segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A MINHA RADIOGRAFIA

Ao longo da minha vida sempre procurei gerir os meus impulsos, emoções, sentimentos e reacções, de uma forma analítica e racional afim de evitar que as descargas emocionais positivas ou negativas acumuladas não fossem extravasadas de uma forma aleatória contrária a minha sólida formação moral e cívica mas sobretudo que as pessoas erradas sofressem a acidez do meu mau humor. Agora, com toda a maturidade que adquiri através das experiências intensamente vividas, tudo se torna mais fácil de compreender, solucionar e gerir. A vida passou a ter cada vez menos segredos para mim, e, o meu naipe de soluções foi enriquecido, uma vez que os problemas que surgem na sua grande maioria já são repetitivos, portanto aplica-se a mesma solução que no passado já foi usada com sucesso. Hoje em dia sinto-me um cidadão do mundo, deixei de ser paroquial, regionalista ou mesmo nacionalista, não olho exclusivamente para o meu próprio umbigo nem meto a cabeça na areia como o avestruz, por isso, quando chega a hora de expor, denunciar ou debater seja que assunto for, faço-o com lucidez e objectividade, sem pruridos ou remorsos de consciência de contrariar os pontos de vista de quem quer que seja Estou preparado para lidar a vida nas praças ou redondéis por mim escolhidos e se tenho que me tornar paladino é apenas para defender a minha própria bandeira, quando e como entender, sem que sinta a obrigatoriedade de ter que afinar pelo mesmo diapasão. Não tenho deuses, gurus mentores ou falsos profetas que me endócrinem com as suas teses filosóficas, pois a única verdade onde alicerço o meu projecto de vida é aquela que é ditada pela minha cabeça, e, em que eu e a minha consciência acreditamos. Nestes últimos anos tornei-me o meu próprio Pigmaleão, reconstruí o meu carácter, poli arestas e repensei a vida reformulando o meu posicionamento perante a mesma. Este novo Eu, projectou-me para uma libertação física, mental e espiritual que me fez despojar do meu materialismo mercenário, abrindo-me novos horizontes para um mundo totalmente novo e desconhecido. As minhas prioridades na vida inverteram-se, a minha missão alterou-se e os objectivos tornaram-se mais consentâneos com a linha filosófica de pensamento que hoje em dia perfilho. Adquiri anticorpos que me permitem passear pelo mundo quase que totalmente imune à mesquinhez provinciana, a perfídia maquiavélica, a critica mordaz, ao elogio como tentativa de promover a minha vaidade ou ego, a calúnia soez ou a maledicência desbocada, sem que isso me ofenda ou promova dentro de mim sentimentos retaliatórios. Elevei-me para um patamar onde a minha interdependência de terceiros é total tendo como único patrão a minha consciência. Há longo tempo que decidi ostracisar os incultos, imbecis, invejosos, e fanáticos, pois esses nada de útil podem contribuir para a nossa sanidade mental que apenas bloqueiam o nosso progresso em direcção aos nossos objectivos. Quando há pouco tempo comecei a abrandar a minha actividade profissional, por opção pessoal, espantei muitas pessoas com a minha decisão, contudo não o fiz por inspiração divina ou por apostolado, mas sim para dar inicio a um projecto de vida inovativo que vinha arquitectando dentro da minha mente desde os tempos da adolescência, uma vez que não era mais a parte financeira que me fazia correr na vida, mas sim outros projectos com os quais me identifico e aos quais penso entregar-me de corpo e alma. No início da minha carreira académica costumava falar com os meus botões em longos monólogos sobre um único tema: “Quando um dia for rico deixo de trabalhar afim de gozar a vida”. Muito embora não tenha conseguido atingir esse estatuto em pleno, penso que me encontro pelo menos a mais de metade do caminho, o que de certo modo já me permite concretizar alguns dos meus sonhos a curto e médio prazo, pois a grande maioria das condições essenciais para esse efeito já se encontram reunidas. Uma das premissas fulcrais, era, a de que, essas realizações fossem possíveis de conseguir numa idade em que o desejo, a fantasia a disponibilidade física e capacidade mental estivessem todas a funcionar em uníssono e que a unanimidade fosse total. Não quis procrastinar deixando esses meus sonhos para uma altura, em que a decadência e a senilidade já estivessem a corroer e controlar o meu corpo. Aquilo que me diferencia da grande maioria das outras pessoas, é, que estou, há já longo tempo, a fazer exactamente aquilo com que sempre sonhei, sem ter que me sujeitar a esperar pela idade da reforma afim de iniciar os meus hobbies ou novos projectos de vida. Estou a ter tempo para ler avidamente tudo aquilo que para mim são referências e a viajar sem data de regresso para destinos pouco usuais que os sazonais “package tours” não cobrem ou contemplam nas suas brochuras. As minhas viagens são exclusivamente planeadas com o intuito de enriquecer o meu património cultural e criteriosamente programadas e seleccionadas geograficamente dentro de parâmetros pouco ortodoxos mas que obviamente estão condicionados a componentes previamente por mim estabelecidas tais como: prazer, aventura, exotismo, passado histórico, religioso, cultural, beleza paisagística, gastronomia, música e a facilidade de relacionamento humano e linguístico. Durante essas estadias escrevo sobre o que vejo, sinto, cheiro, toco e saboreio, delicio-me a beleza sensual e exótica das mulheres, seus odores, vestes e fragrâncias, com os cheiros das especiarias exóticas o sabor dos cozinhados locais, da beleza dos seus monumentos, esculturas, pinturas ou peças artesanais. Observo com atenção as diferenças das vivências, hábitos e tradições, sejam elas de que carácter forem, respeitando-as, e, sem fazer juízos de valor ou comparações despropositadas aceito-as, respeito-as, muito embora possa eventualmente delas discordar. Na origem destas viagens pode eventualmente existir ou não uma componente amorosa a levar em linha de conta a qual poderá eventualmente tornar-se dolorosa quando chega a hora da partida., mas que inexoravelmente acabam por ser diluídas na voragem do tempo sem deixar sequelas graves de sarar, mas apenas recordações gratificantes de semanas ou meses em que numa reciprocidade partilhada e entrega total acabamos por deixar para trás pedaços de nós próprios. A faculdade que hoje sinto em me deitar com um sonho e ter a possibilidade de acordar com ele, é, um privilégio, de que poucos se podem gabar, pois a grande maioria deita-se com um sonho e acorda com um pesadelo. Há longos anos que deixei de hipotecar o meu presente em relação a um futuro que não sei se o vou ter, portanto adoptei o lema de não protelar os meus objectivos na eventualidade de os poder concretizar ainda hoje. Os segredos e as soluções para enfrentar a vida não se herdam dos nossos progenitores nem se aprendem nas Universidades, tem que ser descobertos, desvendados e vividos. As nossas vidas poderão tornar-se paraísos ou calvários como resultado das nossas experiências e vivências pessoais e da forma como solucionamos os problemas com que a vida nos confronta diariamente. Para que as nossas tarefas sejam facilitadas, o erro minimizado a dor atenuada ou o gozo e prazer potenciado, necessitamos de alguma sabedoria, senso comum, serenidade, inteligência, determinação, perseverança e alguma dose de sorte à mistura. Ninguém nasce com o destino traçado e se os fatalistas pensam assim, estão redondamente enganados, pois grande parte da nossa vida, do sucesso ou insucesso da felicidade ou infelicidade apenas depende da forma como alienamos ou gerimos o curso dos eventos. A vida tem que ser vivida minuto a minuto, não para como um motor avariado e recomeça depois de ser reparado, portanto não devemos passar procurações para que outros a vivam em nosso lugar e nos representem nos momentos da derrota ou da vitória. Temos que ter a coragem de dar a cara e assumir as nossas responsabilidades quando chega a altura do confronto ou da prestação de contas. Não podemos passar ao lado da vida como meros espectadores, recusando viver a vida que nos foi dada, ou tentar viver a vida de outros. Pessoalmente nunca me senti atraído a queimar etapas, dar saltos no escuro ou tiros nos pés, com receio de cair em áreas de desconforto para as quais não me encontrava preparada para habitar, nem tão pouco a abrir portas que não tivesse a coragem de atravessar. Nestes últimos anos tenho vindo a orientar a minha vida apenas baseado em dois aspectos fundamentais: a qualidade e a excelência, atributos que reputo de essenciais quando exerço as minhas opções de escolha, quer sejam numa interacção social, num relacionamento emocional, num projecto profissional ou na simples compra de um queijo. Estes últimos anos têm sido vividos com grande intensidade, numa entrega visceral que têm decisivamente contribuído para que tudo o que hoje faço na vida, tenha como ingrediente principal o amor e por vezes a paixão, nada por frete, dever ou obrigação. O meu eclectismo tornou-me mais interessante como pessoa, passando a ser mais desejado e procurado como amigo, mais apetitoso como amante e mais temido e respeitado como inimigo. Deixei de estar interessado em relacionamentos meteóricos, preferindo a continuidade onde ambos os interlocutores possam ter tempo para se ouvirem e debater numa base de respeito mútuo, diferenças de opinião que possam ter sobre determinado assunto seja ele banal, controverso ou polémico. Como a vida não é fácil de ser vivida em êxtase ou felicidade contínua, temos por isso que estar preparados para com ela lidar quando a mesma se torna adversa ou madrasta. Eu penso que tudo se resume a uma questão de atitude, consistência e coerência na maneira como defendemos intransigentemente ou não os nossos valores e convicções. Se congenitamente por índole formos negativos, cobardes, fatalistas e imbecis, tudo se tornará mais complicado, mas se por outro lado mostrarmos determinação, positivismo, valentia, inteligência e objectividade, tudo se torna mais fácil de vencer. A vida é feita de pequenas guerras diárias com as quais quer queiramos ou não somos inevitavelmente confrontados, portanto quanto melhor estivermos preparados para as enfrentar, tanto melhor, pois mais fácil se tornará a nossa tarefa de as vencermos com sucesso e delas sairmos ilesos. Infelizmente não nos podemos esconder da vida nem tentar passar despercebido ou notado por ela, pois mesmo que tentemos faze-lo, ela não nos perde de vista nem se esquece de nós, pois quando chegar a hora de ela nos expor e notificar da sua presença, é bom que estejamos preparados para a enfrentar pegando-a pelos cornos e lutar pela nossa sobrevivência. Muitas vezes ela apenas nos quer pregar uma partida ou um susto, outras sem aviso prévio deixa que a morte corte cerce a nossa existência e nem todo o dinheiro do mundo a conseguirá subornar ou corromper. Na minha opinião a única diferença que existe entre vencidos e vencedores, sucesso e insucesso, mandantes e mandatários e, de que uns morrerão com dignidade, de pé, de olhos secos, defendendo as sua convicções e os códigos de ética que sempre os regeram sem pedirem sacramentos nem extrema unção, perdão ou compaixão, enquanto que outros a tudo renunciarão e, vergando os joelhos a chorar morrerão, pedindo clemência por pecados que nunca cometeram ou a subscreverem politicas ou credos em que nunca acreditaram. A vida deveria ser por todos vivida alegre a apaixonadamente muito embora por vezes possamos ser humilhados, negligenciados, rejeitados, preteridos, mal amados, usados ou escravizados, mas nem por isso devemos capitular mercê das derrotas ou revezes sofridos, abdicando da vontade de viver sejam quais forem as circunstâncias adversas com que a vida nos confronta. Se cairmos há que de novo levantar, vender cara a derrota, reagrupar e voltar a carga com denodo e valentia redobrada e imbuídos do sentimento de esperança de que o amanhã será diferente e que o nosso príncipe ou princesa encantada se encontram algures neste mundo montados em alazões para nos conduzirem para o paraíso da abundância e felicidade eterna. Hoje em dia, com toda a experiência adquirida uma vez que tenho sido um estudioso aplicado da mente humana e das engrenagens da vida, sinto que tenho alguma autoridade para poder falar sobre a mesma. A vida é feita de armadilhas, manhas e falsidades que eu comparo ás máquinas caça níqueis dos casinos, fartamo-nos de nelas investir e raramente somos compensados com o Jackpot, mas para que não desanimemos elas de quando em vez decidem gratificar-nos com algumas miseráveis moedas para que não percamos a vontade de viver. Durante a minha existência percorri algumas longas e cansativas estradas da vida, meti-me em atalhos pensando que chegava mais depressa ao meu destino, aventurei-me em vielas tortuosas, becos esconsos e sombrios, deslumbrei-me com os neons das grandes e cosmopolitas cidades, embarquei para destinos que a partida me pareciam exóticos e sedutores, mas nunca cometi o mesmo erro duas vezes. Nunca permiti ser seduzido, manipulado ou liderado, sendo os meus desígnios resultado de opções pessoais e convicções próprias. Dentro da mesma linha de pensamento nunca me associei a causas perdidas ou lutei por bandeiras esfarrapadas, mas quando tive que o fazer algumas vezes ao longo da vida, apenas o fiz para defender os valores em que acredito e não os privilégios de terceiros. A minha aprendizagem da vida não foi fácil como se pode imaginar, umas vezes as vitorias foram doces e compensadoras outras amargas e difíceis de digerir, mas mesmo nas situações mais criticas sempre carreguei sozinho com a minha cruz sem endossar responsabilidades ou renegando os meus valores. Nunca ninguém me fará dobrar os joelhos implorando a salvação ou a absolvição. Se entenderem que a minha punição é a crucificação pensem duas vezes antes de o fazer, para que mais tarde, não tenham que me ressuscitar. Para recolher os louros do sucesso aparecem sempre muitos abutres, para assumir o insucesso todos se escondem e escusam a dar a cara e assumir as suas responsabilidades. Algumas das minhas experiência foram rápidas como partos sem dor, outras penosas e longas que me obrigaram a lutos prolongados e travessias solitárias de desertos escaldantes, mas de todas essas experiências ficaram recordações e memórias que enriqueceram o meu carácter e fortaleceram a minha personalidade tendo como resultado final a pessoa que hoje sou e a preparação que tenho para enfrentar qualquer desafio que a vida decida propor-me, pois tenho armas e munições quanto baste para enfrentar e solucionar todos os problemas com a excepção da morte. Vilamoura 3-8-2004

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