e adormecidos,despoleta retaliações desde que os comentários ou textos não favoreçam o sistema politico de Angola e os seus lideres governamentais. Mas mesmo assim não vou deixar de escrever o que penso, muito embora isso me possa causar alguns amargos de boca, ou eventualmente perder alguns amigos que me irão “desamigar” por este desabafo. Espero que isso não aconteça, e que tenham a tolerância suficiente para entender o meu ponto de vista, muito embora obviamente tenham o direito dele discordar.
A grande maioria dos meus amigos do Facebook viveram em Angola e Luanda, aí frequentamos as nossas escolas primárias, secundárias e universidades, aí fizemos amizades que ainda perduram, aí casamos e tivemos filhos que se tornaram mais Angolanos que muitos dos pais que tinham nascido no continente. Todos passamos pelas mesmas experiências e vicissitudes durante muitos anos até ao fatídico 25 de Abril de 1974. Eu poderei dizer sem grande margem de erro, que possivelmente vivi em África mais anos do que todos eles, pois após 1975, regressei de novo a África mas desta vez tive a opção de poder escolher em qual dos países optei por viver, e por onde me mantive por mais de 20 anos. Assim como a Ásia é um continente dos autóctones amarelos, as Américas de índios, A Europa de caucasianos a África é um Continente de pretos ou negros como lhes queiram chamar. Quando o mundo foi criado, quer tenha sido segundo a teoria Criacionista ou Darwinista não foram certamente os Caucasianos das regiões europeias que por cá apareceram primeiro. Contudo segundo reza a história, foram os Europeus que deram novos mundos ao mundo, e que chegaram a outros continentes, povos e nações pela primeira vez, antes de quaisquer autóctones destes países virem colocar Padrões na Europa assinalando a sua chegada ou colonizar o Continente Europeu
Obviamente que não foram os Portugueses os únicos colonizadores de África, temos também Ingleses, Alemães, Franceses, Belgas, e Holandeses que durante quase 500 anos por lá se mantiveram mais tempo do que o necessário, tendo sido Portugal o último país a deixar África como potência colonizadora em condições deploráveis e indignas. Os Portugueses que nasceram e viveram em Angola bem como noutras colónias portuguesas espalhadas pelo mundo, sempre viveram enganados pensando que aí era Portugal, esse mito e embuste caiu por terra após o 25 de Abril, data bem-vinda para uns, e malfadado para outros, e foi nessa altura que conhecemos verdadeiramente os negros Angolanos muitos dos quais nossos amigos de longa data. Todos nós tivemos amigos, da escola, desporto, tropa empregos os quais oportunistamente se definiram politicamente enfeudando-se aos 3 partidos de libertação: FNLA-UNITA-MPLA, acabando por se revelarem o seu verdadeiro carácter racista e nacionalista, renegando e atraiçoando amigos. A guerra civil alastrou pelo país, acabando por se centrar em Luanda onde os 3 movimentos de libertação se instalaram durante o Governo de Transição liderado pelo celebre Almirante Rosa Coutinho. Resumindo e concluindo a grande maioria dos portugueses brancos acabaram por ser escorraçados daquela que ingenuamente pensaram ser a sua terra. Não só fomos apunhalados pelos nossos compatriotas, como também por todos aqueles amigos, pretos e mulatos com que tínhamos partilhado uma geração inteira. Não guardo rancores a ninguém e não vou aqui fazer nenhum historial da descolonização, mas sim abordar uma situação que me incomoda, inquieta e agonia, e sobre a qual sinto que chegou á altura de manifestar publicamente o meu sentimento de desagrado.
Sem querer ferir susceptibilidades individualizando pessoas, prefiro generalizar o assunto de forma a neutralizar o efeito que este texto possa ter naqueles que passados 30 anos ainda vivem obcecados de uma forma saudosista, doentia e paranóica com Angola.
Diariamente publicam excertos de jornais de Angola sobre assuntos políticos, fotos antigas de locais que possivelmente já nem existem, bem como da Luanda moderna.
Enchem página do facebook com uma memorabilia infindável de locais que todos conhecemos onde vivemos, mas que passados todos estes anos não passam de esqueletos no armário das recordações. As pessoas não querem viver do passado, esse já foi vivido e é irrepetível. Quem quiser ver Palancas, Elefantes, Onças ou Pacaças que vá ao Jardim Zoológico. Que nos interessa saber se petróleo jorra no meio da baía de Luanda ou em Cabinda, se o Marialva, Bambi e Gruta ainda existem? Se todos vocês gostam tanto de Angola vivendo com ela no coração e na cabeça há 30 anos porque fugiram de lá ou não regressaram depois? Deixem Angola sepultada no fundo das vossas memórias, vivam o dia de hoje nas terras, vilas ou cidade que vos acolheram, ou escolheram para viver, publiquem fotos e noticias desses lugares. Em vez de se preocuparem com um país estrangeiro e das suas gentes que se apropriaram de todos os nossos bens. Fomos roubados, espoliados, escorraçados, agredidos e violentados, não por aquela terra maravilhosa, mas sim pelos seus líderes políticos e seus apaniguados. Angola foi um sonho que todos nós tivemos o privilégio de viver durante alguns anos, mas o qual se tornou num pesadelo e nos fez ver numa dimensão para a qual não estávamos preparados como uma sociedade multirracial bem organizada se desagrega em poucos meses, e o racismo se torna na arma mais poderosa de retaliação e violência que se possa imaginar. Essa experiência pela qual todos passamos alterou definitivamente a minha visão do mundo de uma forma radical.
25-3-201
FANATISMO ANGOLANO PARTE II
Gostaria de deixar aqui bem explicito de que não pretendo quebrar as regras programáticas ou deontológicas desta página social, assim, esta será a minha última intervenção no grupo sobre o texto em epigrafe. O texto em questão não foi escrito ou direcionado para os membros de nenhum grupo especifico, pois trata-se simplesmente de uma reflexão generalista sobre os sentimentos de saudosismo, quanto a mim despropositados e que ainda hoje perduram passados 38 anos, na mente das pessoas que viveram e sentiram na carne um dos períodos dos mais negros da nossa história contemporânea. Hoje constatamos que fomos enganados numa terra que considerávamos ser território nacional até ao ano de 1975. e mercê desse facto fomos espoliados e escorraçados pelos movimentos de libertação e pelo ostracismo a que fomos votados pelas autoridades e exercito Português. O texto na sua síntese, apenas pretende centrar-se e focar-se num aspecto fulcral que é o saudosismo doentio com que as pessoas falam hoje de uma terra que é estrangeira e cujos seus governantes se locupletaram indevidamente dos bens dos Portugueses sem os compensar ou ressarcir. Em vez de recordarmos com saudade esses anos de paz e concórdia em que lá vivemos, deveríamos era esquecer esse pesadelo pelo qual todos passamos, criando anti corpos em relação ao mesmo, em vez de o reviver alegre e diariamente pelas redes sociais sob uma forma de paixão incompreensível que atinge as raias da paranóia psicótica.
PS: Obvio que cada pessoa tem a liberdade de reviver com saudade ou esquecer com mágoas, tudo aquilo que desejar, é uma prerrogativa e privilégio que lhe assiste.
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