sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

SAUDOSISTAS

Confesso que me admira e surpreende que nas páginas que existem no Facebook sobre Angola, as pessoas ao fim de tantos anos de lá terem sido expulsas, enxovalhadas e roubadas dos seus bens e apelidados de colonialista e racistas ainda se babem e chorem como velhas carpideiras sobre um território onde alguns nasceram mas onde a grande maioria apenas viveu durante alguns anos. A cor da pele, o poder, o dinheiro, a religião e a política dividem as pessoas até ao nível familiar. Em Angola assisti a casos que provam aquilo que afirmo, onde laços intimistas provenientes de amizades e consanguinidades, foram atraiçoados e levados até às últimas consequências. Sem querer entrar em detalhes específicos posso afirmar com conhecimento de causa um episódio de alguém que me era próximo. Conheci um homem branco nascido em Angola com um filho que rondava os 30 anos, casado e com filhos fruto do seu casamento anterior com uma mulher angolana também branca. Posteriormente voltou a casar-se com uma mulata a quem fez um filho mestiço que na altura teria perto de 20 anos de idade O filho mulato fugiu de Angola para a Argélia e dai para a URSS logo que terminou o 7º ano no Liceu Salvador Correia. Já em meados dos anos 60 era um adepto ferrenho e convicto do MPLA e portanto foi nas hostes deste movimento onde se engajou, e militou, voltando a Angola para liderar no leste um contingente militar do MPLA. Regressou a Luanda em 1975 incorporado na comitiva pessoal de Agostinho Neto. O pai de ambos era um Roceiro rico que tinha feito fortuna com o café na zona dos Dembos e possuidor de alguns dos maiores prédios da Marginal de Luanda. Este homem respeitado na comunidade pela actividade e nome era muito conhecido, o qual passou pela vergonha de ter um filho terrorista, o que com o desgosto lhe abreviou a morte. O seu filho branco ficou a gerir os negócios do pai tentando defender o seu património imobiliário das convulsões politicas entre os 3 movimentos de libertação que se digladiavam em Luanda. O irmão mulato arranjou maneira de obrigar através de intrigas e ameaças o seu irmão de sangue a abandonar com a família os seus bens e o país que o tinha visto nascer bem como a bela vivenda de família onde vivia no bairro Miramar a qual tinha piscina e court de ténis onde fui algumas vezes. Todas estas maquinações foram arquitectadas com a finalidade de se apoderar da fortuna do pai sem ter que a dividir, bem como da vivenda do irmão onde hoje reside, alegando que este tinha ligações a um movimento branco independentista FUA que tinha surgido em Angola em 1961, liderado pelo Eng.º Fernando Falcão do Lobito. Traições e denúncias ao MPLA aconteciam todos os dias quer por vinganças, invejas ou ambição pelo poder, muitas das pessoas denunciadas desapareciam durante a noite raptadas de suas casas por fuzileiros às ordens de Rosa Coutinho e depois entregues aos torcionários do MPLA para interrogatórios ou detidos na fortaleza á saída de Luanda. Por ordem de Rosa Coutinho todos os europeus foram obrigados a entregar as suas armas pessoais inclusive as de caça, o que acabou por nos tornar reféns dos movimentos de libertação e sem possibilidades de nos defendermos. Para que a paz exista e subsista quatro ingredientes terão que se encontrar do mesmo lado da barricada, defendendo a mesma bandeira e que são os seguintes: maioria da população, poder económico, militar e político, quando isso não acontece as forças dividem-se, e a guerra civil acaba por se instalar até que uma das partes subjugue militarmente a outra e obtenha o controlo de todo o território eliminando a concorrência. Para esse fim existem vários sistemas que se utilizam afim de se proceder a limpezas étnicas até que as populações reconheçam a nossa legitimidade territorial e politica para governar o país, bem como a obtenção do reconhecimento politico pelos restantes países do mundo. Eu compreendo que se Angola continuasse sobre o jugo colonial do Terreiro do Paço em Lisboa, os ricos hoje em 2014 seriam os mesmos ou os seus descendentes que possuíam a riqueza até 1975. Tenho quase a certeza de que pouco mais se teria feito em Angola para a desenvolver. O Governo Português continuaria a chular Angola e todas as suas riquezas bem como o produto venda dos seus minérios ou petróleo continuariam ser pagos em dólares em Lisboa pelas companhias que detinham essas concessões- Hoje após independência e passados quase 40 anos os ricos são outros, mas também não mudaram na alternância a sacar o mel das colmeias onde é produzido. Por outro lado temos que admitir que a Angola de hoje apesar de todas as tropelias e corrupção já se encontra bem longe daquela que deixamos ao patrícios angolanos, muito embora seja apenas uma minoria aquela que goza desses privilégios, pois cerca de 75% da população ainda vive nas zonas rurais devido ás suas origens tribais. Todos os milhares de brancos que foram para viver Angola ou lá ficaram depois de terem feito o serviço militar, não foi com a ideia de explorar os negros, mas sim de melhorarem as suas próprias condições de vida oferecendo as suas qualificações de artesãos numa terra onde as oportunidades eram imensas e falta de pessoal especializado deficiente. Em boa verdade Angola nunca foi Portugal como os políticos portugueses na altura afirmavam o que era fácil, pois os portugueses que lá viviam ou para lá foram não eram politizados e até meados dos anos 60 nem Universidades havia em Angola, pois Salazar tinha receio de que os Angolanos abrissem os olhos demais e ficassem com o “chico esperto no cabeça”. Salazar foi o grande culpado no que respeito a desincentivar o fluxo migratório para Angola onde era preciso carta de chamada ou contracto de trabalho. Salazar tinha medo que a população branca aumentasse demais em Angola e que estes tal como no Brasil pudessem dar o grito do Ipiranga, pois se tivesse sido possível emigrar livremente para Angola tidos os Portugueses que hoje em dia se encontram espalhado pela Europa, Brasil USA e Canadá teriam ido para Angola ou Moçambique se tivessem sido incentivados a fazê-lo, teríamos tido alguns milhões de portugueses espalhados pelas ex-colónias. Em face disso outro galo teria cantado e as independências já não teriam corrido da mesma maneira, muito embora Governos negros pudessem legitimamente passar a gerir autonomamente os seus territórios mas com um equilíbrio de forças diferente. Teria sido elaborada uma nova constituição salvaguardando os direitos de todos e as suas propriedades, haveria de haver deputados brancos na assembleia constituinte em partidos políticos constituídos para o efeito. Em 1975 ou 1976 teria de ter havido eleições gerais onde certamente teriam saído os lídimos representantes do povo os quais cobririam os diferentes sectores rácicos da sociedade e só depois dessa altura as forças militares Portuguesas abandonariam o território e a independência declarada ao partido vencedor das eleições. Novas forças armadas seria treinadas integrando apenas angolanos independentemente da cor da pele a fim de gerar um equilíbrio que assegurasse ás populações a continuidade da sua integridade física, evitando os abusos que eventualmente poderiam ser tentados pela nova maioria negra. Obvio que uma situação destas não agradaria aos movimentos de libertação nem ao MPLA em particular, por isso tudo fizeram para nos correrem do território espoliando ou nacionalizando todos os nossos bens. Dentro de poucos anos terão lá tantos estrangeiros como tinham até 1975 e será que lhe vão de novo chamar de colonialistas ou colonos e expulsa-los do país? Qual a diferença que existe entre os brancos que lá viviam até 1975 e estes que lá vive agora? A grande maioria deles continua a ser de origem Portuguesa, só que não vão para lá ou por lá ficam a ganhar e a reinvestir como nós papalvos fizemos, que deixamos cidades inteiras construídas. Estes novos emigrantes sejam eles portugueses ou chineses, apenas lá permanecem para sacar bons dólares, porque se lhes pagassem em Quanzas não tinham lá ninguém. Pessoalmente não esqueço nem perdoo, portanto em circunstância alguma voltaria a visitar ou viver numa casa de onde fomos expulsos quer por familiares ou amigos os quais desde 1975 continuam a governar ou a apoiar esse poder. Quem não se sente não é filho de boa gente lá diz o velho ditado, portanto saudades de Angola não tenho e muito menos de ruas, prédios, escolas, vilas ou cidades, e como todos os meus amigos regressaram, também lá não deixei nenhuns em face disso não vejo nenhuma razão para amores doentios, contudo respeito quem os sente, tal como respeito quem tem fé por alguma religião enquanto eu sou ateu. Infelizmente não podemos escolher o lugar onde nascemos e consequentemente a nossa naturalidade da qual não me orgulho e lamentavelmente não pode ser alterada como a nacionalidade, portanto cá vou vivendo carregando no meu passaporte e Bilhete de Identidade uma nódoa tremenda a qual jamais poderei apagar. 20-7-2014

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