terça-feira, 30 de setembro de 2014

A ÚLTIMA ETAPA

Chegou a hora de fechar as portas do meu coração, as persianas dos meu olhos, as janelas da minha mente e ficar na escuridão total com a finalidade de apenas ouvir o som do silêncio e o palpitar do meu coração para me dar a garantia de que ainda estou vivo. É no silêncio e na escuridão que eu procuro reflectir sobre o tempo de vida que ainda me resta para continuar em pleno uso das minhas capacidades físicas e a respirar. Entendi ser este o momento certo para soltar os meus demónios e enfrenta-los corajosamente sem medos ou receios e muito menos sem a protecção divina, pois há muito que me afastei da teoria criacionista renegando a existência de Deus. O silêncio em situações de isolamento forçado pode tornar-se doloroso, mas quando é exercido por opção pode levar-nos a patamares de completo êxtase. É no recato das sombras e na quietude meditativa que aproveito para visitar as campas onde enterrei todos os meus amores, esperanças e sonhos não realizados, os quais ainda hoje me assombram uns pelas minhas iniquidades comportamentais, outros por expectativas que criei demasiado optimistas que não se converteram em realidades e finalmente alguns sonhos que pela falta de condições ou de acontecimentos inesperados me foram impossíveis de concretizar. Nem sempre a escuridão é considerada maligna ou portadora de energias negativas. A meditação é um estágio espiritual que nos abre dois caminhos que são o da concentração e contemplação. Quando a nossa mente atinge uma concentração profunda é como se tivéssemos desligado a tomada da corrente e ficado sem luz eléctrica, passamos para o mundo das trevas e para as profundezas do nosso ser. É ter a capacidade de nos desligarmos do mundo esvaziando a mente de pensamentos supérfluos a que eu chamo lixo tóxico, e focando-a num único objecto o qual pretendemos analisar e dissecar de uma forma mais racional, dissolvendo previamente todas as preocupações e problemas que possam estar a bloquear a nossa mente, impossibilitando-a de entrar em transe. Há quem use essa abertura mental para comunicar com o divino invocando um poder mais alto o que obviamente não é o meu caso devido a minha não religiosidade. A grande maioria das pessoas usa a mente para evocar as suas memórias passadas ou então transportar-se para o futuro delineando expectativas e programando objectivos. Com o devido treino podemos diminuir ou aumentar a velocidade do pensamento que por vezes chega em turbilhão á nossa mente precisando de ser previamente peneirado. Esta triagem que requer ser feita com certo cuidado afim de dissolvermos previamente preocupações ou problemas que possam estar a bloquear a nossa mente. Devemos negar á mente a tendência para absorvermos ideias, ou vícios infectados que nos podem levar a tomar decisões prejudiciais, quando são tomadas a quente devido a reacções extemporâneas e temperamentais. Através da meditação é possível separar os pensamentos na parte da nossa consciência que realiza a percepção cognitiva e arruma-los, catalogando-os respectivamente por ordem de prioridade e de execução. Ao longo dos últimos 10 anos a meditação tem me ajudado a ser mais rigoroso, imparcial, auto disciplinado e a desenvolver uma serenidade espiritual bem como um sentido de equanimidade que se traduz em obter uma igualdade de ânimo quer perante a prosperidade e sucesso ou adversidade e derrota. A meditação ultrapassa o intelecto e o segredo é ter a capacidade de silenciar a mente e transportando-nos para o vazio interior com a finalidade de nos confrontarmos quer com os nossos Deuses ou Demónios, mas para qualquer das situações é imperativo atingirmos um estado de grande espiritualidade e de elevada concentração. Quando no início falo dos meus demónios pode parecer uma contradição ou um paradoxo, pois se não acredito na existência de Deus obviamente que não posso acreditar que existam demónios mais conhecidos por (espíritos malignos) os quais biblicamente falando são os mensageiros de Satanás. O termo que eufemísticamente usei foi metafórico, uma vez que apenas me queria referir a situações que deixei mal resolvidas ao longo da vida e as quais não tiveram um final feliz e das quais quando retrospectivamente as recordo me deixam um amargo de boca. Quando escolho os meus momentos de solidão, são decididos por vontade própria e consciente, são experiências positivas e prazenteiras que me trazem alivio emocional onde descarrego para o papel ou para um ficheiro de computador as minhas interrogações, reflexões ou conclusões a que chego perante o tema que abordo frequentemente e que é a Vida Ao fim e ao cabo chegamos ao mundo sozinhos e morremos sozinhos, para além de fazermos durante a vida longas travessias sozinhos, portanto a solidão é algo com que todos lidamos por períodos mais ou menos longos. Acho que chegou o momento em que devo definir concretamente o estado de solidão e solitude pois têm etimologicamente um posicionamento espiritual completamente diferente, contudo devo deixar aqui bem claro que nunca ao longo da vida passei por estados de solidão depressivos que implicassem recorrer a medicação ou ao uso de terapia. A Solitude é um estado de privacidade decidido voluntariamente que nos recolhamos em isolamento ou reclusão, mas que não exige sofrimento. Por outro lado a Solidão é um sentimento conectado com uma sensação de vazio pela falta de companhia que nos poderá ter sido imposta contra nossa vontade pela força das circunstâncias, e a qual nos leva para uma fase de adaptação na transformação de sentimentos, é aquilo que vulgarmente chamamos a travessia do deserto ou período de luto. Sempre me considerei um individualista, sempre detestei andar em “alcateia”, para me tornar extrovertido, muito embora nunca tivesse tido dificuldade em comunicar ou de fazer amizades, uma vez que nunca me considerei aquilo a que chamamos bicho-do-mato. Optei durante a maior parte da minha vida por actuar sozinho tipo atirador solitário e dei-me bem com essa forma de vida que escolhi. O individualismo é um conceito político, moral e social que exprime a liberdade individual frente a um grupo, á sociedade ou ao Estado que nos governa. As pessoas distinguem-se umas das outras pelas escolhas que fazem, pelas formas comportamentais que expressam e pela oratória que usam para comunicar. O exercício da liberdade individual quando estamos inseridos em sociedades modernas frequentemente estão associados aos nossos projectos de vida, obviamente para quem tem a capacidade de planear e aferir os seus progressos num espaço temporal previamente definido. Qualquer projecto ou objectivo por nós traçado entra dentro de um campo de possibilidades falível, consequentemente devemos sempre ter um plano B de contingência para implementar no caso do plano original A não estar a sortir os efeitos desejados. Qualquer projecto de vida insere-se automaticamente num meio sociocultural que não é monolítico e o qual inclui diferentes ideologias, visões do mundo, experiências de classe ou grupos que podem não ser culturalmente, academicamente, historicamente compatíveis connosco e isso eventualmente pode criar fricção ou erosão nos relacionamentos que tentamos criar ou desenvolver. Para mim eu vejo o homem como figura central do Universo, ele sim é o Criacionista de tudo o que existe no mundo excluindo a criação do mesmo, mas para esse grande mistério existem teorias cientificas que explicam a sua origem, sem obviamente serem as religiosas e baseadas na Bíblia. O homem usufrui da autonomia do controle sobre o espírito enquanto ser vivo e pensante, pois tem a capacidade da razão e as liberdades de escolha, no exercício das suas vontades e da sua afirmação, legitimados por uma Constituição que me garante como ser uno e indivisível o direito de manifestar publicamente as minhas convicções em forma de aplauso ou critica, dentro dos termos da lei, de tudo aquilo que entender ser injusto ou indigno da minha condição de ser humano. Vilamoura 21-7-2012

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