segunda-feira, 29 de setembro de 2014

2005

Depois de termos passado estas recentes efemérides um novo livro branco se abre à nossa frente com o titulo de 2005, que se encontra preparado para que nele possamos escrever as passagens mais relevantes das nossas vidas que merecem fazer parte do nosso memorial, durante o decurso deste ano. Após uma inventariação do ano transacto temos que rectificar posicionamentos e ser ainda mais objectivos nas nossas avaliações, pois delas depende minimizarmos ou maximizarmos o coeficiente de erro que nos pode facilmente levar do sucesso ao insucesso, quando nos propomos aceitar tarefas ou desafios sejam eles de carácter pessoal ou profissional. Este é o momento indicado para tomarmos novas resoluções, rectificar procedimentos, estabelecer objectivos de curto, médio e longo prazo, planeando prévia e cuidadosamente de uma forma organizada qual a postura que pretendemos ter perante a vida, qual o tipo de gestão que iremos escolher, não deixando de incluir planos alternativos e de contingência na eventualidade de aqueles que inicialmente escolhemos para optimizarmos falharem. A vida não permite improvisos nem remendos de última hora, não pára nem espera pelos atrasados. Nada deve ser deixado ao acaso, pois a vida é como um jogo, cada movimento que fazemos, cada decisão que tomamos, terá sempre inevitavelmente repercussões, pois implica ganhar ou perder peças importantes, direitos conquistados, privilégios adquiridos. Se estamos bem financeiramente, fisicamente e mentalmente poderemos sempre negociar com a vida e com as oportunidades que ela nos oferece, numa posição vantajosa. Os nossos avanços ou recuos no tabuleiro da vida consoante as contingências e os desafios implicarão ao fim do dia que façamos uma avaliação criteriosa afim de monitorizar-mos os ganhos ou as percas. Depois dessa contabilização decidiremos se adicionamos mais valias ao nosso património ou se por outro o mesmo se desvalorizou, e, se em consequência desses factos, estamos melhor ou pior posicionados para a escalada ao topo em direcção ao sucesso ou se ouve uma regressão em relação ao ponto onde inicialmente nos encontrávamos. Não tenho por hábito entrar em debates pueris sobre o meu estilo ou forma como literariamente expresso os meus pontos de vista, sendo contudo através da mesma que me permito um tanto aleatoriamente avaliar o calibre dos meus interlocutores. Quanto ao meu nível cultural ou graus académicos, seria imodéstia da minha parte fazer alarde dos mesmos, pois podia ser apelidada de pedante, snobe ou elitista. A vida tal como a dor que tem que ser sentida tem que ser vivida, muito embora muitos por razões várias e preconceituosas ou de cobardia prefiram passar ao lado dela, preferindo viver a vida dos outros. Eu vivi e continuo a viver, uma vida fantástica, fascinante e prolificamente temperada com os condimentos e especiarias mais raros e exóticas que se possa imaginar, e, que indubitavelmente contribuíram para moldar com essas experiências a minha presente atitude perante a vida. Sou um homem vivido, que muito viu pelo mundo, que sabe o que quer, como obtê-lo, para onde vai, quando lá quer chegar e com quem quer ir. Sou disciplinado, objectivo, analítico, imprevisível, racional e com um “timing” perfeito. Assim como sempre tive três vidas: a pública, a privada e a secreta, também várias vivi em diferentes latitudes e longitudes do mundo, tendo deixado partes de mim em todas elas. Memórias todos temos boas e más, portanto como é obvio eu não seria uma excepção à regra, e em todos esses locais onde vivi deles trouxe memórias, umas que recordo com prazer e saudade, outras que prefiro fiquem sepultadas e cremadas nas masmorras da minha mente para todo o sempre. Apesar de tudo penso que guardei o melhor de mim para o fim, que vou compartilhando com quem quero, quando quero sem ter que sentir o peso da obrigatoriedade ou do dever. Durante todos esses anos em que “vagabundeei” pelo mundo vendendo a minha tecnologia e “knowhow” a peso de ouro, aconteceu que romanticamente me envolvi com várias pessoas por períodos de tempo que foram desde noites, dias, semanas, meses e anos. Algumas destas pessoas vinham de várias estradas e percursos de vida totalmente diferentes do meu, contudo isso não foi óbice para que eu sexualmente por elas me tivesse sentido atraído. Eram pessoas de raça e credo, idade, estatuto social e convicções díspares, mas todas elas passaram pelas minhas mãos, lábios, língua e sexo. Raramente concedi a alguém o privilégio de ser escolhido quer com quem dialogar ou fornicar. Em todos elas deixei marcas, cicatrizes, o meu veneno e o odor raro dos meus perfumes nas suas narinas e epidermes. Para algumas, apenas me limitei a atravessar-lhes a vida ou o caminho como meteorito incandescente e luminoso, que cruza o espaço na hora de ponta, com a única finalidade de as usar quer por capricho ou erotismo, e delas extrair o prazer que necessitava para alimentar o meu faminto e canibalesco libido, que como uma piranha as devorava fazendo-as ter orgasmos em tempo recorde. Vivi e construí alguns projectos de vida sólidos aliados a paixões, mas também os destruí de uma forma despudorada, quando entendi que era tempo de partir para outra história ou aventura mais excitante. Arrasei com castelos de areia, reduzi a pó realidades, arruinei com esperanças, defraudei expectativas e objectivos, adiei decisões cruciais, matei sem a mínima compaixão esperanças que em mim tinham sido depositadas. Abortei com óvulos indesejados, falsifiquei orgasmos que não senti, lancei e instilei o meu veneno sedutor nas veias de mulheres arrogantes e selvagens que domei com destreza e perícia até as tornar em gatinhos dóceis e inofensivos. Manipulei mentes, influenciei opiniões, evitei e torneei habilidosamente perguntas que implicavam respostas concretas e algo comprometedor. Fui idolatrado, amado até à loucura e tratado como alguns reis e príncipes nunca o foram. Fui apaparicado, louvado e recompensado pela generosidade humanística de algumas das pessoas com que a espaços cruzei a minha vida. Fui invejado e temido por homens e mulheres, respeitado, apunhalado e crucificado. Tive épocas da minha vida em que habitei no céu mas também fiz visitas esporádicas ao inferno, tive conferências com Deuses e com Diabos, e de entre os dois, o meu coração não pendeu para nenhum dos lados, por isso em relação a religião tenho convicções híbridas, e nada ortodoxas. Tive períodos em que adormeci com sonhos policromáticos e acordei com pesadelos, mas dos quais me libertei num ápice erradicando-os da minha mente, do meu coração ou do meu sexo, por ablação como se de cancros se tratassem. Tive ao longo da vida o privilégio de viver momentos de grande êxtase e exaltação quer mental quer sexual que sublimei e potenciei até ao máximo, quer através da meditação profunda e transcendental, quer na obtenção do erotismo e sensualidade libidinosa. Consegui que mulheres poderosas e inteligentes de rara beleza e sofisticação se rendessem incondicionalmente ao meu poder de as fazer levitar para o espaço cósmico e sideral do prazer e da luxúria. Como nenhum homem anteriormente as tinha conduzido a este tipo de paraíso, onde apenas viam anjos e ouviam musica celestial a sua rendição á minha pessoa era total. Conseguia embotar-lhes o cérebro através das sensações únicas que lhes proporcionava. Por vezes estupidamente pensavam, que este profissional artífice do prazer e da sedução com elas ficaria eternamente, quando eterna é apenas a morte. A vida contudo também é feita de momentos que não são apenas os da Gloria, pois essa eufemisticamente traduzida por felicidade não é perene, nem um meio de transporte continuo, mas sim uma estação entre tantas a que se chega o onde temos de descer pois o nosso bilhete não nos permite ir mais longe, pelo menos nesse comboio. A vida também é feita de agonia, dor, frustração, desilusão e desamores, e para nosso grande pesar a felicidade quando se a têm não pode ser congelada para voltar a ser descongelada quando a perdemos. Existem momentos nas nossas vidas de felicidade absoluta e total em que vários factores se congregam para que o “puzzle” da vida seja completado e as peças se ajustem na perfeição. Estamos com a idade certa, compartilhamos a nossa vida com a pessoa certa, no local certo, vivemos na casa que idealizamos no local com que tínhamos imaginado, temos os amigos certos, estamos profissionalmente satisfeitos e realizados, somos bem remunerados, guiamos o carro dos nossos sonhos, temos o cão de raça que adoramos, vestimos roupa de marca, circulamos socialmente nos locais certos e da moda quer ao nível do nosso burgo paroquial quer outras rotas turísticas internacionais mais atractivas e exóticas. A felicidade é como uma refeição única que cozinhamos, em que todos os ingredientes foram misturados na proporção certa. Se a tentarmos repetir mil vezes nunca mais o conseguimos fazer com o mesmo sabor. No entanto existem muitas pessoas, que mesmo ao come-la não se apercebem que estão em frente de uma iguaria gastronómica, que jamais poderá ser repetida e por isso não a deglutem ou saboreiam com o requinte com que a mesma deveria ser apreciada e vivida. Vivi relações tempestuosas, ciclónicas e vulcânicas, onde a paixão, o ciúme foram levados até ás últimas consequências devido à confrontação de personalidades fortes e antagónicas e essas misturas explosivas quer de êxtase ou de rebelião fizeram exsudar dos nossos corpos o melhor e o pior que tínhamos quer de odores afrodisíacos, ou de fragrâncias nauseabundas. Lentamente ao longo da vida tal como o vinho do Porto passei por várias fases de maturação afim de refinar o meu sabor. Hoje em dia, mediante os valores desta nossa sociedade e as solicitações diárias com que a vida nos confronta, torna-se uma luta titânica, conseguir manter uma relação pacífica, de confiança mútua, estável e harmónica, preservando-a da erosão do quotidiano. Isto, não é tarefa fácil, para a grande maioria dos casais, pois, psíquica e culturalmente a sua grande maioria encontra-se mentalmente incapaz de gerir as crises e conflitos dos seus relacionamentos emocionais. O passado das pessoas para aquelas que são inteligentes e capazes de tirarem ilações do mesmo, apenas é relevante para que com ele tenhamos aprendido algo que nos leve a minimizar o erro. Eu pessoalmente nunca me senti agrilhoada ao meu passado nem espero vir a estar algemada ao futuro, mesmo que essas algemas fossem de ouro cravejadas de diamantes ou de outras pedras preciosas. Se eventualmente por decisão exclusivamente minha, vier a decidir um dia entrar numa gaiola dourada exijo que a fechadura da mesma seja removida e a porta fique aberta. Há longos anos aprendi que os problemas entre casais não se resolvem na cama por muita compatibilidade sexual que exista entre os parceiros. Na grande maioria das vezes esta fórmula é aplicada e a paz temporariamente restabelecida, contudo o problema persiste e as decisões fulcrais apenas serão adiadas. Quando um dia ambos decidimos olhar de frente e tentar resolver definitivamente o problema pode acontecer que já tenhamos chegado á provecta idade de 40 ou 50 anos de idade. Nessa altura grande parte das nossas vidas e juventude já foi pelo cano de esgoto abaixo, sem que nunca estivéssemos sequer próximo de saber, cheirar ou tocar naquilo a que genericamente podemos chamar de felicidade. Ela existe, uma vez que nela tenho vivido permanentemente há longos anos, mas para que isso aconteça temos que estruturar uma filosofia de vida e de alerta permanente, accionando todos os mecanismos de defesa ao primeiro sinal de perigo que possa alterar o “status quo” por nós implantado. Relacionamentos afectivos precisam de constante debate e reflexão para avaliar com uma honesta e sincera atitude os problemas, mas acima de tudo geri-los com racionalidade, ponderação, flexibilidade e sem radicalismos. Quando mercê de dissidências entre os casais, estes deliberadamente empurram os parceiros para becos sem saída condicionando-os e deixando-o sem alternativas, as reacções que podem advir de pessoas encurraladas nunca é a melhor nem a mais racional. Por vezes projectos de vida e objectivos terão que ser de novo prioritizados e redefinidos com uma mente aberta e construtiva. Quanto a mim meu caro e desconhecido interlocutor decidi que perder tempo a contemplar o passado é viver da saudade, hipotecar o presente em relação a um futuro que não sabemos se vamos ter é igualmente um desperdício, portanto há que viver intensamente o presente diariamente até à exaustão dos nossos corpos. Tenho uma passado histórico e uma herança cultural a defender e proteger e nunca em circunstância alguma a minha integridade ou dignidade poderá ou deverá ser questionada por ninguém, pois jamais o permitirei. Apenas pensei escrever umas linhas, mas acabei por deambular pela vida de uma forma aleatória sem um rumo certo ou definido, deixando-me ir ao sabor da corrente como um naufrago mas tendo a certeza que mais cedo ou mais tarde chegaria a terra firme. Vilamoura 5-1-2005

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