quinta-feira, 21 de abril de 2011

OS MEUS PRIMEIROS PASSOS NO MUNDO VIRTUAL



      
Oscar Wild uma vez disse: “Eu escolho os meus amigos pela sua beleza, os conhecidas pelo seu carácter os meus inimigos pela sua inteligência”. Nesta retrospectiva cronológica e analítica vou recuar 13 anos na minha vida num exercício para memória futura, aquilo que foi o meu caminhar balbuciante quando me iniciei a viajar pela internet. Nessa altura não tinha a mínima ideia de qual o rumo a seguir, nem sequer daquilo que procurava, nem tão pouco da imensidão de informação que a net tinha para me oferecer, fosse qual o campo que quisesse investigar. Corria o ano de 1998, e, nesse período, eu vivia muito tranquilo e feliz na minha acolhedora “caverna” onde sempre me sentia confortavelmente instalado, convenientemente protegido, tranquilo e sossegado. No aconchego desta inexpugnável fortaleza, eu estava de acordo comigo mesmo, ao abrigo das intempéries, vento, chuva, lama, inveja, difamações, confrontos, retaliações, sarcasmos jocosos, invejas ou ciúmes doentios e tresloucados. Tinha terminado com o meu terceiro e último casamento há poucos anos o que me levou a um auto exílio e a um periodo de auto-comiseração por carregar com mais uma cruz de um fracasso no meu historial de casamentos falhados. Concluindo e resumindo, vivia uma vida quase que de asceta, livre de tentações ou solicitações carnais, numa pureza meditativa totalmente imunizado aos ataques do exterior. Foi um periodo de 6 longos meses em que vivi quase como um recluso com a finalidade de avaliar todo o meu passado e tentar estruturar um futuro completamente novo e baseado em alicerces diferentes tentado construir uma esperança de poder ser e dar alguma felicidade num futuro onde viesse a partilhar de novo a minha vida com alguém. Este longo periodo de desintoxicação de alguns maus hábitos de vida, tais como: controlar a minha irascibilidade e prepotência, mas muito particularmente alterar profundamente a minha forma de viver em partilha com pessoas que me sendo queridas, sempre acabei por as desapontar devido a atitudes e procedimentos pouco conducentes para manter a paz e a concórdia. Sempre fui demasiado rígido e pouco tolerante, não me adapto nem pactuo com situações que me desagradam, o que faz de mim um animal por vezes pouco sociável e discriminatório. Não sou fácil de domar nem nunca serei dócil ou amestrado por alguém que me imponha regras ou formas de estar que entrem em conflito com a minha filosofia de vida. Tenho uma personalidade demasiado forte para ser absorvido por osmose, o que faz com que a conflitualidade esteja sempre latente, particularmente quando me recuso a tocar ou dançar a música que os outros gostam de ouvir e muito menos quando são eles a terem a pretensão de serem os maestros. Nesse periodo, encontrei na escrita a minha melhor forma de expressão, e nela comecei lentamente a desenhar o meu novo EU. Entendi que tinha chegado a uma encruzilhada e que tinha que dar um novo rumo á minha vida, só que a escrita manual estava a tornar-se demasiado cansativa de modo que decidi adquirir um computador, o qual depois de ligado á net me permitiram abrir novos horizontes durante as minhas noites solitárias que perante um novo brinquedo me fizeram sentir como um adolescente agarrado a uma playstation. De um momento para o outro com todas estas novas janelas e portas abertas para o mundo vi-me deslumbrado com o novo manancial de oportunidades que as mesmas me passaram a proporcionar num abrir e fechar de olhos. Numa noite de primavera, decidi tal como um pioneiro que desbrava novos caminhos e entrar pelo mundo fascinante e misterioso da interne. Foi como alguém me tivesse desvirginado numa experiência algo temerosa para uma pessoa que pela primeira vez se mete a caminho pelas novas auto-estradas da informação cibernética. Inicialmente a ideia foi a de tentar quebrar a monotonia da minha solidão, com o objectivo de recrear o espírito e estimular a mente. Nessa altura estava longe de poder avaliar todo o potencial e poder que a net me conferia, e a facilidade com que podia interagir com pessoas nos antípodas. E foi aí, nesse mundo virtual onde milhares de pessoa á volta do mundo se cruzam diariamente na procura efémera de aventura, sedução, fantasia, fetiches, ou de outros estímulos de carácter ainda mais obscuro, originários de mentes doentias e psicóticas encontram parceiros sempre disponíveis para partilharem aquilo que procuram. Na net tudo se vende, tudo se compra e tudo se encontra, sejam quais forem as necessidades de cada um. Outras pessoas chamadas de normais, usam a net como um escapismo procurando nela a ténue esperança de encontrarem uma solução genuína para os seus problemas pessoais, os quais podem abranger um enorme leque de desejos ou necessidades que possam contribuir para o seu equilíbrio mental, sentimental ou sexual.
 Por detrás de um ecrã a pessoas podem vestir as peles que entenderem e assumir despudoradamente personalidades fictícias e multifacetadas que através do anonimato que a Internet lhes outorga, lhes permite projectarem imagens completamente desfasadas e distorcidas da realidade. Isto permite-lhes encarnar idiossincrasias que muito no íntimo e no seu subconsciente gostariam de poder publicamente assumir. Contudo no seu quotidiano da vida real quer por vergonha ou por outra razão qualquer, não têm a coragem de o fazer nem de revelar esses desdobramentos de personalidade mais conhecidos por alter egos. E depois deste preâmbulo, vamos ao facto relevante e da consequência que este mundo virtual teve na minha vida nos finais do século passado. Ao abrir pela primeira vez e sem os cuidados necessários uma nesga da minha janela para o espaço cibernético, facilmente conclui que o mesmo se pode revelar de varias formas mais ou menos encapotadas com fins inconfessáveis. Tendo baixado a minha guarda, tornei-me vulnerável ao mundo exterior que me rodeava ficando eu receptivo a contrair os germes e vírus contaminados, para os quais as minhas defesas não estavam preparadas para obstar a sua invasão indiscriminada. A minha deficiente preparação na internet ainda não tinha sistemas de segurança tal como nos aeroportos, afim de fazer passar as pessoas pelos detectores de metais a que eu metaforicamente chamo de mentiras. Uma vez que os “softwares” anti vírus não detectam se as pessoas eram genuínas ou falsas, e, eu pessoalmente ainda não tinha a preparação necessária para desnudar essas mentes que diariamente entravam pelo meu ecrã a dentro, fiquei demasiado exposto e receptivo a ser contaminado. E quando abrimos estas nesgas no nosso sistema defensivo, tornamo-nos vulneráveis e, é, nesta altura que estes vírus femininos oportunistamente entram sub-repticiamente e, se alojam nos nichos do nosso ser para mais tarde através de mutações explodirem de forma maligna ou benigna fazendo-se notar quer pela positiva quer pela negativa. O abrir momentâneo dessas janelas para o mundo foi inicialmente sentida como uma lufada de ar fresco, mas foi igualmente suficiente para deixar entrar imenso “lixo”, que depois de uma triagem mais cuidadosa me demorou algum tempo a incinerar. Como é obvio quando tomei consciência desta imprudência aferrolhei de imediato o meu coração afim de que o mesmo não viesse a ser contaminado, prevenindo-me de imediato com os melhores antídotos conhecidos, bem com todas as poções mais exóticas que me protegessem de contrair ou criar sonhos que muito dificilmente se realizariam. Mas antes destes começarem a fazer o efeito necessário, comecei a sentir que o meu sangue borbulhava e fervia de forma incandescente, pois há já algum tempo que não deixava que ninguém se aproximasse tanto de mim e sobretudo com a perigosidade que algumas destas “profissionais “ da net o fazem. Há pessoas peritas na arte e no engenho de estender a sua teia para apanhar ingénuos que de boa fé, pensam que todos os outros se regem por princípios de ética acima de qualquer suspeita. Quando me apercebi do facto, de imediato accionei os meus mecanismos de defesa começando a trocar as voltas e a embrenhar-me em atalhos que só eu conheço, procurando não deixar rasto e semeando armadilhas nos trilhos que percorri. Mudei várias vezes de nome e de perfil para despistar todas aquelas que pensavam dar o golpe do baú. Mesmo assim, algumas como boas e experimentadas batedoras não desistiram da sua presa e conseguiram farejar o meu rasto, seguir as minhas pegadas de modo que algumas vezes acabei por ser encontrado. Por vezes deliberadamente tomei a decisão de colaborar para ver até onde a fértil imaginação dessas “artistas” chegava e das elaboradas maquinações para me extorquirem o dinheiro que lhes pagasse as passagens que diziam precisar para me visitarem. Desses ocasionais e esporádicos encontros, resultaram algumas situações em que antecipadamente sabendo que nem tudo o que luz é ouro, acabei por constatar que finalmente até existiam algumas afinidades as quais nos permitiram compartilhar alguns períodos de tempo bastante agradáveis para ambos. Todas estas invasoras que mercê das suas capacidades intelectuais conseguiram infiltrar-se rompendo as minhas defesas, algumas até acabaram por demonstrar de forma genuína que não fizeram por motivos ulteriores que não fosse apenas o de arranjarem conhecimentos noutros países que eventualmente pudessem dar origem a ligações amorosas. Como resultado desses contactos, fizeram-se recíprocas aos países de onde éramos autóctones, onde cada um foi anfitrião do outro trocando experiências e partilhando de interesses comuns. Como é óbvio o sexo acabou por ser a parte mais gratificante, explorada e potenciada em todas as suas vertentes, numa reciprocidade de entrega total. Estes contactos e intercâmbio internacionais, serviram não só para o enriquecimento do nosso património pessoal, como para nos valorizarmos como cidadãos do mundo. Essas minhas andanças por vários países, a partir de certa altura, deixaram de ter continuidade, muito embora por duas vezes tivesse estado verdadeiramente apaixonado o que me levou a viver fora de Portugal alguns longos meses por mais de uma vez. Escrevi diários dessas viagens, reflecti sobre as mesmas e cheguei a várias conclusões de que as diferentes culturas, hábitos, tradições, passados históricos, origens sociais acabam mais cedo ou mais tarde, a dar origem a conflitos que na maioria dos casos se tornam inultrapassáveis. Mas como tudo na vida tem o seu tempo, entendi a certa altura de que era um imperativo categórico que terminasse com estas aventuras, e passar a procurar localmente pessoas com as quais eu pudesse gerar afinidades mais compatíveis e consensos devido a uma maior similaridade de culturas.

23-07-2010

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