terça-feira, 30 de setembro de 2014

ANGOLA-PORTUGAL

Acho que a grande maioria dos Portugueses ainda não se libertou mentalmente do cordão umbilical que as liga a Angola e do complexo angolano. De certa forma continuam a possui-la, como se nunca a tivessem deixado, considerando-a nas suas memórias e coração como propriedade inalienável e intransmissível, de uma forma que 38 anos depois já não faz algum sentido. A Angola que todos lá deixamos em 1975 deixou de existir, é preciso que as pessoas se consciencializem definitivamente disso. Chegou a altura de a libertarem do vosso subconsciente, tal como um filho quando atinge a maioridade e passa a seguir o seu percurso existencial de adulto e deixamos de ter controle efectivo sobre a sua vida. Passaram quase 2 gerações desde que abandonamos o território e Angola a qual se tem vindo a desenraizar-se lentamente da forma iniciática que lhe impusemos, vem seguindo o seu próprio caminho aos solavancos e trambolhões aprendendo com os seus próprios erros. Países e pessoas corruptas existem em todo o mundo a começar por Portugal, Brasil e muitos outros, mas quando decidirmos atirar a primeira pedra, nas nos podemos esquecer que também temos telhados de vidro. O que se passa em países estrangeiros não nos diz respeito, também devem ter policia, tribunais e prisões, para prender, julgar ou prender essas pessoas mesmo que seja o próprio presidente, só que neste caso temos que perguntar quem é que prende o próprio policia. Não sei porque é que nós Portugueses naturais ou não de Angola apelidados de “Retornados”, nos preocupamos tanto com os novos angolanos brancos, mestiços, pretos, chineses, cubanos, brasileiros da Republica Popular de Angola. Este país passou a ser unilateralmente independente em 1975, mais tarde, em Setembro de 2008 tiveram eleições, justas ou injustas, legais ou não, pouco interessa, sendo partido MPLA o mais votado e reconduzido ao poder por vontade do povo angolano reelegendo José Eduardo dos Santos como seu presidente. Que interessa a nós portugueses se ele ou a sua família são bilionários corruptos, amassando uma fortuna descomunal e vivendo que nem nababos enquanto o povo sobrevive no limiar da pobreza e miséria aflitiva. Que nos interessa se uma elite governamental possa de forma escandalosa e imoral ter-se locupletado com milhões devido ás funções que desempenham e como resultado dos favorecimentos que patrocinam. Que nos interessa que alguns portugueses na sua capacidade individual ou empresas tenham embarcado no sonho de que Angola se tornou num novo Eldorado para enriquecer depressa e facilmente. Muitas pessoas estão em Angola por motivos diferentes, uns por razões humanitárias, oportunismo, ideologia politica, outros desinteressadamente pensando que o seu contributo pode ajudar este país a reerguer-se do colonialismo e da longa guerra tribal e fratricida. Em Angola existe lugar para todos cujo seu estômago se adapte a viver num pais com tantas e abissais desigualdades sociais, mas acima de tudo que perfilhem e se enquadrem na política governamental, pois os cemitérios de Angola estão cheios de sepulcros daqueles que dela discordaram ao longo dos tempos. Que nos interessa a nós que tenham mudado o nome das ruas ou províncias, que tenham demolido ou retirado monumentos que os fazia lembrar os tempos coloniais, ou que Angola tenha sido parcialmente destruída durante a guerra com a Unita ou forças armadas Sul-africanas. A partir do momento que abandonamos o território e este se tornou independente, passou a ser um país estrangeiro e como tal, tudo o que se lá passa diz respeito exclusivamente aos Angolanos e portanto a eles compete decidirem o que de melhor querem ou precisam para o seu país. Que nos interessa se em certos locais de Luanda se vive no século XXI e noutros na cidade ou do interior se vegeta e sobrevive na idade da pedra lascada. Que nos interessa a nós Portugueses que se façam festas principescas em Luanda, se usem aviões privados, que certas pessoas conduzam carros dos últimos modelos, façam compras milionárias em Lisboa ou tenham mansões imperiais no Mussulo ou em Belas. Apenas por termos lá nascido ou vivido não nos dá o direito de criticar ou enaltecer o modo de vida dos angolanos, nem a forma como decidiram reconstruir um país herdado do colonialismo Português e muito menos como gastam ou lavam o dinheiro que obtêm por meios ilícitos e corruptos. Acho que tudo o que lá deixamos nos possa ser creditado pelos 500 anos que indevidamente lá permanecemos, pois deveríamos ter-lhes deixado o país conforme Diogo Cão o encontrou quando lá chegou no século XV. Penso que ninguém quer ou pretende aqui justificar as injustas politicas coloniais Salazaristas, mas por outro lado também não podemos esquecer a forma com milhares de portugueses sem culpa nenhuma dessas mesmas politicas, foram tratados, enxovalhados, espoliados, aterrorizados por todos os movimentos de libertação sem excepção e obrigados a deixar o território, uma vez que ficaram sem proteção das forças armadas portuguesas. Acho que chegou a altura de deixarmos de fazer julgamentos de valor ou carácter sobre as pessoas que de ambos os lados da barricada defendem valores diferentes, de acordo com as suas opções ou interesses pessoais que pretendem preservar. Ninguém me passou procuração para defender ou acusar quem quer que seja, não represento países, ideologias, pessoas ou corporações, apenas e simplesmente o meu ponto de vista sobre os portugueses e angolanos que residiam em Angola e que educados e colonizados pelo mesmo pai, continuam a viver de costas voltadas ainda desavindos por querelas do passado. 29-6-2013

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