quinta-feira, 21 de abril de 2011

O SENHOR FEUDAL

                                                                                               

De quando em vez recebo petições dos meus súbditos as quais invariavelmente atendo dependendo da minha disponibilidade da altura. Estou usualmente imbuído de um sentimento de magnanimidade, condescendência e algum filantropismo altruístico, por isso tenho por hábito conceder algumas benesses caritativas aos mais carenciados e desprotegidos da vida sem lhes exigir contrapartidas, ou de servir de Juiz em diferendos entre eles, repondo a verdade e administrando a justiça com equidade, punindo os culpados ou indemnizando os queixosos. Neste enquadramento, costumo conceder audiências privadas, afim de que os meus vassalos possam manifestar o seu contentamento, prazer e alegria de me ter como sua entidade protectora, e de adoração monoteísta, ou de se manifestarem livremente em relação a abusos, violências ou corrupção de que se sintam alvos por aqueles em que delego o cumprimento das minhas directivas. Apesar do meu liberalismo social nunca me atrevi a privilegiar as classes corporativistas, mas também não advogo a miscigenação étnica entre a plebe e a aristocracia, pois são elementos que não se absorvem por osmose, e tal como o azeite e vinagre, em que o mais denso fica por cima, o mesmo princípio se aplica aos aristocratas que devido á sua linhagem não podem nem dever misturar o seu sangue, esperma ou intimidades com outras castas de qualidade inferior. Penso que sou um brasonado, fraterno, solidário e igualitário, e com um enorme sentido de justiça que exerço em relação aos meus súbditos, do que outros grandes latifundiários que conheço Tive o condão de lhes consegui ganhar merecidamente o seu respeito e admiração sem ter que lhes exigir coercivamente esse reconhecimento tácito pelo excesso de autoridade ou disciplinar. Existe certamente muita coisa na vida que terei de aprender, mas qualquer homem do meu calibre e com o vasto conhecimento da vida como eu já tenho nesta fase etária que presentemente atravesso, estarei muito mais perto da verdade e do equilíbrio, o que me leva a minimizar o coeficiente de erro, e a maximizar as decisões acertadas. A minha massa cinzenta está permanentemente pronta para absorver, digerir e arrumar a informação, impactos que vou recebendo do mundo que me rodeia, só que tristemente 90% dela é lixo que reciclo de imediato. Eu sei qual é o valor acrescentado que tenho em relação á concorrência e isso garante-me quer á partida como á chegada que estarei sempre a disputar os primeiro lugares, no pelotão da frente, e quanto ao ósculo que normalmente se dá ao vencedores, prefiro o húmido e molhado ao seco e repenicado.
Há longos anos que deixei de fazer “consultas ao domicílio”, hoje em dia quem quiser consultar o melhor especialista sobre determinadas patologias tais como: sexualidade, fantasias eróticas, amor, paixão, divórcio, ruptura sentimental, que são sintomatologias que requerem tratamento pessoal e profissionalizado terá que se deslocar ao meu castelo. Esses exames necessitam de ser feitos com privacidade, música de fundo a condizer e uns drinkes para relaxar. Hoje em dia as pessoas parecem viver desencontradas num egoísmo solitário, vivendo somente para si próprias e não deixando nenhuma fluorescência como rasto, o qual na grande maioria das vezes é somente reconhecido pelo odor execrável de perfume barato no qual parecem ter tomado banho. O meu carisma, Karma ou Halo sempre atraíram como força centrípeta e magnética as pessoas para o meu hemisfério, fui sempre procurado em vez de procurar e sempre escolhi em vez de escolhido, fui mais desejado do que desejei, e recebi mais do que dei e esse desequilíbrio foram determinante para a mudança e reestruturação que decidi fazer na minha postura perante a vida, pois de outro modo jamais conseguiria manter um relacionamento duradoiro. A minha imagem vende mais do que mil ensaios literários ortograficamente bem escritos e estruturados, usando para esse efeito um léxico rebuscado, com uma mensagem apelativa que possa escrever. Tanto homens como mulheres coexistem neste mercado mundial da carne (não para canhão, mas para satisfazer a tesão), e, eu, há já muito tempo que deixei de nele investir e de sair de casa para caçar, e de frequentar os bebedouros nocturno habituais da caça. (discotecas e pubs) E, em vez da caçar de noite comodamente instalado num jeep colocando o holofote nos olhos das presas para as encandear o que não permite que o animal de defenda, passei a caçar a pé em longas e extenuantes jornadas, afim de, apenas abater somente animais de porte imponente que me garantissem a possibilidade de um troféu candidato a recorde, dando ao mesmo tempo hipótese ao animal visado que fuja ou invista consoante o seu temperamento.
Toda e qualquer mulher que venha a despontar no prosseguimento da minha caminhada, e, como animal qualificado que se enquadra nos meus critérios, terão que se esconder e disfarçar afim de que um dia não venham a ficar empalhada na parede da minha sala como troféu onde inevitavelmente se transformarão numa possível história para contar a amigos à roda da lareira numa noite de um Inverno qualquer, saboreando um belo armangnac ou whisky velho. Entretanto até que algo aconteça na minha vida, vou aguardando com paciência oriental a movimentações e trasumância no meu tabuleiro deste xadrez antecipando o meu próximo lance, afim, de dar xeque-mate, caso a peça de caça assim o justifique.


20-2-1996

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