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segunda-feira, 29 de setembro de 2014
A TRAFICANTE
Nasci numa das antigas colónias portuguesas onde passei toda minha adolescência. Quando terminei o meu 7º ano fui frequentar a Universidade na África do Sul onde me licenciei. De regresso á Colónia já adulto a Capital tinha-se tornado numa das mais modernas cidades coloniais do antigo Império Ultramarino Português, virada para as águas do maravilhoso Oceano. A minha família, não só por serem autóctones dessa colónia há cerca de 2 gerações, mas também por razões de linhagem familiar, académica e financeira, pertencia á alta burguesia Colonial da época, estatuto esse que lhes permitia ter acesso aos Pôr do Sol para beberetes em honra de sicrano ou beltrano no Palácio do Governador. Os convites para festas, torneios de bridge, ténis e golfe eram quase que semanais proporcionando aos meus pais uma miscigenação social com as mais altas individualidades da Colónia. Sem qualquer complexo, poderei dizer que de certo modo mercê desse estatuto me foram concedidos alguns privilégios no que respeita á minha esmerada educação social, bem como na minha formação académica. Bem cedo, comecei a acompanhar meu pai nas suas pescarias desportivas no alto mar e nas suas caçadas pelas savanas africanas. Granjeei fama de boa caçadora e pescadora tendo mercê desse prestigio sido convidada para fazer parte de uma equipe de pesca que se deslocou ás Ilhas Maurícias para participar num Campeonato do Mundo de pesca ao Marlin onde obtivemos um honroso terceiro lugar, depois de ter ferrado um “Bluemarlin” com 150 kgs, com o meu carreto “PenSenator” 6 zeros, usando linha de 1mm, o qual me proporcionou 3 horas de luta, até o trazer para bordo. Também pesquei vários “Tarpoons” (peixes prata) na Barra do Cuanza e do Dande
Das muitas recordações que retenho da minha juventude, lembro-me daquela que foi sem sombra de dúvida uma das mais marcantes desses anos que como adolescente. Nessa manhã do dia 20 de Setembro de 1965, aos 17 anos de idade, e depois de várias horas de perseguição a pé a uma manada de elefantes, abati o meu primeiro trombudo macho com presas de 45kgs cada, com uma 375 Brno na fazenda de um amigo de meu pai perto da fronteira do Botswana nas margens do rio Zambeze. Para provar, comemorar e recordar esse facto, o meu pai mandou fazer uma pulseira do pelo desse elefante com uma pequena placa de ouro onde está gravada a data do abate e o meu nome, a qual guardo por razões obvias, mas que deixei de usar.
Hoje ao entreabrir um pouco a porta do meu historial mencionando dois episódios isolados os quais penso que não constituem qualquer inconfidência, nem servem para abonar a minha valentia na prática desses desportos os quais usualmente no meu tempo era exclusivamente praticada por homens. Desde muito jovem que sempre foi através da escrita que conseguia os estímulos e desafios mentais necessários para explanar as minhas convicções bem como para dialogar com terceiros em forma de prosa, a que chamo Jogos Mentais. Estas lides, são exponenciadas quando encontro alguém acima da mediocridade que se propõe digladiar-se comigo na arena do respeito recíproco das liberdades individuais, debatendo temas controversos que a sociedade, igreja e os políticos fazem questão de olvidar, pois são demasiado sensíveis de abordar, uma vez que os fazem perder votos em períodos eleitorais. Para todos aqueles que se querem distinguir em direcção é excelência e sair do anonimato a vida não é fácil, pois as dificuldades e os escolhos são muitos para todos aqueles que têm a ambição de deixarem de querer ser apenas um número, um verbo de encher ou um zero á esquerda, para começarem a ser tratados pelo seu nome e reconhecidos pela qualidade do seu trabalho ou pela sociedade onde estão inseridos Quando somos assinalados, notados, falados e procurados pela comunidade onde vivemos, passamos de imediato a ser um alvo a abater, por todos aqueles a quem fazemos sombra ou incomodamos com o brilho da nossa fluorescência. A escalada para o sucesso não é fácil, e finalmente quando depois de muito trabalho e afirmação chegamos ao cume do mesmo, a luta para a nossa manutenção e permanência no topo do mundo, torna-se titânica e desumana. Toda a canzoada invejosa não deixa de tentar morder-nos nas canelas, ou atirando óleo para a estrada afim de nos verem derrapar e cascas de banana para o passeio afim de nos verem tropeçar e cair na tentativa de nos desacreditarem fazendo-nos passar por irresponsáveis ou incompetentes. O respeito dos nossos pares não se exige, ganha-se com a nossa melhor performance e os métodos inovadores que implementamos para o desempenho das profissões. Quando nos tornamos peritos, reconhecidos, admirados, temidos, invejados ou simplesmente bajulados por todos aqueles lambe cus que giram e vegetam no nosso círculo profissional pela luz que produzimos ou pela aura que nos distingue da mediocridade passamos a ser "personas no gratas"..Pessoalmente cedo adquiri uma mentalidade mercenária baseada no meu “know-how”, por isso me tornei “freelancer”, na tentativa de ter apenas o céu como limite á minha capacidade empreendedora e vontade tenaz de adquirir o mais rapidamente possível uma independência profissional que me permitisse trabalhar sem patrões, horários ou directrizes de terceiros. Por razões que demoraria muito tempo a explicar tornei-me perita em diamantes, e, esse facto levou-me a ter que viajar pelas regiões mais perigosas e inóspitas de África, desde o Katanga na República do Congo, ao Cafunfo perto de Malange, e ás áreas do leste Angolano sobre o controle do independentista Savimbi, bem como ás zonas diamantíferas de Jwaneng e Orapa na República do Botswana. Todos estes negócios que implicavam carregar com avultadas quantias em U$ dólares eram considerados de alto risco, não só pela sua ilegalidade, de podermos terminar os nossos dias numa qualquer prisão africana mas também pela possibilidade de poder cair numa emboscada ou armadilha preparada pelos vendedores, bons conhecedores do terreno. Como é óbvio eu fazia parte de uma equipe altamente profissional de sul-africanos com ligações poderosas internacionalmente quer ao poder politico local, o qual nos concedia um certo proteccionismo, mas que nos abandonaria de imediato caso as transacções corressem mal ou as suas percentagens correspondentes não fossem depositadas em bancos Suíços em contas numeradas. Não é habitual ver-se uma jovem mulher como eu metido nestas alhadas, mas isso proporcionou-me não só uma situação financeira invejável como me deu uma preparação para a vida que no futuro me ajudou imenso a poder alargar e diversificar os meus investimentos de molde a poder-me assegurar uma velhice tranquila. Hoje em dia resido mais perto do sol, mas podia viver em qualquer local paradisíaco do Universo tendo o mundo a meus pés. Levo uma vida sóbria, despreocupada e informal, não faço alarde de bens materiais, nem pretendo concentrar a atenção de terceiros sobre mim.
Sou uma pessoa discreta, fazendo uma vida recatada e procuro não me expor desnecessariamente aos olhares indiscretos dos meus vizinhos. Um dos meus “hobbies” preferidos continua a ser a escrita sendo através dela que me vou abrindo ao mundo nestes relatos esporádicos de alguns anos mais aventurosos da minha vida e que ciosamente guardei, até hoje. Neste recanto da minha isolada quinta, não vivendo uma vida de eremita tenho o sossego a tranquilidade e a paz de espírito que necessito para meditar, reflectir e decidir, investigar e preparar os temas sobre os quais pretendo escrever. Tenho como companheiro um belo dobermann chamado Zeus, que além de ser extraordinariamente obediente se poderá tornar numa arma mortífera sob o meu comando verbal.
Ausento-me com imensa frequência para várias partes do mundo por períodos de tempo limitados, por isso deixo o meu Dobermann num canil perto da área da minha residência que mais parece um hotel de cinco estrelas. Nesta altura nada mudaria no meu estilo de vida, por isso sem fazer muitas ondas ou concessões vou gerindo os meus negócios em paraísos fiscais com firmas criadas para esse efeito, as quais controlam toda a legalidade dos meus investimentos bem como o retorno dos capitais investidos. Como também sou possuidora de mais de um passaporte isso obviamente ajuda e facilita certos aspectos burocráticos na ultrapassagem da fita vermelha. Sendo uma pessoa atenta e informada mantenho todos os meus radares em funcionamento a fim de poder detectar movimentações na minha orbita os quais me possam levar a accionar todos os mecanismos de segurança ao meu dispor ou a detectar possibilidades de negócio que possam enriquecer o meu património.
Nós temos o privilégio de poder escrever e contar a nossa própria história de vida divulgando aspectos quer sejam eles de ordem pública, privada ou secreta ou omitindo propositadamente aqueles que entendemos serem prejudiciais ao nosso carácter ou que de uma maneira ou outra possam afectar a nossa integridade e imagem que projectamos para o mundo exterior. Contudo existem por vezes imponderáveis, coincidências que não podemos prever, antecipar ou controlar. Os caminhos da vida cruzam e descruzam pessoas, proporcionando encontros e desencontros. Por vezes, uns são desejáveis outros indesejáveis sem contudo serem programados. Como resultado, podem criar-se situações tais como: amores, desamores, violências, traições, chantagens, retaliações, casamento, divórcios, paixões, suicídios ou vinganças. A vida junta e afasta pessoas independentemente da raça, cor ou credo ou das relações afectivas e assiste impávida e serena ao desgaste, erosão e convulsões dos relacionamentos humanos, ás alegrias, desgostos ou dramas. A vida no seu quotidiano, é usada, gasta, alienada, vendida, emprestada, hipotecada pelos mortais, e, ela imperturbável assiste sem remorsos nem interferências directas a todos aqueles que a vivem, vegetam ou passam ao lado dela adiando sonhos ou projectos. Existem várias maneiras de estar na vida, como motor ou como carga, uns fazem girar o mundo fazendo história, outros vivem-na de uma forma contemplativa ou fatalista. Há quem viva a sua existência até ás últimas consequências, outros desistem ás primeiras confrontações com a adversidade, e entregam-se sem luta, rendendo-se cobardemente á vida quando as primeiras agruras, desapontamentos, desilusões ou frustrações lhes batem á porta. A vida na sua rota, não pára, não espera, não adia a sua marcha inexorável para que os atrasados, lentos ou desistentes acelerem ou desistam na primeira curva do caminho. A vida não se compadece das nossas quedas ou das opções erradas que tomamos, nem dos períodos de convalescença ou de reflexão de que precisamos para recuperar fisicamente ou para redefinirmos opções. A vida segue o seu destino de uma forma implacável, indiferente aos problemas humanos bem como ao nosso estatuto social ou financeiro quer sejamos ricos, pobres, reis, príncipes ou presidentes. Quanto maior for o nosso imobilismo ou as tentativas de adiarmos a nossa vivência, menos tempo teremos para viver, gozar a vida e aquilo que ela tem de bom para nos oferecer, e algumas até de forma gratuita, como seja por exemplo o nascer ou pôr do sol, o despontar das estrelas no céu ou as belas paisagens de algumas regiões que mais parecem Edens terrestres. Por outro lado quem se demite de viver a vida perde a oportunidade da imprevisibilidade, do mistério, do oculto, do encanto, da magia ou do milagre se é que ele existe., ou do que está para além daquilo que os nossos olhos podem abarcar ou ainda de nos podermos vir a cruzar com pessoas carismáticas e interessantes que eventualmente possam contribuir para mudar o curso das nossas vidas ou iluminar-nos com a sua sabedoria. Diariamente a vida confronta-nos com todo o tipo de desafios, tentações, oportunidades que nos levam a ter que pensar, escolher, decidir as melhores opções a tomar perante as diferentes situações que se nos deparam, sendo algumas delas de decisão imediata que não nos permitem dormir sobre as mesmas A vida é uma faca de dois gumes, portanto quanto menos nos expusermos a ser cortados pela parte afiada tanto melhor, compete-nos minimizar o risco sem que com isso tenhamos que nos resignar ou abjurar de viver a vida. Como é óbvio existem certas regras as quais temos que observar criteriosamente sendo cautelosos, previdentes, ter senso comum e uma visão objectiva do caminho que pretendemos trilhar. Os riscos de cairmos numa cilada podem causar-nos danos físicos ou psíquicos os quais poderão atrasar o nosso percurso existencial. Se isso eventualmente nos acontecer temos de ter a clarividência necessária para não perdermos o norte, pois na ânsia desesperada de recuperarmos o tempo perdido ficamos com a nossa capacidade de análise e de lógica embotada o que nos fragiliza e nos deixa susceptíveis a aceitarmos tudo aquilo que a vida nos sugere ou acena como engodo, sem termos o cuidado de separar o trigo do joio.
A vida que nos foi concedida pode ser longa ou curta e sobre isso não temos grande poder de decisão, mas por outro lado temos a possibilidade de a não provocar ou desafiar incorrendo em riscos desnecessários que podem atentar á nossa integridade física. Temos o privilégio de decidir se queremos viver na faixa rápida ou lenta da vida ou ainda de ficarmos imóveis sem correr qualquer tipo de risco vendo a vida passar ao nosso lado esperando apenas que a morte um dia se lembre que ainda existimos e que venha corrigir um erro da própria vida que foi o de nos trazer ao mundo.
Vilamoura 27-12-2006
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