quinta-feira, 26 de março de 2015

CONHECIMENTO E SABEDORIA

Há algum tempo atrás escrevi um texto onde me debrucei a analisar a diferença entre viver e existir, hoje vou tentar dissecar o conhecimento e a sabedoria uma vez que existem diferenças bastantes subtis e significativas entre todas elas. Recapitulando, na minha opinião, existir não é o mesmo que viver, muito embora segundo o pensamento filosófico de Rene Descartes nos possa dar o direito a existir apenas porque pensamos. Existir e pensar, permite-nos tomar opções e escolher caminhos, definir o nosso posicionamento e lugar no mundo em que fomos lançados. Viver é muito mais que existir, viver implica aprender e, para ser aprendiz, é preciso humildade para reconhecer a própria ignorância. Viver implica educar-se, instruir-se e preparar-se o melhor possível para enfrentar a vida com sucesso em todos os aspectos com que somos diariamente confrontados. Precisamos de experimentar a angústia de saber-se iluminado sem se sentir luz, vivenciando as dores e venturas de sentir-se completo sem poder ser pleno. Viver implica movimento, e não há movimento sem esforço e atrito. Para existir, basta estar, deixar que o nosso corpo se movimente automatizado, tipo robot, ou estar em coma apenas a respirar durante anos. Para vivermos em toda a plenitude, é preciso entregarmo-nos, por inteiro, sem condicionalismos ou reticências. Para existir basta ter sangue a correr nas veias, o coração a bombear, ar nos pulmões e alguma massa cinzenta no cérebro. Por outro lado o conhecimento é o somatório de toda a informação que vamos recebendo e assimilando ao longo da vida e que se torna a base daquilo que entendemos por cultura enciclopédica ou erudição. O conhecimento depende da necessidade de luz que cada um precisa para viver e sentir-se completo. Muita gente limita-se a vegetar na escuridão ou semiobscuridade sem que isso afecte os seus percursos de vida, é aquilo a que eu ironicamente chamo de cultura hidropónica. O conhecimento pode ser adquirido e armazenado em diferentes partes da nossa memória cerebral, de acordo com o tipo de evento que pretendemos memorizar, o qual pode ser guardado ou apenas retido na memória declarativa, imediata, de curto prazo, de longo prazo ou de procedimentos, sem nunca termos personalizado qualquer experiência vivencial na prática. Conheço pessoas com imaginações tão férteis que são capazes de nos contar um filme vendo apenas uma sinopse da apresentação ou que se reveja no herói. Podemos acumular conhecimento literário que traduzimos em cultura se despendermos parte das nossas vidas em biblioteca assimilando e digerindo informação ou em anfiteatros de universidades ouvindo as dissertações dos professores catedráticos ou a decorar frases feitas e clichés. Já a sabedoria é o reflexo de práticas vivenciais, quer sejam o resultado de experimentações, observação de ver e ouvir a própria vida, ousando vivê-la em toda a sua plenitude e dela colhendo a doçura ou acidez indigesta dos seus frutos. É o dom que nos permite discernir qual o melhor caminho a seguir, a melhor atitude a adoptar nos diferentes contextos que a vida nos apresenta São Tomás de Aquino disse um dia: “Há pessoas que desejam saber só por saber-isso é curiosidade; outras, para alcançarem a fama-isso é vaidade; outras para enriquecerem com a sua ciência- isso é negócio; outras para serem edificadas-isso é prudência; outra para edificarem os outros; -isso é caridade. Dizem haver dois tipos de sabedoria a superior e a inferior. A inferior é dada pelo quanto a pessoa sabe, e a superior é dada pelo quanto ela tem consciência de que nada sabe. Ser-se um bom aprendiz da escola da vida é acumular sabedoria e energia superior que vai enriquecer a tua aura. A sabedoria superior tolera, alivia, perdoa, a inferior, julga, culpa e condena. A sabedoria não está relacionada com os graus académicos de cada um, se é bacharel, licenciado, se tem mestrado ou é doutorado, mas sim com a idade, intensidade e variedade com que a vida de cada um foi vivida, e pelas experiências que acumulou e das fontes onde bebeu a sua sabedoria. Nunca confundamos sabedoria com inteligência, esperteza ou astúcia, pois são coisas completamente diferentes que não se complementam nem são sinónimos. Os grandes mestres e pensadores têm todos uma característica em comum que os simboliza e distingue, que á a humildade, são pessoas desprovidas de arrogância e nunca se vangloriam do seu saber, vivem em lugares simples e em contacto com a natureza, sem ostentação ou alarde da sua mentalidade transcendental, desprovidos de bens materiais e por vezes quase numa indigência confrangedora. O conhecimento pode chegar até nós em diferentes formas, fases ou escalões etários e na grande maioria das vezes este não chega até nós gratuitamente e de forma indolor, insipida ou inodora. Há conhecimento que apenas chega até nós ou o sentimos pela forma negativa da dor e do sofrimento, outras vezes muito gratificantemente pela forma inversa. Nunca confundamos conhecimento com sabedoria a primeiro ajuda-nos a ganhar a vida e o segundo a construi-la e a sabedoria da vida é sempre mais profunda e vasta do que a dos homens dizia (Máximo Gorki) 25-5-2014

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