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terça-feira, 24 de março de 2015
RECORDAÇÕES (CONTO)
Esta é uma história entre tantas outras que me proponho contar de forma ficcionada, fantasiada, inventada ou autobiografada, para o caso é irrelevante. Decidi escreve-la passando-a à letra de forma e colocando-me na pele de narrador parindo-a na primeira pessoa para lhe dar vida. Nasci numa das antigas colónias portuguesas mais propriamente em Angola, onde passei toda minha adolescência. Quando terminei o meu 7º ano no Liceu Salvador Correia, fui frequentar a Wits uma Universidade em Johannesburg na Republica da África do Sul onde me licenciei e fiz mestrado. De regresso á Colónia e á Capital já crescidinha e desvirginada, Luanda tinha mudado significativamente nesses meus 7 anos de ausência, não só demograficamente como urbanisticamente tornando-se numa das mais modernas cidades coloniais do antigo Império Ultramarino Português e da costa Ocidental de Africa, virada para as águas do maravilhoso Oceano Atlântico. A minha família, não só por serem autóctones dessa colónia há cerca de 2 gerações, mas também por razões de linhagem familiar, académica e financeira, pertencia á alta burguesia Colonial da época, estatuto esse que lhes permitia ter acesso aos Pôr-do-sol para beberetes em honra de sicrano ou beltrano no Palácio do Governador. Os convites para festas, torneios de bridge, tiro aos pratos, ténis e golfe, pescarias e caçadas eram quase semanais, proporcionando aos meus pais uma miscigenação social com as mais altas individualidades da Colónia. Sem quaisquer complexos, poderei dizer que de certo modo mercê desse estatuto, nome de família que carregava e popularidade que tinha, me relacionei socialmente com a fina flor da sociedade angolana e beneficiando desse estatuto, muitas portas se abriam rapidamente bem como proporcionando-me o perdão de algumas ilegalidades e excessos de pouca monta que cometi. Se bem me lembro uma delas foi por conduzir em excesso de velocidade na Samba e outra fui apanhada por um fiscal de caça a caçar à noite de jeep com farolim nos terrenos do Gomes & Irmão a caminho da barra do Quanza. Bem cedo, comecei a acompanhar meu pai nas suas pescarias desportivas no alto mar e nas suas caçadas pelas savanas africanas. Granjeei fama de boa caçadora e pescadora, pois os fins-de-semana eram habitualmente alternados entre a caça e a pesca aos marlins e barracudas a cerca de 20 milhas da costa e aos pratas na Barra do Quanza onde o meu amigo Marujo tinha em barco de fibra com 2 flutuadores e com um motor de popa Chrysler de 120 HP, guardado numa pequena Marina construída pelo Gastão dono do restaurante situado á beira-rio no Quanza. Um dia ao virmos para o Clube dos Amadores de Pesca na Corimba o motor do barco gripou na rebentação do rio com o mar, e nesse dia aos 24 anos pensei iria entregar a minha alma ao criador, mas essa será outra história que terei um dia de contar.
Mercê do prestígio que tinha como mulher fui convidada para fazer parte de uma equipe de pesca que se deslocou às Ilhas Maurícias para participar num Campeonato do Mundo de pesca ao Espadarte onde obtivemos um honroso terceiro lugar, depois de ter ferrado um bicho com 150 kgs, com o meu carreto “PenSenator” 6 zeros, usando linha de 1mm, o qual me proporcionou quase 3 horas de luta, até o trazer para bordo. Das muitas recordações que retenho da minha adolescência, lembro-me daquela que foi sem sombra de dúvida uma das mais marcantes desses anos que como adolescente, na manhã do dia 20 de Setembro de 1965, aos 17 anos de idade, e depois de várias horas de perseguição a pé a uma manada de elefantes, abati o meu primeiro trombudo macho com presas de 45kgs cada, com uma carabina weatherby Mark IV calibre 378 na fazenda de um amigo de meu pai perto da fronteira do Botswana nas margens do rio Zambeze. Para provar, comemorar e recordar esse facto, o meu pai mandou fazer uma pulseira do pelo desse elefante com uma pequena placa de ouro onde está gravada a data do abate e o meu nome, a qual guardo por razões obvias, mas que deixei de usar, pois acho-a demasiado masculina. Hoje ao entreabrir um pouco a porta do meu historial Africano e mencionando alguns episódios isolados os quais penso que não constituem qualquer inconfidência, nem servem para abonar a minha valentia na prática desses desportos os quais ao tempo eram quase que exclusivamente praticados por homens onde através deles exsudavam toda a sua virilidade e machismo. Desde muito jovem que sempre senti que era através da escrita que conseguia os estímulos e desafios mentais necessários para explanar as minhas convicções bem como para dialogar com terceiros utilizando a prosa como veículo comunicacional. Os meus dotes oratórios de tribuna traduzidos para a escritas tornavam-se exponenciados quando encontrava alguém acima da mediocridade que se propusesse digladiar-se comigo na arena do respeito recíproco das liberdades individuais, debatendo temas demasiado sensíveis, polémicos e controversos, tais como religião, pena de morte, aborto, eutanásia e sobretudo a independência de Angola para serem abordados e discutidos numa sociedade hermética, conservadora e dividida politicamente nessa altura. Nesses anos tínhamos um grupo que formou uma tertúlia onde todas as semanas nos encontrávamos nas casas de cada um com a finalidade de debater depois de uma boa jantarada bem regada um tópico proposto pelo anfitrião para os quais não existiam tabus.
Para todos aqueles que se querem distinguir em direcção à excelência e sair do anonimato a vida não é fácil, pois as dificuldades e os escolhos são muitos quanto temos ambições e deixarmos de querer ser apenas um número fiscal no computador das finanças e começarmos a ser reconhecidos e tratados pelo nosso nome e reconhecidos pela qualidade do nosso trabalho seja ele em que vertente for, desde que adquiramos o prestigio e a notoriedade através do sucesso que com ele tivemos. Quando somos assinalados, notados, falados procurados, e nos tornamos peritos, reconhecidos, admirados, temidos, invejados ou simplesmente bajulados por todos aqueles lambe cus que giram e vegetam no nosso círculo profissional pela luz que produzimos ou pela aura que nos separa e distingue da mediocridade, passamos a ser um alvo preferencial para abater pelos membros da comunidade a quem fazemos sombra ou incomodamos com o brilho da nossa fluorescência ou pela concorrência que causamos.
A escalada para o sucesso e reconhecimento pode ter vários níveis, regional, nacional ou mundial. São mais aqueles que ficam pelo caminho do que os que conseguem chegar ao topo das suas especialidades profissionais e que pela sua tenacidade, investigação, conhecimento produzem algo único e inovativo, que os diferencia dos demais e os catapulta para a galeria de notáveis, tornando-os conhecidos e falados. Toda a canzoada invejosa não deixa de tentar morder-lhes nos calcanhares e canelas, usando de golpes baixos e sujos muitas vezes pela difamação, a fim de os desacreditarem perante as comunidades onde estes se encontram inseridos. O respeito dos nossos pares não se exige, ganha-se com a nossa melhor performance e os métodos que implementamos para o desempenho das nossas funções. Pessoalmente cedo na vida e mercê das minhas vivências adquiri uma mentalidade competitiva e independente, de modo que nunca quis trabalhar para ninguém, ter patrões, horários ou directrizes impostas por terceiros. Por razões que demoraria muito tempo a explicar fiz um curso de gemologia e tornei-me perita em diamantes, e, esse facto levou-me a ter que viajar pelas regiões mais perigosas e inóspitas de África, desde o Katanga na República do Congo, ao Cafunfo perto de Malange, e às áreas do leste Angolano sobre o controle do independentista Savimbi que pagava em diamantes roubados na Lunda á Diamang, todos os mantimentos, armas e medicamentos que recebia em carregamentos vindos da Namíbia. Nas minhas deambulações por Africa visitei várias vezes pessoas nas zonas diamantíferas de Jwaneng e Orapa na República do Botswana. Todos estes negócios que implicavam carregar com avultadas quantias as quais orçavam sempre em perto de um milhão de U$ dólares eram considerados de alto risco, não só pela sua ilegalidade, de podermos terminar os nossos dias numa qualquer prisão africana, mas também pela possibilidade de poder cair numa emboscada ou armadilha preparada pelos vendedores, bons conhecedores do terreno e do dinheiro que transportávamos. Como é óbvio eu fazia parte de uma equipe altamente profissional e poderosa localizada na República da Africa do Sul que me acompanhavam, financiavam e protegiam nas pessoas de Paul Kruger e Van Der Merwa que actuavam tipo guarda costas e carregavam com o dinheiro. Pessoalmente também andava armada com o meu inseparável revólver Smith & Wesson preso á canela debaixo dos jeans. Não é habitual ver-se uma jovem e atractiva mulher como eu metido nestas alhadas, mas isso proporcionou-me não só uma situação financeira invejável como me deu uma preparação para a vida que no futuro me ajudou imenso a poder alargar e diversificar os meus investimentos de molde a poderem-me assegurar uma velhice despreocupada e tranquila. Hoje em dia resido solitariamente algures no mundo o qual já esteve a meus pés, pois quando chegava a Telavive ou Amesterdão para negociar a chamada “Kamanga”, ou “Feijão Branco”, até a passadeira vermelha me estendiam. Hoje em dia, levo uma vida sóbria, despreocupada e informal, não faço alarde de bens materiais, nem pretendo concentrar a atenção de terceiros sobre mim. Sou uma pessoa discreta e recatada e procuro não me expor desnecessariamente aos olhares indiscretos dos meus vizinhos onde o mais perto está a cerca de 500 da minha propriedade. Neste momento estou a escrever as minhas memórias e aventuras africanas, se a minha prosa for digna de interessar qualquer editor pode ser que um dia venha a acabar em forma de livro nos escaparates de qualquer livraria deste mundo e se torne num “bestseller,” quem sabe?
Neste recanto da minha isolada herdade, não vivendo uma vida de eremita tenho o sossego a tranquilidade e a paz de espírito que necessito para meditar, reflectir, investigar e decidir sobre os temas sobre os quais pretendo escrever. Tenho como companheiro um bonito doberman chamado Zeus, que além de ser extraordinariamente obediente se poderá tornar numa arma mortífera sob o meu comando verbal e um Beretta M-92 FS para protecção pessoal bem como uma caçadeira semiautomática Winchester. Ausento-me com imensa frequência para várias partes do mundo por períodos de tempo limitados, por isso deixo o meu doberman num canil perto da área da minha residência que mais parece um hotel de cinco estrelas. Nesta altura nada mudaria no meu estilo de vida, por isso sem fazer muitas ondas vou gerindo os meus negócios em paraísos fiscais com firmas criadas para esse efeito, as quais controlam toda a legalidade dos meus investimentos bem como o retorno da repatriação dos capitais investidos. Sendo uma pessoa atenta, vigilante e informada, mantenho todos os meus radares em funcionamento a fim de poder detectar possibilidades de interesse na orbita de negócios onde me movimento e que possam contribuir para enriquecer o meu património financeiro. Nós temos o privilégio de poder escrever e contar a nossa própria história de vida divulgando aspectos quer sejam eles de ordem pública, privada, secreta, ou omitindo e ocultando propositadamente aqueles que entendamos serem prejudiciais afectando a imagem que projectamos para o mundo exterior. Contudo existem por vezes imponderáveis de última hora, coincidências que não podemos prever, antecipar ou controlar e que implicam alterações aos nossos planos. Os caminhos da vida cruzam e descruzam pessoas, proporcionando encontros e desencontros uns agradáveis e desejáveis, outros nem por isso, especialmente quando fogem à nossa programação, mas para ambos devemos estar preparados para enfrenta-los e deles sair na mó de cima. Como resultado podem criar-se situações em que as pessoas se atraem ou repelem podendo dar aso a uma mistura de sentimentos que podem originar amores, desamores, traições, chantagens, vinganças independentemente da raça, cor ou credo, especialmente para quem leva uma vida globalizante e universalista. Há quem viva a sua existência até às últimas consequências e folego, outros desistem aos primeiros reveses rendendo-se cobardemente levantando a bandeira branca, quando a má sorte lhes bate á porta. Quem se demite de viver a vida perde a oportunidade da imprevisibilidade, do mistério, encanto, oculto, magia, milagre se é que ele existe, ou do que está para além daquilo que os nossos olhos podem abarcar. Viver permite-nos vir a cruzar com pessoas carismáticas e interessantes que eventualmente possam contribuir para mudar o curso das nossas vidas, iluminando-nos com a sua sabedoria, ou provocar-nos com o seu erotismo e sexualidade. Diariamente a vida confronta-nos com todo o tipo de desafios, tentações, oportunidades que nos levam a ter que pensar, escolher e decidir, mas para que possamos fazê-lo conscientemente, temos que estar bem preparados a fim de minimizarmos o erro, escolhendo o percurso errado. A vida é uma faca de dois gumes, portanto quanto menos nos expusermos a ser cortados pela parte afiada tanto melhor, sem que tenhamos que nos resignar ou abjurar de a viver com receio de cairmos numa cilada que possa causar-nos danos físicos ou psíquicos os quais poderão atrasar o nosso percurso existencial. A vida que nos foi concedida pode ser longa ou curta e sobre isso não temos grande poder de decisão, mas por outro lado temos a possibilidade de a não provocar ou desafiar incorrendo em riscos desnecessários, e um deles é desejar viver permanentemente na faixa rápida vida, queimando etapas com a sofreguidão de atingirmos a ubiquidade através de um desmembramento corporal que nos permitisse estar ou fazer várias coisas ao mesmo tempo em lugares diferentes.
27-12-2006
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