segunda-feira, 29 de setembro de 2014

OS TUBARÕES

INTRODUÇÃO Este texto essencialmente politico, foi publicado no dia 2-11-1982 em Johannesburg, e publicado no Boletim mensal pela nossa sede do PSD (Partido Social Democrata) fazendo eu ao tempo parte da sua Comissão Politica e ter a meu cargo a feitura do Boletim Mensal. Este texto escrito metaforicamente tinha por alvo atingir os Caciques endinheirados que lideravam a Comunidade Portuguesa e que ganhavam fortunas com os seus negócios escuros e ilegais, particularmente no negócio de diamantes e a troca de dinheiro, Randes por Escudos. Este artigo causou na altura grande desconforto e foi bastante comentado mesmo ao nível de Embaixador em Cape Town, Consulado em Johannesburg e pelo Jornal Século de Johannesburg o qual também pertencia a um dos nossos compatriotas Portugueses, que quase puseram a cabeça do autor a prémio. O texto que vão ler não é mais do que um grito de revolta e um alerta para que todos os peixes da nossa comunidade marítima se apercebam dos efeitos predatórios desta classe privilegiada de carnívoros que não honram nem dignificam os nossos pacíficos mares locais. E, explicada a razão do artigo vamos analisar mais detalhada e profundamente os TUBARÕES referidos. São estes grandes apreciadores de carne humana sobejamente conhecidos, não só pelos danos que causam nas faunas marítimas em que vivem, mas ainda por se tornarem duplamente perigosos quando navegam em águas turvas, e ainda porque quando a presa do perigo, a grande maioria das vezes já é demasiado tarde. Estão cientificamente catalogados em várias espécies conforme o tamanho, configuração, cor e agressividade. Não sendo infelizmente uma espécie rara, nem á beira da extinção (o que francamente é pena), vamos por isso perder um pouco mais do nosso precioso tempo a falar deles, das suas manhas, hábitos, reacções, modus vivendi, subtileza, poder de persuasão e a facilidade de adaptação a outros marres e oceanos se a necessidade e as circunstâncias a isso os obrigar. Das dezenas de variedades de tubarões, duas ou três espécies são vulgares nas nossas aguas territoriais. São normalmente de grande porte, tens focinhos patibulares, mentalidades rústicas, são bastante vorazes no ataque aos outros peixes de menor porte. No capítulo defensivo, são extraordinariamente eficazes, e quando ameaçados, solidarizam-se em cardume protegendo-se mutuamente até o perigo passar. Quanto á cor não a têm bem definida pois ela depende do ângulo refractário de exposição e da profundidade da água em que navegam. São discretos a navegar, e não gostam muito de o fazer á superfície com receio de serem notados e o alarme dado. Vivem por largos anos, só falecendo de morte natural. Quando adoecem, quer por espinhas atravessadas na garganta, ataques de coração ou para se libertarem dos enormes anzóis que consigo levam agarrados na boca, são levados para as melhores clínicas particulares submarinas no norte subúrbio do oceano onde são assistidos pelos melhores cirurgiões ou especialistas desta peixaria local. Têm estes certa tendência natural para engordar, não em consequência do muito trabalho que desenvolvem mas sim dos opíparos banquetes que fazem. A sua sobrevivência está antecipadamente assegurada, pois se não são comidos pelos de maior envergadura durante os primeiros anos de sua existência, ao atingirem o tamanho adulto, estão de imediato livres de perigo de poderem ser devorados pois tornam-se demasiado incómodos pela indigestão que podem causar ao comilão. Navegam estes a grande velocidade, o que lhes permite cruzar os oceanos com grande rapidez quase que com uma periocidade mensal. Nestas deslocações migratórias para outros oceanos e longínquas paragens, mostram estes tubarões, mostram estes tubarões uma certa preferência pelas costas das ilhas insulares dos Açores e da Madeira mas também visita o Continente. As razões que os levam para estas orlas marítimas são de vária natureza: rever tubarões amigos, matar saudades desses mares queridos onde passaram a sua infância, ou ainda para acompanharem a evolução da construção dos seus palacetes na Atlântida na eventualidade de terem que regressar de urgência aos mares natais. Estes grandes tubarões que quando pequenos se deslocaram com os seus pais para águas Sul-africanas, fizeram-no pela simples razão de aqui haver muito maior abundância de pescado o que lhes permitiu engordar depressa atingindo o estatuto de intocáveis. Aqui não gostam muito de investir preferindo alugar boas mansões aquáticas junto á orla marítima. Periodicamente dão faustosos banquetes, ora para festejarem o nascimento de mais um tubarãozinho, o casamento de uma tubaroa, um chorudo negócio ou a inauguração de mais um aquário. Para que essa comemoração tenha o brilho necessário são convidados os peixes mais proeminentes da comunidade pescicola, não só para que se escamem de inveja, como para lhes demonstrar que estes não têm a capacidade de navegar nas mesmas águas. Nestes dois nossos oceanos o Atlântico e o Indico, estes tubarões causam danos irreparáveis, sendo apenas respeitados e badalados pela enorme quantidade de peixe pequeno que digerem ou que conseguem aprisionar nos seus aquários e oceanários privados. Uma vez encarcerados nestes recintos, são deficientemente alimentados com a quantidade de peixe miúdo minimamente exigida para sobreviverem, pois estes locais não passam de coutadas particulares onde estes têm que trabalhar de sol a sol como escravos e terminantemente proibidos de divulgarem os métodos de trabalho dos seus carcereiros. Muito esporadicamente, são estes tubarões pescados, quer por amadores quer por profissionais. Quando o são por chernes profissionais, são de imediato postos em “aquários” gradeados por determinado período de tempo para que sejam observados por veterinários experientes Quando pescados são pesados, fotografados e medidos por barracudas treinadas e mais tarde devolvidos aos oceanos se ficar provada a sua inocência. Existem outros, que quando ilegalmente são apanhados pela Guarda Costeira e sem licença para navegarem em águas territoriais, acabam por ser coercivamente expatriados para os seus oceanos de origem. Muito embora as autoridades instalem redes metálicas junto ás praias para protecção dos cidadãos estas são furadas e os incautos abocanhados pelos dentes aguçados destes comilões. Não sendo frequente já assistimos contudo á tentativa bem sucedida de pescadores amadores ousarem pescar alguns tubarões de grande envergadura. Quando isto acontece o espécimen é exibido na praça pública para gáudio do pargo que o pescou e este como herói levado em ombros por todas as sardinhas e carapaus. Só é pena que estes amadores não possuam material moderno e adequado pois em inúmeras ocasiões, estes mordem a isca, mas depois de alguma luta acabam por fugir impunes. Contudo o susto por vezes é tão grande quando contam o facto ás suas tubaronas estas com o susto desovam prematuramente levando o casal a ausentar-se temporária ou definitivamente para outros mares de águas mais calmas mais turva e menos policiadas pelos chernes atentos. Por vezes sucede o contrário, enraivecidos e enfurecidos pela tentativa gorada de serem ferrados, encolerizam-se e atacam a embarcação, até que o pescador amedrontado se decida a navegar para outras paragens, pois os cações a soldo do tubarão jamais o deixarão em descanso e, em último recurso contratam um safio negro para o arpoar, tirando-lhe as escamas e, depois vísceras. A grande maioria destes tubarões gozam não só de uma certa respeitabilidade como impunidade dentro da comunidade peixeira, sendo quase que diariamente procurados ou assediados pelos outros peixes para propostas de investimento, empréstimos e outros negócios feitos em fossas abissais escuras. Noutras ocasiões são contratados para ajudar tubarões mais pequenos a salvar os tesouros destes que se encontram escondidos no fundo dos oceanos ou nos porões de galeões e caravelas naufragadas, afim de os transferirem para as zonas marítimas das ilhas Caimão ou Bahamas. De quando em vez, são estes nossos mares visitados por grandes cetáceos vindos de outras paragens em visitas oficiais ou particulares. Como estes são enormes e importantes não convém serem irritados, pois de uma dentada só comem qualquer tubarão sem se engasgarem. Apercebendo-se desta facto os nosso tubarões locais de imediato se reúnem afim de em conjunto delinearem o programa e a agenda das visitas oficiais e particulares que comportam almoçaradas na marisqueira, onde no menu constam lagostas, santolas, gambas, caranguejos, e outros divertimentos sociais. Quando estes chegam aos nossos mares transportados por enormes peixes voadores são de imediato levados para a sala “PMI” (peixes muito importantes), cabendo á fauna local arvorarem-se em lídimos representantes desta peixaria que automaticamente lhes outorga o direito de se tornarem os anfitriões destes mares. Alguns deles até se disfarçam de inofensivos golfinhos para que com a sua capa de candura impressionem os recém chegados como se pertencessem a outra classe de peixes. Como os incautos cetáceos desconhecem por completo os perigos destes mares, muito naturalmente dentro da sua boa fé, deixam-se ingenuamente cair na cilada que ardilosamente lhes foi preparara pelo comité tubanífero. Nas reuniões que se seguem no clube das marmotas, onde apenas os peixes graúdos podem entrar e na Academia do Bacalhau, são aqui cozinhadas grandes caldeiradas que os visitantes degustam com prazer. Ficam habitualmente instalados nas mansões dos tubarões mais abastados, onde são obsequiados gastronomicamente com os melhores e mais deliciosos crustáceos que não abundam nos mares de onde estes cetáceos são oriundos, e, que são pagos em milhares de bivalves que não estão ao alcance de todas as bolsas. Enquanto os ilustres visitantes se encontram navegam nas águas dos seus anfitriões, nada lhes falta, e todas as facilidades lhes são proporcionadas afim de lhes tornar a estadia o mais agradável possível. Faz parte do programa, uma visita uma visita ao lar dos velhos peixes, á entrega do búzio gigante ao vencedor do desafio de futemar entre os lagostins de Moçambique e os santolas de Angola, terminando finalmente a visita com um grande jantar para toda a comunidade peixeira no restaurante Tamboril. Durante as deslocações são os ilustres visitantes nadados no topo de gigantescas tartarugas com horas de Neptuno acompanhados por sereias escolhidas a dedo para seus cicerones. O programa da noite é levar os convidados ao casino MarCity para verem o famoso show das corvinas malabaristas e o “strip teese” dos pescados do Cabo. Quando na hora do regresso aos mares de origem, vários pedidos, favores e cunhas são feitos a estes cetáceos para que desbloqueiam situações que emperram alguns projectos que estes tubarões locais precisam de resolver nos seus mares locais. Finalmente na hora da despedida quando se cruzam as barbatanas entre todos é de boa norma oferecer algumas prendas que imortalizem a visita e que poderão ser estrelas-do-mar, dentes de baleia trabalhados ou cabeças de orca embalsamadas. Pois bem caros peixetriotas, já é tempo de abrir-mos os olhos, arregaçarmos as escamas e frontalmente lutarmos contra esta situação tão perigosa para a vida dos nossos mares. Vamos unir as barbatanas e mostrar que não nos sentimos amedrontados com o tamanho destes tubarões e que não temos receio de por eles sermos comidos. Hoje somos poucos, mas os cardumes aumentam de dia para dia nesta luta que unidos venceremos por um ideal que se chama Social-Democracia.

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