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terça-feira, 30 de setembro de 2014
O ÚLTIMO ACTO O FECHAR DO PANO
Nem sempre a morte é a forma mais violenta de conhecermos a vida ou a de nos separar definitivamente de pessoas, animais, lugares, objectos aos quais nos ligam sentimentos de ordem diversa ou recordações que eventualmente poderão ser inolvidáveis, quer pelo seu aspecto gratificante ou traumatizante.
Enquanto á nossa volta o mundo ri, canta, dança, sofre, peca e se purifica eu caminho dolorosamente para o meu calvário, mas podem crer que vão ser precisas muitas marteladas para me espetarem os cravos nas minhas mãos e pés. Vão ser precisas muitas chicotadas para me lenharem o corpo, bem como muitos espinhos para me fazerem uma coroa até que a multidão delirante veja o sangue escorrer do meu corpo exangue, e oxalá que nunca tenham de me ressuscitar.
Não me importa quem me vitupere, cuspa, bata, atice os cães ou condene, continuarei penosamente no meu percurso carregando todos os pecados que me quiserem assacar pela vida que levei, pois neste momentos difíceis ninguém teve a coragem de mitigar em minha defesa. Mas de uma coisa podem ter a certeza é que não irei ser crucificado pela humanidade, mas apenas expiarei as faltas das quais sinto remorso. Também sei que este processo contribuirá definitivamente para a minha redenção, com a finalidade de me tornar uma pessoa com uma atitude diferente perante a vida, mas muito particularmente para com as pessoas que eventualmente venham no futuro a partilhar dela comigo.
Os meus pecados foram os de sempre querer voar demasiado alto, tendo apenas o céu como limite para as minhas ambições, quis chegar ao alto da minha cidade, ao cume da minha montanha, ao topo do mundo e acima do tempo, quis ver o Universo e a humanidade, quis ver o menor fragmento da matéria e a minha palpitação da vida. Quis ver o amor e o ódio, o pecado e a graça e enlevado aos meus olhos eu compreendi como a grande aventura de viver paixões se torna extraordinária. Só que um dia quis voar mais alto do que aquilo que o mundo me permitia, aproximei-me demasiado do sol e queimei as asas, tendo nessa altura concluído de que há lugares e pessoas dos quais não nos devemos aproximar Tudo começa como uma nova aurora que desponta nos nossos corações, uma flor que desabrocha na primavera ou uma planta que germina dentro da terra. Eu quis fazer história inúmeras vezes, abdiquei de querer ver o mundo com os meus olhos, para o ver pelos dos outros, procurei agradar antes de o fazer a mim próprio. Muitas vezes pensei que não são precisas muitas orações e penitências para as pessoas agradarem aos seus Deuses afim de por Eles serem ouvidas. Para mim, também não senti que era preciso estar permanentemente a afirmar e a reafirmar os meus sentimentos amorosos para com essas pessoas que quer pela insegurança ou falta de auto estima precisavam de se sentirem intoxicadas com palavras e promessas de amor eterno, para viverem com alguma tranquilidade espiritual.
Por vezes as pessoas falam, de mais escutando de menos, e nem se apercebem da sinalética que é emitida pelo companheiro, no que respeita aos maneirismos e expressões corporais os quais manifestam sintomas que devem ser lidos, interpretados e entendidos. As palavras são apenas embalagens dos pensamentos e estas podem ser maravilhosamente apelativas quando acondicionadas em papel policromático e laços a condizer. Só que muitas vezes a virtude não está na nossa capacidade de florear os nossos discursos, mas sim na virtude de também saber ouvir.
A vida rasga por vezes caminhos á nossa frente que nunca tínhamos anteriormente percorrido, e para os quais não nos encontramos preparados para neles viajar, e se o fizermos aumentamos o nosso coeficiente de erro e o risco do insucesso. Não te atrevas humilde sapateiro a teres o atrevimento ou pretensiosismo de quereres tocar rabecão. Por outras palavras, as pessoas não se devem aventurar fora das suas zonas de conforto que dominam e conhecem, pois se o fizerem sujeitam-se ás consequências de meterem foice em seara alheia e serem castigados por isso. Hoje em dia as pessoas tornaram-se extremamente narcisistas com os seus corpos e o envelhecimento deles aterroriza a grande maioria das mulheres e de alguns homens também, por isso recorrem ao bisturi e a outros meios não evasivos para tentarem manter uma juventude eterna a qual é comprada á custa de muitos milhares de euros e de muita pele esticada. Todos os corpos em todas as idades têm a sua atracção e fascínio: o corpo imaculado de um bebé, o corpo conspurcado de uma prostituta, o corpo vigoroso e musculado de um atleta, o corpo alquebrado de um operário fabril, o corpo sereno de um saturado homem rico, o corpo escanzelado de um mendigo, pobre e faminto, o corpo sensual de um boémio, o corpo enrugado de um velho, o corpo sereno de um esposo que se sente amado, o corpo paralítico de um aleijado, o corpo doloroso e partido de um atropelado e finalmente o corpo sadio de um homem que é rejeitado pela mulher amada.
Acho que as crenças ou fé religiosa ajudam muitas pessoas a ultrapassarem as suas limitações a esconjurar os seus fantasmas tornando-se paladinos a soldo de uma qualquer religião, a qual defendem com unhas e dentes e de uma forma inabalável todos aqueles que se atrevem a questionar os seus dogmas. Para um cristão por exemplo a morte não existe, ela é apenas um ponto de partida e não uma linha de chegada, pois a vida de um cristão não é roubada, mas sim transfigurada. A morte física para os cristãos é apenas e só, a reentrada numa vida espiritual eterna até á data da reencarnação. Mas afinal o que é a vida? Um momento? Um passo? Um segundo? O provisório até que se torne definitivo? Se a morte fosse assim uma coisa tão boa, todos ambicionaríamos morrer o mais depressa possível, mas a verdade é que todos procuram prorrogar eternamente a sua a vida terrena.
Há uns dias atrás parei o meu carro ao final da tarde em frente ao mar, e embrenhei-me na solidão dos meus pensamentos e agradeci aos meus pais terem-me concebido e o privilégio de estar vivo e admirar o equilíbrio perfeito e harmónico da natureza. O mar sombrio e furioso, investia que nem um touro bravo contra os rochedos, e um pouco mais longe as vagas alterosas, tomavam impulso e orgulhosamente erguidas saltavam que nem cabrestos atropelando-se umas ás outras para se chegarem á frente vitoriosas afim de descarregarem a sua ira nos rochedos, ou se espraiarem espumando de raiva no areal da praia. Passado algum tempo o vento amainou, e o mar numa transformação rápida como se de um passe de mágica se tratasse, ficou repentinamente calmo e sereno, como se tivesse sido bruscamente domesticado por ordens superiores ou divinas.
E qual não é o meu espanto quando reparo que os vagalhões gigantescos se tinham transformado num ondular calmo e dolente como que rastejando para não chamar a atenção, deixando na areia branca e fina flocos de espuma que mais parecia uma enorme plantação de algodão.
Gostaria que o meu olhar despertasse um sentimento de fome e pureza, que não demonstrasse desilusão, atrevimento ou desespero, que tenha o alcance para contemplar a beleza e que fique extasiado perante a perfeição da correlação de forças que gerem o equilíbrio entre o homem e o Universo onde habitamos.
Que os meus olhos tenham a virtude de se fechar para ignorarem aquilo que pretendem que a minha mente não assimile ou fique conspurcada, mas que se mantenham bem abertos para constatar a miséria dos homens, que sejam limpos, firmes e meigos afim de e se enternecerem ou capazes de chorar, que não sujem com olhares libidinosos, que não seduzam para guardar cativo, que não se fechem para ignorar ou encobrir a maldade, estes são os olhos que pretendo que olhem o mundo e que nele leiam as emoções que vão trespassando quer de alegria ou tristeza nos outros olhares que se cruzam com os meus.
No outro dia fiz uma romaria ao fundo do meu coração e confesso que não gostei do que vi, o caos e a enorme destruição que dentro dele existe, ou seja, angústia, amargura, dor e sofrimento, pois este é o preço elevado que se paga quando constatamos que desfizemos várias vidas, rompemos com amores, abandonamos paixões, negligenciamos relações, tudo devido a infidelidades que não conduziram a nada, a não ser á conquista de mais um troféu para juntar aos muitos outros que o meu sexo se pode gabar de ter abatido.
Nestas noites de solidão que atravesso, não só penso em mim mas também em todos os outros que se sentem aprisionados no mesmo cárcere em que eu me encontro. É uma cela monástica, que se encontra dentro do nosso cérebro, sombria e húmida, e onde horrivelmente sós com os nossos pensamentos sofremos com estas chagas purulentas que dificilmente nesta altura alguém poderá sarar, pois sangram de uma ferida incurável que é a do remorso e arrependimento. É neste estado de silêncios, rodeados de searas onde cresce a humilhação, dor, desesperos, vexamos, ódios e vinganças que iremos sepultar os amores perdidos numa tumba rasa sem epitáfio.
Acho que nesta fase da minha vida ninguém tem a capacidade de aplacar a ira, fúria e cólera que nasce e cresce dentro de mim, deixando um sabor a fel na minha boca. O meu orgulho e ego estão afectados bem como a minha vaidade e isso demonstra claramente o meu rosto com o seu ar sombrio e taciturno. Preciso de perder a minha arrogância e tornar-me mais humilde, mais silencioso e ameno ao caminhar pela vida e que cada um dos meus recuos seja uma oportunidade para subir e me elevar. Preciso de voltar a sentir que o meu cérebro se encontra limpo, purificado e desinfectado, que o meu coração se abra para deixar entrar os raios quentes do sol que iluminem a minha vida com uma nova iridescência.
Todos os homens e mulheres são seres únicos, e como responsáveis ou irresponsáveis tomam decisões certas ou erradas as quais os atiram para as penumbras da vida ou para travessias longas em completa solidão. E é nessa solidão sacrossanta que as pessoas reflectem e a podem romper de livre vontade, quando estiverem prontos para receber outra pessoa dentro do seu coração, passando a uma fase de comunhão. Tenho de agradecer ao meu coração, que no silêncio me doeu e na solidão me oprimiu, o ter-se manifestado e fazer-me ouvir as suas reclamações, pois raramente ao longo da vida lhe dei ouvidos, uma vez que a frieza da minha razão sempre imperou sobre as emoções do meu coração. Tenho que lhe agradecer pelos sorrisos com que me brindou, pelas noites serenas que me proporcionou, pelos seus silêncios profundos com que se manifestou, e pelas noites de amor ás quais se entregou proporcionando-me momentos inesquecíveis de paixões arrebatadoras.
É duro ser-se como os outros entre os outros, mas muito mais duro ser-se outro quando estamos sozinhos. É duro dar sem receber, é duro ir ao encontro dos outros quando ninguém está disposto a vir ao nosso, é duro sofrer-mos com os nossos pecados sem termos ninguém que nos ajude a carrega-los, é duro ouvir ou estar na posse de segredos sem os podermos compartilhar, é duro sustentar os fracos sem nos podermos apoiar em alguém forte, é duro chorar sozinho sem termos um ombro para nos apoiar, é duro enfrentar o mundo sem que possamos partilhar com alguém os seus desafios, é duro passar pelo remorso, dor, sofrimento, pecado, arrependimento sozinho e perante a morte ainda muito mais.
Ocasionalmente os nossos corações uivam longamente pois sentem fome de se sentirem alimentados, especialmente quando a saudade, nostalgia e abandono o devoram sem lhes mitigar o amor que têm para receber ou para dar. Muitas vezes entramos em litígio declarado com o nosso coração, pela falsidade como mentimos, pela surdes com que nos recusamos a ouvir, pela arrogância ou agressividade que demonstramos na nossa verborreia desbocada.
E num dia qualquer, pois existe sempre nas nossas vidas um dia especial que nunca esquecemos, e nesse meu dia de repente eu vi-me cercado por um grupo de artesãos que vieram trabalhar a minha alma. Apertaram o cerco e chegaram de todos os lados sem eu saber quem os contratou para a tarefa de que foram incumbidos e os quais como feras esfaimadas se encarniçaram contra o meu corpo, numa tentativa de me açoitarem, fustigarem, esfolarem, modelarem, arrasarem, reconstruírem, arrombarem, martelarem, burilarem, esculpirem, foram pedreiros, carpinteiros, marceneiros, ferreiros, soldadores que trabalharam o meu ego, auto estima e personalidade que durante anos regeram a minha conduta perante as pessoas e o mundo. Tal como nas clínicas de cirurgia plástica que transformam o nosso corpo por fora, no meu caso fui duramente trabalhado por dentro de uma forma visceral, onde fizeram a ablação das enfermidades que me toldavam e corroíam, transformando-me numa pessoa completamente diferente. Espero não mais voltar a beijar outras bocas, a acariciar outros corpos, ou a penetrar outros sexos que não seja única e exclusivamente o da mulher amada. Mas também sei que a partir de agora e destes longos meses de trabalho insano na trilogia de mente, coração e sexo, deixei que me crescessem alguns cabelos grisalhos, cavei rugas de expressão, esculpi esgares nervosos, embaciei o meu olhar, apaguei a luz de dentro do meu coração, domei o sexo com uma lobotomia, deixando que essa cabeça irreverente e de uma forma bicéfala, deixasse de comandar o meu corpo.
Eu sei que no futuro tal como um drogado ou um alcoólico que recorrem á desintoxicação, para se livrarem do vício, também eu serei tentado a prosseguir na minha vida libertina. Estou contudo determinado a fazer todos os esforços para resistir á sedução, ou aos encorajamentos lançados pelo sexo oposto. Eu sei quão difícil é ignorar esses encantamentos quando as vibrações andam no ar e a testosterona entra em ebulição. Mas na eventualidade de vir a assumir qualquer compromisso, desta vez procurarei com todas as minhas forças honra-lo com fidelidade canina, e que o mesmo, não seja manchado por nenhuma nódoa de promiscuidade sexual.
Ao longo da minha vida sempre lutei com falta de tempo, passei longos anos numa corrida desenfreada, sempre apressado, sobrecarregado, assoberbado, pois apesar de todos os esforços o tempo nunca chegava, o que me levou a pensar, que tinha havido um erro desde a criação do mundo na contabilização do tempo. As horas, os dias e as vidas eram sempre curtas demais para todas as tarefas que tinha programado levar a cabo. Mas depois de uma consideração mais analítica e profunda, conclui que o tempo e a vida foram dados ás pessoas com a finalidade destas o usarem de uma forma criteriosa e racional na procura da felicidade e equilíbrio emocional. As pessoas precisam de saber que o tempo não pode nem deve ser esbanjado inutilmente, pois é um bem perecível, que não se pode, parar, adiantar ou atrasar como fazemos com um relógio, e por isso caro demais para ser gasto em futilidades que não nos preenchem ou enriquecem, quer o corpo ou a alma.
Eu agora tenho todo o tempo do mundo, tenho os anos da minha vida para amar quem quiser, quando sentir que após esta longa convalescença, me sinto forte para contemplar essa opção. Mas uma coisa aprendi é que não posso “servir nem amar duas senhoras simultaneamente, ou me apegarei a uma e menosprezarei a outra,” (citação e adaptação livre do evangelho S.Mateus). Jamais quero voltar a dividir-me para reinar, a partir de agora serei uma pessoa una e indivisível quando me entregar a alguém Não quero voltar a entregar apenas algumas partes do meu corpo, para satisfações sectoriais dele e de terceiros, que depois de usadas eram descartadas, pois não passavam de números na minha contabilidade pessoal
A grande maioria das pessoas é feita e nasce como resultado do amor, outros vêm ao mundo por acidente ou em consequência de noites de orgia. Infelizmente as pessoas amam-se demasiado a si próprias, quer por uma vaidade narcisista ou então por um egoísmo feroz e incontido, esquecendo-se de partilhar o amor, mas numa grande maioria dos casos, exigindo serem amados, mas recusando-se a amar.
Para mim existem três tipos de amor: o amor-próprio, o amor que cada um tem pelos seus Deuses e o amor que sentimos por terceiros, os quais devemos saber distribuir criteriosamente sem privilégios pelas pessoas que nos são queridas e merecedoras dele. Cada vez que amo entrego todo o amor existente dentro do meu coração, ficando sem nada para alimentar outras necessidades que também exigem serem mitigadas com doses bem servidas de amor e não apenas com migalhas. O amor que é gerado dentro de mim não é para ficar armazenado, tem que sair para ser consumido, pois o mal é quando ele é rejeitado e regressa ao coração onde estiola, apodrece e morre, passando a ser um amor enjeitado.
Não sou governo, padre, dirigente de nenhuma organização de solidariedade social, não pertenço á misericórdia, nem á segurança social, mas comovo-me ao ver e saber que existem pessoas muito mais pobres e carenciados do que eu, menos instruídas, educadas e cultas do que eu, menos bem remunerados, alimentados, alojadas e aquecidos do que eu, e finalmente esquecidas de serem amadas por muita gente como eu.
Existe uma estrada da alegria e bem iluminada que é o caminho dos bem aventurados que encontraram o amor e a felicidade, durante a vida muitas estradas, encruzilhadas e atalhos se colocam á nossa frente sempre com a promessa de destinos fabulosos como se tratassem de agências de turismo oferecendo férias no paraíso, só que muitas delas terminam da pior maneira, devido á nossa impreparação para fazer a escolha acertada. Nem sempre são os homens que seduzem, conquistam ou aprisionam, há igualmente mulheres determinadas e decididas em fazê-lo com sucesso, pois conseguem abrir brechas nas nossas defesas, entrando de rompante e fazendo-nos sentir a sua presença. E tal como rajadas de chuva fria e agreste, fustigam-nos de tal forma impiedosamente que não podemos ficar indiferentes á forma como se insinuam e nos despertam da letargia que eventualmente nos mantinha adormecidos ou indiferentes ao mundo que nos rodeava, criando dentro de nós um estado amoroso receptivo a podermos contemplar de novo a possibilidade de nos envolvermos sentimentalmente.
Os ventos do amor, tal como um temporal, quando despertam dentro de nós sacodem-nos fortemente, o sangue começa a borbulhar em efervescência como lava incandescente escorrendo pelas encostas de um vulcão quando o nosso coração entra em erupção. Há pessoas que não merecem o alojamento que gratuitamente lhes proporcionamos dentro do nosso coração, de modo que a única maneira de resolver o problema é cortar-lhes a agua e a luz, vota-las ao ostracismo, até que elas acabem por o vagar de livre e espontânea vontade, sem que tenhamos de fazer recurso á violência ou aos tribunais. Gostava de que um dia quando viesse a morrer, que esse acontecimento não me apanhasse de surpresa, e que pudesse ter uma indicação de quanto tempo ainda iria ter de vida, afim de não ter pena de ter morrido sem que desabafasse de forma que algumas verdades fossem ditas, algumas confissões fossem feitas, e alguma paz restabelecida com certas pessoas que compartilharam períodos mais ou menos longos da minha vida e as quais magoei profundamente. Não seriam justificações na procura de um perdão, mas apenas um aliviar de consciência, de que não fui nem tão bom como muitas pessoas pensaram, nem tão mau como algumas das minhas acções deixaram transparecer. Por outro lado gostaria de poder desfazer alguns equívocos os quais penso que só na hora da morte terei a credibilidade para o poder fazer.
Quanto ao meu património já tomei as disposições legais, para que o mesmo seja entregue aos beneficiários que contemplei no meu testamento. No que respeita á minha pessoa, possivelmente não deixarei muitas saudades de mim próprio, ao ponto de alguém ir carpir os seus desgostos pela minha partida, pois ao longo da vida em muitas ocasiões não tive a capacidade de saber preservar o essencial dando mais valor ao acessório. Alienei indevidamente muito património sentimental como se tratassem de objectos descartáveis sem me preocupar muito com as causas que implicaram dor, sofrimento, frustração e desapontamento como resultado dos vórtices que ao longo dos tempos desencadeei, e os quais na sua voragem, apenas deixaram mágoas em vez de saudade. Sei que a minha consciência não me vai deixar morrer em paz ou com a tranquilidade desejada, possivelmente o meu corpo ainda dará algumas voltas dentro do caixão antes de chegar ao crematório, o qual me reduzirá a cinzas. Por outro lado, terei que mostrar até ao , a minha consistência de carácter, e mostrar dignidade, afirmação, pelas escolhas que fiz ao longo da vida, que foram as de viver grande parte do meu tempo sobre o fio da navalha.
Acho que não poderei esperar outro desfecho que não seja o de morrer sozinho, o qual será o reflexo da minha atribulada existência, mas prevendo que as coisas venham a terminar dessa maneira, não vou agora cobardemente começar a renegar o que fiz na expectativa que o meu arrependimento me proporcione um lugar confortável ao lado dos virtuosos e imaculados, no Paraíso Celestial, pois ainda por cima sou Ateu por convicção. Ao longo da vida criei amizades duradouras, mas também a indiferença de outras pessoas, pois inimigos penso não ter. Ao longo da vida tive momentos de felicidade plena que por uma razão ou outra não consegui fazer perdurar. Mas nesse aspecto não posso queixar-me nem atribuir a culpa a ninguém, pois o estilo de vida que escolhi e adoptei acabou por determinar o terminus desses períodos de felicidade. Estive sempre consciente das decisões que tomei e no comando da minha existência, mesmo quando ao leme do meu barco escolhi rotas desconhecidas, na procura insana de aventura e do enriquecimento físico ou mental. Se em muitas ocasiões a minha mente não tinha quem a desafiasse, era eu então que lhe colocava novos desafios para a estimular aumentado sempre o coeficiente de risco envolvido.
A vida não se aprende nos bancos de escola, universidade ou lendo livros sobre o assunto, só se pode viver a vida vivendo-a, mas para que eu passasse por essas experiências vivenciais, tive revoltas a bordo, quanto á minha capacidade de levar o barco a bom porto, bem como á minha fidelidade de princípios. Todas as opções que tomei foram única e exclusivamente da minha responsabilidade, a bombordo deitei redes para pescar o amor, felicidade e paixão, a estibordo as fantasias o erotismo, á popa a sensualidade e a volúpia e á ré o clímax e o orgasmo, só que acabei por constatar, que os estados de espírito que nos levam a desejar saborear destas virtudes ou predicados não se procuram, encontram-se por mero e fortuito acasos do destino. E hoje aos 55 anos começo a ficar imbuído de um sentimento de orfandade, de revolta e inconformismo aliado a um cinismo hipócrita e egoísta que me leva mais a olhar para o meu umbigo fazendo dele o centro do Universo. Por vezes chego a pensar que só na morte encontrarei a felicidade, o sossego e a paz de espírito que nunca consegui obter em vida. Se eu tivesse conseguido sublimar as minhas paixões terrenas devotadas ao delírio da carne tendo a coragem de ter dito NÃO aos encorajamentos, renunciando os prazeres do sexo, quando os mesmos me eram oferecidos gratuitamente, talvez tudo se tivesse processado de modo diferente. Se ao longo dos caminhos da vida que percorri tivesse dispendido toda a energia física e mental que possuía em quantidades industriais, na procura ou demanda de um amor místico ou metafísico, possivelmente teria obtido resultados mais satisfatórios, gratificantes e duradouros. Independentemente do meu estatuto da altura, nunca consegui fidelizar um relacionamento nem manter a monogamia, o que obviamente contribuía para causar desequilíbrios, convulsões, excessos, iniquidades e descompensações a que submeti desnecessariamente pessoas que me eram queridas e as quais me ligavam laços emocionais.
Penso que o meu egocentrismo exacerbado, materialismo calculista, pragmatismo polémico e argumentativo, o meu centralismo ditatorial de querer, poder e mandar, de me sentir o centro do sistema planetário em que tudo e todos nasceram para girar na minha orbita ou aura magnetizadora, me levaram a cometer erros injustificáveis dos quais estou a pagar juros altíssimos á minha consciência que é a agiota que mais me cobra, pelo capital que investi em acções de empresas destinadas á falência. Durante a nossa existência terrena devemos fazer uma gestão rigorosa dos nossos recursos, oportunidades e sorte que a vida pontualmente se encarrega de nos proporcionar em maior ou menor quantidade, mas usualmente bate á porta de todos e que de acordo com a nossa receptividade, alerta, visão e capacidade de conhecimento, preparação, bom senso e discernimento podemos tornar as mesmas em sucesso ou fracasso rotundo. Eu muito sinceramente prefiro continuar a manter fé e esperança no futuro do que ficar a pensar no passado, pois esse pertence a um conjunto de factos consumados, e nada que eu possa fazer hoje em dia, reparará as decisões que tomei em relação a pessoas que comigo partilharam períodos de vida.
Também não sou da opinião que devo hipotecar o meu presente em relação a um futuro que não sei se irei ter, portanto a minha filosofia é que devo gozar com toda a intensidade um dia de cada vez, minuto a minuto. Eu sempre procurei viver levado pelas minhas paixões arrebatadas e como é obvio dentro deste estado de espírito a conflitualidade dos sentimentos e emoções aumentou exponencialmente quando acicatados pelo ciúme ou outras circunstâncias diversas. È uma forma de viver arriscada tipo equilibrista na corda bamba, por vezes as posições dos parceiros radicaliza-se levando qualquer deles a exercer retaliações ou vinganças usando processos irracionais e pouco ortodoxos, derivados da fixação doentia e obsessão no qual as suas mentes se encontram centradas. Os resultados de uma mente ou coração levados aos limites da racionalidade ou emoção podem por vezes ter consequências dramáticas e funestas, derivados pela rejeição, falta de auto estima, abandono ou troca, e onde o fundamentalismo suicida passou a imperar e tudo que possa causar dano físico ao parceiro passa a ser permitido e desregulado. Por vezes penso ser preferível viver-se dentro de um amor, calmo, pacifico, conservador e por vezes monótono, do que em paixões arrebatadoras e tempestuosas onde a clarividência fica embotada pelos sentimentos efervescentes que cega e desfoca a objectividade dos factos. Eu estou a atravessar a etapa final da minha vida, portanto o tempo começa a escassear para poder realizar uma série de projectos de vida que ainda me proponho realizar.
Muitas vezes fiz promessas de reconciliação e regeneração que não cumpri o que me levou a ter que deixar o meu coração como refém algumas vezes, e o qual se tornou difícil de resgatar, pois essas pessoas agarravam-se a ele como se fosse a única bóia de salvação e a sua sobrevivência. Estas rupturas sentimentais repetiram-se ciclicamente, atirando para o desemprego o meu pobre coração por 3 vezes. Nunca permiti que dentro do meu cérebro ou coração existisse terreno fértil que incentivasse á cultura de sementes de violência, que as mesmas pudessem germinar e dar frutos amargos ou venenosos. Sempre tive uma imagem e um carácter de que me orgulho e pretendo preservar, e onde não albergo qualquer tipo de violência que dentro deles se pretenda instalar. Tento proteger a minha mente blindando-a a pensamentos subversivos que nela pretendam entrar mesmo que disfarçados a aprisionem dentro de si própria contaminando-a com qualquer vírus de agressividade que me levassem a tomar atitudes indignas. Metaforicamente falando seria como uma região de um país declarasse a sua independência unilateral revoltando-se e agindo á revelia do poder central. Estas novas descobertas que tenho vindo a fazer sobre a capacidade que a mente tem de conceber maquinações de crimes perfeitos, deixa-me apavorado, quando sinto que consigo facilmente viajar por territórios para o qual não fui educado nem treinado, causa-me algum desconforto e apreensão. Para mentes menos bem preparadas, esta torna-se fértil para que nela se instalem elementos que a possam sabotar programando-a para ataques demolidores a alguém que passamos a ver como nosso inimigo e cujo objectivo primordial será a sua destruição.
Nunca na minha vida recorri a métodos que pudessem causar ou infligir dor física a quem quer que fosse, e nem muito remotamente me passa pela cabeça que alguma vez o venha a fazer, mesmo que fosse sujeito á mais vil e soez das provocações. Muitas das vezes os relacionamentos terminam pelas expectativas que se criam e depois não se cumprem, de portas que se prometeram abrir e atravessar em conjunto e depois não o fazem pela dificuldade que um dos parceiros demonstra em por elas entrar, ou de outras que depois de atravessadas não as conseguem fechar. Quando os relacionamentos começam a ser pautados, pela frieza, distanciamento, desinteresse, incompreensão, e falta de diálogo, é sinal de que as coisas estão no caminho errado e que precisam muito rapidamente de serem reparadas, existindo para isso vários meios de o fazer.
Por vezes as pessoas acabam for ficarem soterrados pelas avalanches que despoletam com consequências devastadoras, e que muito dificilmente conseguem sobrevir ás mesmas. Usualmente quando as pessoas se despedem temporária ou definitivamente deixam ou levam saudades, as quais não podemos deixar que sejam conspurcados ou maculados por terceiros quando o poder caí na rua, e somos julgados num tribunal familiar, o qual é normalmente composto por familiares ou amigos de um dos intervenientes na relação, que ouvindo apenas as queixas de uma das partes, condenam a outra á revelia sem apelo nem agravo. A vida não se compadece de amores impossíveis, de paixões avassaladoras, ou de obsessões doentias, portanto quanto mais depressa nos desfizermos dessas ilusões, mais depressa recuperamos a nossa sanidade. Ninguém é insubstituível ou indispensável, quer emocional ou sexualmente, e mesmo que a pessoa de quem gostamos deixe de fazer parte da nossa vida e pensemos que nunca mais encontraremos alguém comparável, por vezes somos gratamente surpreendidos por outras pessoas que chegam as nossas vidas bem melhores do que aquela que partiu. Há algum tempo atrás li algures este pensamento que registei: “ Dois homens olharam pelas grades da mesma prisão, um só viu lama o outro viu as estrelas”, Cada pessoas vê o mundo com olhos diferentes consoante imensos factores os quais a partir do berço lhes abrem ou fecham os horizontes e determinam a sua personalidade futura. O mundo pode ser sempre visto e vivido de uma forma pessimista ou optimista, enquanto uns vêem sempre o mundo a preto e branco outros vêem-no a cores, uns vivem num mundo quadrado, enquanto que outros preferem viver num mundo redondo.
Penso ter a serenidade e resignação para aceitar as coisas que não posso modificar, a coragem para modificar as que posso, e a sabedoria para conhecer a diferença. Citando um dos pensamentos do Alcorão que diz o seguinte: “Quando as tormentas escaldantes soprarem sobre as nossas vidas e nós não pudermos evita-las, saibamos com humildade aceitar o inevitável.”.
28-12-2002
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