sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

EU A RELIGIÃO E O MUNDO

Desde os finais dos anos 70 quando tentei baptizar a minha filha numa igreja Católica e o padre me disse que á face dessa mesma religião eu vivia em mancebia por não ter casado pela igreja e que por essa razão, não podia baptizar a minha filha. A partir desse dia cortei relações com o catolicismo, deus, demónio, paraíso, purgatório, inferno, santos, santas e beatos. Toda esta pandilha ficou irrevogavelmente afastada do meu dicionário ou de quaisquer futuras práticas religiosas. Contudo esse nefasto acontecimento, foi para mim um despertar da minha consciência, e um alerta de que alguma coisa corria mal no "Reino da Dinamarca". Comecei a abrir livros e a estudar minuciosamente o assunto sobre vertentes diferentes e até aos dias de hoje ainda não parei. Durante os anos seguintes a esse evento aberrativo, fui-me mantendo coberto pelo manto diáfano do humanismo e agnosticismo, sem assumir uma posição visceral e definitiva em relação ás minhas posições religiosas, ou seja, optei por me manter na zona cinzenta das minhas indefinidas convicções, até me sentir melhor preparado para tomar uma decisão final. Quanto mais fui lendo e educando-me sobre religiões, depressa conclui que a necessidade de Deuses nas nossas vidas não era nenhuma, uma vez que a sua existência foi criada pela própria humanidade e forjada pelos patriarcas quando escreveram o Velho Testamento. Deuses são conceitos frágeis que podem ser derrubados ou mesmo mortos com uma baforada de ciência, ou uma boa dose de senso comum. As pessoas vão á igreja pelo mesmo motivo que os homens vão á taberna ou ao futebol, as mulheres á cabeleireira, ou ás boutiques, fazem-no por hábito, ou então para se esquecerem da sua miséria, durante os 60m que dura a missa, imaginando de algum modo que são livres e felizes ou que têm a salvação garantida. Com o decorrer dos tempos fui reflectindo, maturando as minhas constatações e obviamente o caminho mais indicado foi o de me tornar ímpio, rendendo-me incondicionalmente á apostasia. A minha demanda por respostas para as minhas interrogações crescia de dia para dia, obrigando-me a longas horas de leituras sobre o tema em epígrafe, na tentativa de encontrar respostas lógicas e plausíveis que fizessem sentido ao meu senso comum. Devo confessar que a minha racionalidade analítica sofreu grandes convulsões, pois separar o trigo do joio não é tarefa fácil, para além do imenso lixo tóxico imanado da teologia religiosa que tenta subliminarmente formatar as mentes numa fé retrógrada, obsoleta e incontestada, as quais não satisfazem mentes inteligentes e irrequietas que muito dificilmente se deixam manietar na teia viscosa tecida pelas ideologias religiosas ou a dos seus formadores. A minha sede pelo enriquecimento da mente na procura de outros caminhos e filosofias de vida, levaram-me a trilhar novos percursos de leitura totalmente desconhecidos, ler filósofos e pensadores que desbravaram o inicio do movimento cultural da elite intelectual europeia denominado Iluminismo no século XVIII, que teve como pioneiro Baruch Spinoza. Este movimento procurou mobilizar o poder da razão, afim de reformar a sociedade, procurando debater as nossas origens e o papel que nos cabe desempenhar no mundo. Todo este conhecimento que fui armazenando ao longo dos anos, tem sido adquirido na leitura dos livros sagrados onde se congregam as maiores religiões do mundo, bem como nas teses cientificas evolucionistas, nas filosofias teístas, deístas e panteístas. As minhas leituras sobre o Monoteísmo, Politeísmo e Henoteismo, têm sido fundamentais para limparem da minha mente o nevoeiro que dentro dela existia. Precisei de faróis de nevoeiro para dissipar toda essa neblina que me toldava a mente e obstruía a visão. Finalmente depois de muito reflectir, acabei por encontrar no ateísmo, o caminho da minha verdade, a paz com a minha consciência e a estabilidade espiritual que me levou anos a conseguir definir qual era a minha zona de conforto quanto ao apaziguamento do meu espírito. Agora sei o que quero, para onde vou, e com quem não quero ir. Nesta viagem que estou fazendo pela vida não preciso de deuses que me acompanhem, como sei o meu caminho desejo ir sozinho até ao dia da minha cremação. Idolatro e venero a minha consciência como entidade máxima, a qual julga, controla e sugere quer os caminhos a seguir, ou os actos praticados. Confesso que não vejo onde exista a diferença entre fé ou crença. Se eu sigo determinada religião é porque tenho fé nela. No entanto se eu semanalmente visitar o meu astrólogo, vidente, ou a pessoa que me lança as cartas ou búzios e seguir as suas indicações, também demonstro a minha fé nessas predições. A mente humana é sistema neurológico muito complicado, o qual é facilmente susceptível de entrar em ruptura ou desequilíbrios quer por falta de oxigénio, drogas, religião ou sexo. Perdi completamente o decoro religioso pela convicção que tenho da não evidência da existência de deuses, nem da vida para além da morte, portanto e sinto-me no direito de blasfemar e de afirmar que vejo nos Papas dinossauros medievais e intolerantes, que o Espírito Santo é um personagem ridículo de qualquer história de quadradinhos digno de risadas e escárnio. Acuso o Deus Cristão e o Deus do Islão de assassinos convictos por permitirem limpezas étnicas que têm sido feitas ao longo dos tempos, de guerras religiosas que têm morto milhões de pessoas, pestes, inquisição etc. Condeno e vilipendio essas divindades míticas por encorajar o preconceito racial e religioso e de incentivar á degradação da mulher quer nos textos bíblicos ou do Corão. Estou enjoado e enojado de todas as religiões. A religião dividiu as pessoas. Não vejo qualquer diferença entre um padreco a dizer missa na sua igreja ou um indígena da Nova Guiné ou de qualquer país Africano a rezar ao teu Totem esculpido em pedra ou madeira. Ambos vivem as suas verdades e a fé devota nos seus deuses, portanto não vejo nenhuma razão para que um Deus Cristão deva ser mais verdadeiro do que qualquer dos outros. Quando os descobridores marítimos andaram por outras terras levavam os seus missionários para converterem os autóctones, muitos deles politeístas, mas mesmo que o fossem tinham o direito de manterem os seus Deuses e não de os renegarem a favor dos deuses dos conquistadores. A ciência está aberta á crítica o que é oposto ás religiões. A ciência partilha do conhecimento e das suas descobertas, implora para que alguém prove que ela está errada. A religião pelo contrário vive num hermetismo, cheio de tabus e mistérios e não aceita quem questione os seus princípios. A fé não se discute, aceita-se, cala-se, consente-se sem retorquires, porque se o fizeres arriscas-te a ser excomungado ou afastado do rebanho por clandestino, infiltrado ou sabotador. Se as pessoas são boas só para esperarem recompensas divinas ou por temerem o castigo e as represálias de Deus, então á humanidade religiosa é mesmo um grupo de seres bem desprezível. Quando olho para as igrejas como já vi muitas com pára-raios no cimo dos seus campanários rio-me com gosto, pela pouca ou nenhuma fé que têm no seu Deus, e o mais hilariante é que têm que recorrer á invenção da ciência de Benjamim Franklin para se protegerem dos raios que Deus envia para a terra nos dias que está mal disposto. E se fazem isso é porque têm mais confiança em Franklin do que no seu Deus. As religiões apregoam conformismo e resignação, dar a face depois de teres levado a primeira bofetada e encorajares o agressor a dar-te a segunda sem reagires á primeira. As religiões reflectem o grau de ingenuidade, conhecimento, instrução em que se encontra o mundo. Se quisermos libertar a humanidade das suas ilusões religiosas, precisamos de mudar o mundo que tornou necessárias essas mesmas ilusões. Não adianta combater o efeito sem modificar a causa. 26-9-2013

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