segunda-feira, 29 de setembro de 2014

AMOR EM ADJECTIVO (Poema)

Esta não é ainda a noite perfeita Mas nela me recolho Como sob o véu se vela o rosto A estrela se apaga nas águas E a brisa se esconde no coração do silêncio. Numa noite assim gostaria de morrer Por excesso de desejo Imersa na água dos teus olhos Convulsa no mel da tua boca Ébria com a resina do teu peito. Na geométrica harmonia dessa noite Circularia sem norte nem sul Entre as duas colinas de sombra Abatidas sob o incandescente triângulo Do teu púbis. Navegaria de lágrima em lágrima, Sem medos nem memórias, O óleo amargo e doce Das brancas margens dessa ilha negra Em busca de todo o lume do mar. Avançando sem limites, no olvido De enseadas, baías e ancoradouros, Na ânsia insofrida de só me deter Quando a onda enorme, a última das múltiplas, Se erguesse da mais insondável fundura, Sublime e inimitável, E puríssima explodisse como o fogo primordial. Extasiados, Todos os meus sentidos se aplacariam Na noite de água em que Para sempre Pulsaria luminosa a memória amada. 12-3-2001

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