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segunda-feira, 29 de setembro de 2014
RÉQUIEM
Gostaria hoje de começar o meu sermão paroquial do cimo do meu púlpito evocando dois pensamento um do profeta Mahommed transcrito do Alcorão e que diz o seguinte: "Quando as tormentas escaldantes e violentas soprarem e nós não pudermos evitá-las, saibamos com humildade aceitar o inevitável" e a esta citação, vou-me permitir aditar com uma outra da Bíblia que diz o seguinte: "Concede-me Deus a serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar, a coragem para modificar as que posso, e a sabedoria para conhecer a diferença.". A morte não é sempre a forma mais violenta de conhecermos a vida, e esta rasgou ao longo do tempo caminhos que me levaram ao alto da minha cidade, ao topo do mundo e acima do tempo, e por vazes senti a necessidade de ver o Universo e a Humanidade, procurando fazer história com algumas pessoas invulgares, na tentativa desesperada de conseguir ver o menor fragmento da matéria e a mínima palpitação da vida, vi o nascimento de nova aurora e senti o desabrochar de primaveris flores dentro do meu coração. O meu olhar tem sido ao longo da vida a varanda do meu corpo, e todo o corpo em toda a idade tem a sua atracção e o seu fascínio: O corpo imaculado de um bebé, o corpo conspurcado de uma prostituta, o corpo vigoroso e musculado de um atleta, o corpo alquebrado de um operário fabril, o corpo sereno de um esposo que se sente amado e respeitado, o corpo sensual de um boémio, o corpo saturado do homem rico, o corpo escanzelado de um homem pobre e faminto, o corpo sovado de um criminoso, o corpo febril de um doente, o corpo enrugado de um velho, o corpo doloroso de um torturado, o corpo paralítico de um aleijado e finalmente o corpo, são, sadio e apelativo como o meu que apesar da prodigalidade com que Deus o beneficiou, tem tido a espaços, sofrimento muito semelhante a todos os corpos supracitados que descrevi. E a vida o que é? Um momento, um instante, um passo, um segundo, o provisório até se tornar definitivo, ou o passo do temporal para o eterno? Eu, muito gostaria de perfilhar de uma outra citação do Evangelho da primeira carta do apóstolo Paulo aos cristãos de Corinto, que diz mais ou menos isto:" A caridade é paciente, a caridade é benigna, não é invejosa, não se vangloria, nem se pavoneia, não faz nada de desonesto, não busca o próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor do mal, não se alegra com a injustiça, mas com o triunfo da verdade, perdoa tudo, crê em tudo, supera e “SUPORTA TUDO POR AMOR". E não me "azumbro", com as pessoas que piamente, vivem nesse mundo virtual de citações bíblicas, lamentavelmente eu não sou assim. Ao longo da minha vida sempre lutei com falta de tempo, passei longos anos numa corrida desenfreada, andei apressado, sobrecarregado, enlouquecido, assoberbado, pois apesar de todo o esforço, o tempo nunca chegava, chegando a pensar que tinha havido desde a criação do mundo um erro geral na contabilização do tempo, as horas eram curtas demais, o dia curto demais, a vida curta demais, mas depois de uma consideração mais racional e analítica, concluí que o tempo foi dado e distribuído às pessoas para elas o utilizarem o melhor que podem e sabem, mas é preciso não matar o tempo, pois ele constitui um presente que nos é dado diariamente mas perecível, portanto não pode nem deve ser esbanjado em projectos fúteis, pois o tempo é infelizmente um presente envenenado que não podemos conservar indefinidamente. Eu agora tenho todo o tempo do mundo, para sonhar, para dar a volta ao mundo no meu barquinho de papel numa poça de água deixada pela chuva, quero passar os dias de verão á beira mar construindo castelos na areia com os meus amigos, quero que as maiores competições em que tenha que entrar sejam os jogos do pião e dos berlindes, quero de novo voltar a acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, dos carinhos, dos beijos, nas palavras gentis, na solidariedade humana, na fraternidade, na justiça, na paz nos castelos no ar, e, que tudo isso vale muito mais do que todo o dinheiro do mundo. Hoje apenas me restam os anos da minha vida, os dias dos meus anos, o natal a Páscoa e o ano novo, e todos estes dias e tempo os vou triturando e gastando sozinho numa contagem decrescente e inexorável, como se eu fosse um foguetão na rampa de lançamento aguardando em contagem decrescente o momento da partida, não para o espaço sideral numa viagem curta, mas sim, para uma viagem ás entranhas da terra para todo o sempre. Penso que ao longo da vida, salvo raras excepções tenho vindo a incorrer na fúria divina pois não observei esta outra citação bíblica que diz: "Ninguém pode servir dois senhores: ou há-de odiar a um e amar outro, ou se apegará a um e menosprezará o outro" Eu sei, reconheço e constato que os meus pés de barro cederam muita vezes, envergonho-me de ter virado a cabeça leviana e desnecessariamente, pois a tentação da carne e do sexo foram superiores, e o desejo de possuir outras mulheres uma prioridade, e "elas" ficavam mudas, silenciosas, magoadas, tal como noivas desesperadas que vêm o seu amor no braço de uma rival. E quando o vento finalmente se calou, tão bruscamente como longos anos atrás tinha começado, quando o raio se apagou, após ter rasgado a penumbra, e o mar bravio amainou, e, eu olhei à minha volta, constatei que estava sozinho, enojado e envergonhado por pequenos e insignificantes pecadilhos, tal como um ladrão que apenas rouba tostões... Foram pequenos pecadilhos que escolhi, como um cliente escolhe mercadoria da prateleira de um supermercado, mercadoria essa que não posso jamais devolver pois a firma faliu, e o vendedor morreu, foram pecadilhos sem cheiro, sabor e paladar, foram pecadilhos que não deixaram nódoas, sem nexo de causalidade, sem efeito, foram pecadilhos que nunca neguei, não escondi, não prometi, não encorajei, nem me enojei, mas que infelizmente se colaram à minha pele para todo o sempre. Eu não escolhi nenhuma forma de punição para aligeirar as minhas culpas nem uma coroa de espinhos, portanto cá vou indo e expiando os meus pecados de uma maneira cómoda e no meu timing. Hoje em dia continua a chover no meu coração, a relampejar na minha mente e a trovejar no meu sexo, numa alquimia explosiva de vários sentimento, saudade, remorso, desejo, esperança e fé. Nunca devemos abrir portas que não estamos preparado para atravessar, o que é o mesmo que esconjurarmos o demónio e depois recusarmos a ouvi-lo.. O que a grande maioria das pessoas anda agora a descobrir nas suas vidas, já eu vi ou vivi há longo tempo, o que me torna imune e insensível às convulsões do quotidiano com que me deparo, pois elas não passam de repetições, imitações ou simulacros baratos e de baixa qualidade dos originais que já anteriormente enfrentei.
Vilamoura
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