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segunda-feira, 29 de setembro de 2014
O FLME
Este meu filme de vida metaforicamente falando, tem alguns segmentos ou períodos que foram feitos a preto e branco, outros em sépia e finalmente algumas longas-metragens coloridas. Muito embora essas filmagens requeressem uma dedicação quase que total, ainda conseguia á revelia encontrar algum tempo para protagonizar pequenos e pontuais documentários e curtas-metragens com algum sucesso. Em alguns casos, foram usadas diferentes tecnologias de filmagem tais como: Cinemascópio, Panavision, Vistavision e 3D, e sonorizações onde a sua sonoplastia era ouvida em estereofonia ou em quadrifonia, dependendo essencialmente das compatibilidades e empatia geradas durante as interpretações corporais e a vocalidade imprimida pelo prazer genuíno que o próprio acto personificava.
O ciclo da vida tem prosseguido inexoravelmente, já deixei os meus pais na poeira do caminho há longos anos, e o meu destino será idêntico. Quando a minha certidão de óbito for passada pelo delegado de saúde, após autopsia ou não, seguir-se-á o ritual das exéquias fúnebres e o destino que cada um de nós pretende dar ao seu corpo de acordo com as suas convicções religiosas. As minhas têm sido explicitadas ao longo dos anos, portanto todos sabem como devem proceder no dia que me finar. Estou a passar uma fase da minha vida em que começo a sentir o cheiro da morte e essa percepção agarrou-se á minha pele como uma carraça e já em Novembro do ano passado comecei a tomar decisões nesse sentido quando convoquei os meus filhos para uma reunião de família, e alienei grande parte do meu património.
Não faço questão que me chorem quando eu partir, pois a lágrima de um filho pelo pai ou vice-versa, nunca será substituída por mais nenhuma, venham elas dos olhos que as verterem. Nunca fui um homem azedo, vingativo ou de má índole, sempre estive bem comigo e com o mundo, quando chegar a minha hora irei com a sensação de que o meu dever foi cumprido, mais como pai do que como marido, mas lamentavelmente no meu caso a aprendizagem e o aperfeiçoamento do carácter chegaram um pouco tarde.
Quanto a mim, é sobejamente sabido o que pretendo que seja feito das minhas cinzas depois de incinerado, quero que as mesmas sejam distribuídas pelos 4 elementos que compõem o mundo a saber: fogo, ar, agua e terra. Como durante a incineração já fui submetido á prova do fogo, as outras 3 restantes deverão ser igualmente cumpridas. Parte das minhas cinzas será metida num frasco devidamente selado e lançado ao mar numa zona profunda que não dê ou seja arrastado para a costa, outra parte será lançada ao vento num dia em que ele sopre com força, e a ultima será lança-las na terra num buraco relativamente profundo para que com esta se misturem. Não estou a fazer quer uma confissão ou um testamento das minhas últimas vontades apenas a expressar alguns pontos de vista sobre a inevitabilidade que a todos baterá á porta num dia de um ano dos 40 calendários espalhados pelo mundo, mas todos eles se enquadram numa das tês categorias a saber: o solar, lunar ou lunisolares, dependendo da religião professada por cada um dos candidatos a defuntos.
Estou a chegar á fase final da minha longa corrida chamada “VIDA”. Foi uma prova estafante percorrida em várias etapas de escalões etários, cada uma delas com os seus prazeres e desprazeres, gostos e desgostos, encontros e desencontros, saboreados, quer com mel ou fel. Poderei afirmar sem estar longe da verdade, que nesta altura tenho a consciência absoluta que estou a dar os primeiros passos na antecâmara do interlúdio que me levará para a terra de ninguém ou eternidade. Vou iniciar uma caminhada sem retorno, será aquilo que chamarei um bilhete de ida apenas, sem ilusões de poder voltar e contar o que vi, uma vez que não acredito na reincarnação nem perfilho da crença espírita. Mantenho contudo alguns pequenos sonhos que gostaria de poder vir a concretizar e tudo farei para os não deixar ir para contencioso. Deixarei muitas coisas por fazer, livros por ler, filmes por ver, musica por ouvir, locais por visitar, amigos por saudar, carinhos e afectos por dar. Ultimamente o meu filme de vida corre em sessões continuas, no ecrã situado na parte posterior do meu cérebro, é uma visão que me persegue quase que diariamente e que de certa forma me atormenta pois jamais poderei reparar alguns estragos emocionais que fui fazendo ao longo da vida. Fiz opções de que me orgulho e outras que profundamente lamento ter exercido, mas foram escolhas movidas pelas circunstâncias da altura, aliadas á forma temperamental como reagia a certas solicitações, desafios ou provocações. Admito que nem sempre o bom senso, a concórdia ou as soluções pelas quais optei imperaram por ser as mais acertadas ou pacíficas. Por longos períodos de tempo caminhei solitariamente pela vida escolhendo percursos alguns bastante sinuosos e pouco concorridos e isso preparou-me para a vida de uma forma a tornar-me o menos vulnerável possível. Quando hoje olho para trás e revejo o filme da minha vida em câmara lenta, gostaria de o poder editar, cortando cenas desse filme, que não foram bem interpretadas, ou então repetiria a mesma cena até que o desfecho interpretativo fosse diferente. Nesta altura a 5 meses de celebrar mais um aniversário, o tempo corre mais célere do que nunca, pois quando somos novos a percepção temporal é completamente diferente, por vezes até parece que o tempo não passa e que a juventude ou adolescência se eternizam. A vida é feita de escolhas, e nem sempre nos podemos orgulhar de ter feito as melhores, só que a pedra depois de atirada ou a palavra proferida jamais voltam para trás. Por vezes pergunto a mim próprio se alguma vez atingi a plenitude da felicidade? Acho que o meu instinto de preservação e auto defesa pelo menos me impediram de caminhar pelos vales sombrios da frustração e desespero, pois sempre consegui gerir os meus sentimentos com sangue frio, clarividência e contenção de forma analítica e racional. Nunca interferi ou causei problemas nas vidas das minhas ex mulheres, as quais sempre foram por mim respeitadas, admiradas pelas suas qualidades.
Penso que lidei bem com ambas as situações, quer quando usufrui do prazer de viver no topo da montanha ou no seu vale sombrio. Contudo por vezes quando vivemos esses estados de alma, isso requereu muita perícia e equilíbrio, pois é como ter de se caminhar na corda bamba e atravessa-la sem cair, ou caminhar sobre brasas sem nos queimarmos. O povo costuma dizer no seu saber secular “de que não há bem que sempre dure nem mal que se não acabe”. Não é possível viver-se quer num estado de elação ou depressão permanentemente. Também não é necessário fazerem-se promessas á Nossa Senhora de Fátima quando as coisas correm bem, ou pactuar com o Diabo quando tudo corre mal, pois ambas as identidades são mitos cuja ciência um dia irá desmistificar. Quando a minha hora chegar não quero padres, missas, igrejas ou sacramentos, quero ficar em solo neutro despojado de ícones ou de qualquer simbologia que me identifique com qualquer religião até ser levado para o crematório.
Quando se chega a esta idade, seria uma pretensão desajustada submeter-me a um auto de fé o a um julgamento existencial de confrontação entre o presente e o passado, uma vez que hoje da pessoa que fui, apenas me resta o nome. Ao longo dos anos fui mudando de pele como a cobra e de cor como o camaleão, adaptei-me, evolui e maturei e tal como a Fénix procurei renascer das cinzas alicerçado numa estrutura mental diferente a qual me coloca perante as pessoas e o mundo de uma forma que possa ser saboreado, mastigado e deglutido sem deixar a ninguém digestões difíceis ou vontade de vomitar. Em face disto, não me sinto preparado para cometer a injustiça de me colocar no banco dos réus e me auto julgar, ou submeter-me a um julgamento popular de todos aqueles que eventualmente possam ter queixas de mim. Eu já concedi á minha consciência esse papel de juiz tendo aceite a penitência que me foi dada. Este género de exercício é tempo perdido, pois não vale a pena chorar sobre o leite derramado ou tentar juntar os destroços que ficaram pelo caminho há 20. 30 ou 40 anos depois, analisa-los ao microscópio ou disseca-los numa exumação patológica forense afim de diagnosticar as causas da doença que determinaram os seus fins. Nada me tornará imaculado, mas pelo menos deu-me a oportunidade de rever em pormenor quão injusto e severo me tornei desnecessariamente.
Ao longo da vida sempre fui um homem que procurou saciar todos os seus apetites, lutando pelos meus objectivos
Vivi intensamente a minha vida dentro de parâmetros que defini para a mesma, não fui obrigado, empurrado ou coagido a seguir caminhos que não escolhi, portanto não responsabilizo ninguém pelos sucessos ou insucessos que obtive ou recolhi das opções que tomei. Admito e assumo erros que tenha cometido ou decisões que me obrigarem a alterar os percursos ou planos inicialmente traçados para minha vida pessoal, já que a minha carreira profissional foi sempre consistente e nunca permiti que a mesma fosse afectada pelas vicissitudes que pontualmente afectaram a minha vida privada.
A relação que presentemente mantenho com os meus filhos, apesar do deficit parental que existiu durante muitos anos parece-me que gradualmente tem vindo a ser melhorada, e de ambas as partes nota-se um esforço no sentido de uma maior aproximação nos afectos que nutrimos uns pelos outros, muito embora as distâncias geográficas que nos separam não permitam que as mesmas se tornem mais afectuosas. Acho que ambos devido á sua idade, estão nesta altura a procurar diminuir e encurtar o afastamento e de certo modo a frieza que durante muitos anos existiu entre nós, contudo jamais conseguiremos recuperar o tempo perdido. Não foi minha intenção ao escrever este texto, confessar-me, aligeirar responsabilidades, ou assumir na totalidade o fardo completo de todos os insucessos sentimentais partilhados com várias pessoas ao longo da minha vida e muito menos procurar a absolvição de alguém. Também não é uma forma de dar balanço ou de prestar de contas a ninguém sobre os activos e passivos da minha vida, pois para esse fim já investi na minha consciência a capacidade de me julgar. Apenas me limitei a fazer alguns comentários generalistas e pontuais daquilo que foi o longuíssimo filme da minha vida
Permiti-me a deixar de trabalhar relativamente cedo na vida, e com 3 casamentos falhados no meu Curriculum Vitae, por isso entendi que não voltaria a fazê-lo de novo em circunstância alguma.
Sinto que estou a dar os primeiros passos num túnel onde a luz é cada vez mais tremeluzente, e ter de caminhar neste nimbo de semi obscuridade implica quedas constantes e cuidados médicos cada vez mais assíduos. É um percurso mental cada vez mais solitário e um afastamento progressivo do mundo real onde o filme do meu passado começa a dar lugar a uma filme novo que começa diariamente mas do qual tenho a consciência absoluta que passará a ser a mais curta metragem que alguma vez interpretei.
Vilamoura 13-4-2012
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