segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O RUGIR DO LEÃO

Atingi um escalão etário onde a idade, experiência, maturidade, senso comum e sentido de responsabilidade pelos meus compromissos assumidos aliados á minha forma lógica, racional, prática, analítica, liberal e clarividente de pensar quando obrigadas a serem equacionadas, façam com que, em todas as circunstâncias da minha vida, a razão se imponha sempre a qualquer tentativa revolucionária que o meu coração intente contra a lei, ordem, método e disciplina que impera na minha mente bem estruturada para lidar com qualquer eventualidade que possa surgir, seja ela de que âmbito for. Esta racionalidade e frieza objectiva contribuem para que eu viva o meu dia a dia de uma forma adequada ás exigências e aos desafios que o quotidiano me propõe sem que me afaste perigosamente do meu plano e programação inicial que mensalmente estruturo no inicio de cada mês. Deixei de me preocupar com planeamentos a longo prazo pois tenho consciência de que a minha vida vai encurtando mais rapidamente desde que atingi este ano, a provecta idade de 65 anos. Os dias e as horas começaram-me a parecer mais curtas enquanto que o amontoado de sonhos e objectivos que ainda me proponho cumprir aumenta exponencialmente e inversamente ao tempo que me resta para viver. Nesta altura apenas procuro continuar a ser coerente e consistente com os meus valores e princípios os quais sempre intransigentemente defendi desde que me conheço. Quando aos 60 anos decidi terminar com a minha vida errática de “playboy”, readquiri uma estabilidade física, emocional e mental que me tem permitido viver dentro de parâmetros ascéticos de misantropia extremada com alguma misoginia. Apesar das idade penso que continuo a ser um homem de paixões que necessita de impactos e estímulos de vária ordem, quer físicos quer mentais, pois só dessa maneira poderei continuar a manter o equilíbrio que preciso para manter a estabilidade emocional e psíquica que tanto prezo e defendo. O decréscimo de apetite sexual, mercê da idade e da intensidade com que satisfiz no passado todos os meus apetites libidinosos, tem de certo modo contribuído para que as mulheres deixassem de ter um aspecto preponderante na minha vida. Deixei de ter que reafirmar ás mulheres com quem partilhei períodos da minha vida que os meus estados amorosos continuavam latentes assim como a minha fidelidade sexual. Desde há já algum tempo, que tenho vindo a dedicar longos períodos de reflexão sobre a possibilidade de assumir novos compromissos amorosos O tempo inexoravelmente tudo corrói e tudo apaga sem que por vezes a grande maioria das pessoas se aperceba desse facto e quando se apercebem disso, por vezes já é tarde demais para que as coisas possam ser alteradas ou rectificadas. Pessoalmente sinto que estou a atravessar um momento em que me sinto imbuído de sentimentos contraditórios no que respeita á minha forma comportamental e, isso desgosta-me profundamente. Tenho muito honesta e sinceramente confessar, que de quando em vez, sinto o desejo ou a necessidade de contemplar a possibilidade de encontros pontuais de carácter sexual. Não estou divorciado dessa eventualidade se a oportunidade surgir desde a pessoa em questão me agrade em várias vertentes e que a considere apetecível. Como é óbvio, não abdico da tolerância e do risco zero no que respeita a que todas as precauções sejam levadas em linha de conta e estritamente observadas por ambos os parceiros. Várias razões me têm mantido afastado da possibilidade de encontros casuais onde o sexo seja o prato principal da ementa. Já banalizei o sexo em demasia, assim como, usei e abusei da sua gratuidade em detrimento da qualidade. Sinto-me a viver numa situação de corda bamba, dividido entre o forte desejo de contrariar a minha consciência que me alerta constantemente para o elevado risco que poderei incorrer ao cair numa situação comum e a de me manter inviolável aos chamamentos da carne e do sexo. Se eventualmente o fizesse, iria certamente contribuir para macular definitivamente a minha imagem que tenho muito laboriosamente vindo a construir ao longo dos últimos cinco anos. Esta batalha que se trava dentro de mim entre as Deusas afrodisíacas do Olimpo e os Titãs terrenos tem sido devastadora, e, algo terá que ser feito muito rapidamente para que estes duelos não venham a ter um desfecho inesperado. Eu sei e sinto, que os meus instintos predatórios tenham estado adormecidos há uns anos numa inércia contemplativa por mim desejada. Nunca coercivamente me impus a esse sacrifício, pois o acordo tácito existente entre as duas cabeças foi conseguido de comum acordo e de forma pacifica. Ambas têm estado em sintonia com o estilo de vida que decidi adoptar a fim de que a minha estabilidade emocional não viesse a ser afectada por caprichos, vaidades, egos ou desejos pontuais onde tivesse a necessidade de mostrar ou provar a minha masculinidade, virilidade ou capacidade seductiva perante o sexo oposto. Nesta altura comecei de novo a sentir o Leão a rugir dentro das minhas entranhas com alguma ferocidade e desejo de voltar a caçar. Esse sintoma é sinal de que algo se está a manifestar negativamente e que precisa de ser controlado e reprimido o mais rapidamente possível. Esta percepção assusta-me na medida que não sei por quanto tempo mais conseguirei resistir a esta chamada que se faz sentir cada vez mais premente dentro das minhas visceras. A vida está permanentemente em mutação e as pessoas têm que fazer os ajustamentos necessários para acompanharem essas mudanças evolutivas que por vezes a vida nos propõe, e outras nos impõe, as quais se não forem perceptíveis ao nosso entendimento, nos podem condicionar, ou mesmo ultrapassar, e, depois ficaremos confrontados apenas com factos consumados. Este meu grito de alerta, tem unicamente a finalidade de me acordar, despertar e alertar a mim próprio, afim de que possa em tempo útil, accionar todos os mecanismos de defesa ao meu alcance, evitando que a pequena bolinha de neve que se está formando dentro de mim, comece a rolar montanha abaixo, tornando-se numa avalanche a qual me poderá soterrar com consequências imprevisíveis. Nesta altura sinto-me como um cartomante que acabou de lançar as cartas do Tarot a si próprio, fazendo a leitura das mesmas as quais alegoricamente me predizem o futuro. Devo confessar que não só a leitura não me agrada como vejo nuvens escuras de borrasca a formarem-se no horizonte da minha vida e isso deixa-me algo intranquilo, transtornado e receoso quanto ao futuro que se avizinha. Nada na vida permanece estático, e, isso obviamente vai alterando a forma vivencial das pessoas querem individualmente, quer coletivamente ou em relacionamentos bilaterais o que implica que tenhamos de convocar as nossas as consciências periodicamente para consulta e reflexão profunda. Este sistema tem a finalidade de constatar se as nossas vidas, estão a ficar contaminadas, afectadas, pressurizadas pelos ritmos, solicitações, desafios ou encorajamentos a que somos diariamente submetidos de uma forma directa ou indirecta pelos outros actores que a vida põe no nosso percurso como figurantes, mas que poderão afectar os nossos relacionamentos pessoais se os nossos sistemas imunitários estiverem debilitados. Estou indubitavelmente a atravessar um período difícil, contudo mantenho os meus deveres, responsabilidades e obrigações bem focados e nítidos na minha mente, mas por outro lado a vontade de os ignorar começam a criar contornos cada vez mais visíveis que igualmente não posso deixar passar despercebidos. Não estou ainda nesta altura a fazer nada de reprovável ou criticável do qual a minha consciência me possa acusar, contudo sentindo-me vulnerável ao pecado nada me garante que algo não possa acontecer pois a ocasião faz o ladrão. Por vezes as coisas acontecem sem mesmo que nós directa ou voluntariamente tenhamos contribuído para despoletar essa situação. Começo a sentir que a minha vulnerabilidade está sensível e receptiva a que me roubem, e se tal acontecer não me parece que me queixe á policia lamentado o facto ou denunciando o infractor. Também sei, que se algo de pontual vier a acontecer, que isso não afectará as minhas estruturas ou convicções pessoais mas seria certamente uma tremenda desilusão e nódoa na confiança e credibilidade que ganhei e conquistei ao meu outro Eu que deixei ficar pelo caminho derrotado quando decidi alterar a minha postura perante a vida há anos atrás. Infelizmente a vida não olha a meios para atingir os seus fins e independentemente de as pessoas serem espíritos fortes, fracos, permissíveis ou mais coriáceos ela, a todos lança desafios e tentações, prepara armadilhas com iscos apetitosos com o intuito de nos desviar ou desconcentrar da nossa linha programática, que temos em mente para alcançar ou preservar como princípios básicos e intocáveis. Por vezes não é fácil resistir para que ignoremos ou deixemos passar em vão essas oportunidades que quase nos são concedidas de mão beijada. Na vida, há os que procuram e os que são procurados, os que escolhem e os que são escolhidos, e, muito embora por vezes até estejamos satisfeitos com as escolhas que fizemos, existem momentos e ocasiões de maior fraqueza emocional e carnal, que podem ser aproveitados para nos enfraquecer, caso a vida desconfie ou tenha a percepção que estamos a atravessar momentos susceptíveis de podermos ser facilmente aliciados e que pouca luta ou resistência ofereceremos quando encorajados a ceder. Ninguém é perfeito ou está imune ao pecado original, mesmo até quando não existem razões ponderosas ou de fundo para o fazer. É certo, que uniões sejam elas de que teor forem nunca terão a garantia da eternidade, e, na vida, de certezas absolutas só teremos a morte que nos espera desde que vimos a luz do dia. Essa, é a única que nunca nos desapontará, deixando de cumprir a sua missão na data aprazada por ela escolhida, sem que nos faça alguma consulta prévia para saber se estamos ou não preparados para a receber. Eu nunca pretendi ser ídolo, santo ou um modelo a seguir devido ás opções de vida que fiz e á filosofia que sigo, mas também não me sinto tão malévolo ou desprovido de sentimentos que me atreva a vestir qualquer outra pele apenas para satisfazer terceiros. Como qualquer outro ser humano tenho defeitos e virtudes, tenho a noção precisa daquilo que fui no passado e sei o que sou hoje como pessoa. Percorri uma enorme distância na persecução de um equilíbrio que necessitava alcançar e de um estilo de vida que pretendia que nada de similar tivesse com o meu passado. Penso ter conseguido esse objectivo, não porque tivesse que reprimir ou acorrentar os meus desejos e impulsos, mas porque senti ser essa a vontade do meu coração. Não tenho o direito nem pretendo voltar a fazer a vida num inferno à pessoa ou ás pessoas que comigo ainda possam vir a partilhar amores, paixões, intimidades ou amizades como o fiz no passado. Também não desejo que nesta altura depois de já ter percorrido 2/3 da minha vida que jogue o restante que tenho para viver numa qualquer aventura inconsequente devido a qualquer capricho momentâneo. Não estou preparado para deitar no lixo todo o capital que tenho vindo a investir ao longo destes últimos 5 anos na reconstrução deste novo EU em que me encontro encarnado. Uns minutos ou horas de prazer efémero, podem deitar por terra e destruir o relacionamento gratificante em que vivo nesta altura comigo próprio e com o mundo que me rodeia. É verdade que os sentimentos que nutrimos por terceiros aquecem ou arrefecem consoante são tratados, alimentados, acarinhados, ignorados ou desprezados. Os afectos são a prova de toque em qualquer relacionamento quando este não está exclusivamente centrado na parte física ou sexual. Presentemente devido à minha idade e ao estilo de vida que adoptei, este, está muito mais focado nos afectos, partilha, amizade e amor, do que propriamente na vertente sexual ou paixão temporal assolapada. Estas, muito dificilmente resistem ao tempo ou ao envelhecimento natural das pessoas ou na perda gradual das suas capacidades quer físicas quer mentais. Este lavar de alma e de introspecção era necessário ser feito, enquanto ainda sinto a clarividência necessária para o fazer, dissecando aqui a minha mente e o meu coração. De momento não sinto que me tenha de penitenciar por algo que tenha feito ou confessar pecados que não cometi. Contudo o espectro da traição aos novos valores que adoptei, contínua pairando sobre a minha cabeça sem que eu o consiga afastar para áreas mais remotas. Vilamoura 25-10-2007

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