segunda-feira, 29 de setembro de 2014

AFRICA

Os exploradores Hery Morton Stanley, David Livingstone, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens juntamente com o grande caçador Theodore Roosevelt presidente dos USA e a Dinamarquesa Karen Blixen foram as minhas grandes referências de pessoas fascinantes que passaram pelo no Continente Africano, deixando marcas indeléveis da sua presença pelas suas odisseias as quais podemos seguir pelos seus diários. Tive o grato privilégio de numa das minhas visitas ao Quénia visitar pessoalmente a casa onde esta grande apaixonada aventureira viveu e que deu origem ao filme “Africa Minha” com a Meryl Streep e o Robert Redford, a qual está hoje transformada num museu. Esta extraordinária mulher casada com o Sueco Barão Bror Von Blixen-Finecke foi uma das grandes caçadoras de Africa. E uma das suas citações que passo a reproduzir “ipsis verbis” diz o seguinte: “O meu relacionamento com a velha Africa foi na verdade um caso amoroso muito forte, foi amor á primeira vista e para todo o sempre”. Eu aconselho a quem gostar de Africa que leia o livro de Peter Beard intitulado The end of game” (O fim da caça), com fotos magníficas do virar do século de quando em Africa ainda se viam manadas de centenas de elefantes. E já que falamos de África gostaria de começar hoje o meu sermão do topo do Monte Kenya, dizendo ao mundo que este Continente o segundo maior do mundo, composto de 52 países e com riquezas incalculáveis tem despertado a cobiça das maiores potências quer do mundo Ocidental como Oriental. Todos estes países conseguiram a sua independência depois dos anos 50, umas as autodeterminações foram-lhes concedidas pacificamente pelos Colonizadores outras foram obtidos de forma revolucionária e violenta. Tem o mundo assistido impávido e sereno e de forma quase que indiferente aos genocídios, limpezas étnicas entre tribos destes países Africanos e ao sofrimento excruciante dos seus povos, quer nas guerras independentistas, revoluções internas, guerras civis, golpes de estado encabeçados por militares ou governantes corruptos ou ainda pelas intempéries causadas por variações climáticas. Muito viajei, cacei e pesquei por África, vi nascer o sol incandescente e dardejante no horizonte das savanas africanas e o desabrochar das acácias das Prótea e das Weliwítschias mirabilis Vi os gigantescos embondeiros com as suas enormes múcuas serem derrubados por elefantes enfurecidos como se tratassem de simples e frágeis pessegueiros. Assisti ao abate indiscriminado de elefantes feito pelas tropas coloniais usando Heli canhão a fim de roubarem os dentes de marfim dos pobres animais. As nações africanas tanto foram roubadas por europeus gananciosos como por políticos negros corruptos que têm amassado fortunas gigantescas á custa de delapidarem os bens e as riquezas naturais que nascem quer das entranhas da terra ou das profundezas do mar. Vivi grande parte da minha vida em África portanto posso falar com algum conhecimento de causa. O grande problema africano reside no tribalismo e nas suas origens ancestrais. Não podemos exigir aos africanos em geral que vivam e adoptem os padrões ocidentais de vivência pois isso nunca acontecerá. As também referidas como religiões tradicionais africanas englobam manifestações culturais, religiosas, espirituais e indígenas no continente africano, há uma multiplicidade de religiões dentro desta categoria. Religiões tradicionais africanas envolvem ensinamentos, práticas e rituais que fazem a estrutura das sociedades nativas africanas, reflectem concepções locais de Deus e do cosmos. Mesmo dentro de uma mesma comunidade, pode haver pequenas diferenças de percepção do sobrenatural. São religiões que não foram significativamente alteradas pelas religiões adoptadas mais recentemente (cristianismo, islão, judaísmo e outras). Estima-se que estas religiões sejam seguidas por aproximadamente 100 milhões de pessoas em todo território africano Os africanos tradicionalistas quase sempre reconhecem a existência de um Deus Supremo ou Demiurgo que criou o Universo Oludumare Olorum Ifá, etc.). Muitas histórias tradicionais Africanas falam dele como Deus ou o filho de Deus, uma vez viveu entre os homens, mas, quando os homens fizeram algo que ofendeu a Deus, o divino retirou-se para os céus. Religiões tradicionais africanas são definidas em grande parte por linhagens étnicas e tribais, com a religião yoruba da África Ocidental sendo a mais influente. Muitas são as mitologias religiosas africanas e muitos países têm as suas, algumas animistas que defendem a doutrina de que a alma é a causa de todos os fenómenos vitais e intelectuais. As religiões Africanas são um conjunto de crenças e rituais que nasceram na África Sub Sariana Os indígenas continuam a usar e acreditar num sistema ritualista de feitiçaria conduzido por Umbandas, Quimbandas e Macumbas. Em Angola por exemplo Simão Toco liderou um movimento religioso chamado dos Tocoistas ou Kimbangistas o qual era proibido pelas autoridades portuguesas da época. A África foi o meu berço o meu despertar para o mundo, as minhas longas viagens pelas picadas poeirentas e esburacadas que demoravam dias a percorrer em vez de horas. A minha pele curtiu o sol abrasador que a queimava sem contemplações. Contemplei as grandes manadas de Pacaças a debandar como trovões por entre o capim alto. Sentado em morros de argila construídos pelas formigas gigantes Salalé contemplei embevecidos muitos pôr-do-sol onde os céus vermelhos escorrendo sangue ainda pingam nos horizontes da minha memória. Recordo-me com saudade que usava esses longos momentos para meditações profundas sobre a minha vida e o papel que me seria atribuído pela sociedade com o decorrer dos anos e lentamente comecei a construir o meu projecto de vida, definindo metas temporais, controlando ambições de apenas voar tão alto quanto as minhas capacidades permitissem. Na vida não há empates como no futebol, ou se ganha ou se perde. Não devemos nem por brincadeira esconjurar o demónio sem sabermos como terminar a missa negra. Usando as letras que formam palavras, e palavras que juntas de forma harmónica para expressar ideias ou pensamentos, tento contextualiza-las de forma a sublimar as minhas paixões ou a extravasar a bílis. Vivi África intensamente quer no seu melhor e pior e não apenas em Angola, portanto sobre ela não aceito lições de ninguém. Nunca me azumbrei ás vontades, desejos, directrizes ou caprichos de ninguém mas exclusivamente ás minhas. Ao longo da minha vida sempre lutei com falta de tempo, passei longos anos numa corrida desenfreada, andei apressado, assoberbado, sobrecarregado, pois apesar de todos os meus esforços para tentar racionalizar o tempo este nunca chegava e dificilmente conseguia geri-lo adequadamente pois as solicitações eram muitas. Cheguei a pensar que desde a criação do mundo tinha havido um tremendo erro na contabilização do tempo e da forma como o mesmo tinha sido congeminado. Os dias eram pequenos, as horas curtas demais, o prazer efémero, a vida curta e as noites demasiado longas. Mas com o decorrer dos anos as minhas prioridades começaram a mudar a minha selectividade alterou-se, os meus critérios e opções refinaram-se, de modo que fui chegando a conclusões diferentes sobre o tempo. Este foi distribuído ás pessoas para que estas o utilizem o melhor que podem e sabem, mas é preciso evitar matar o tempo, pois ele é uma dádiva, um presente, por vezes envenenado, outro saboroso, que nos é concedido diariamente mas perecível. O tempo, não pode nem deve ser esbanjado em projectos fúteis e inconsequentes, pois infelizmente que não podemos conservar indefinidamente, guarda-lo, retê-lo para o usar mais tarde. O tempo é como grãos de areia fina se nos escapa por entre os dedos sem possibilidade de retorno. Eu agora, nesta provecta idade tenho todo o tempo que preciso e quero, para viver, sonhar e dar a volta ao mundo no meu barquinho de papel numa poça de água deixada pela chuva. Quero passar alguns dias de verão á beira-mar construindo castelos na areia com os meus amigos, quero que as maiores competições em que tenha de entrar seja jogar ao avião, escondidas, berlinde, pião ou á malha. Quero a todo o custo voltar a acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, dos afectos, ternuras, beijos e carinhos. Quero voltar a acreditar nas palavras gentis, na solidariedade e condição humana, na fraternidade, na justiça e exclusão social, pois tudo isso tem muito mais valor do que todo o dinheiro do mundo. Hoje, seja qual for o tempo de vida que me resta e espero que ainda seja muito, cá o vou triturando ao meu ritmo e no meu “timing,” numa contagem inexorável e decrescente como se eu fosse um foguetão na rampa de lançamento aguardando a contagem para a minha partida, não para a estratosfera numa viagem de dias, mas para as entranhas da terra para todo o sempre. Se Deus existe, quando chegar a minha hora presumo que serei certamente candidato a ser admoestado ou mesmo severamente punido por alguns procedimentos levianos e poucos ortodoxos que tive ao longo da vida. Tudo o que fiz, foi de forma sempre consciente o que eventualmente me levou a incorrer na fúria divina por não ter observado alguns dogmas sagrados das leis de Deus. Eu sei, reconheço e tenho consciência absoluta de que em muitas ocasiões os meus pés de barro cederam e fraquejaram perante a luxúria e outros pecados veniais, pois as tentações eram de tal modo irresistíveis que acabei por soçobrar ás mesmas, e, esse foi o meu calcanhar de Aquiles. Passados alguns anos quando o vento finalmente se calou e amainou dentro do meu coração, e, o calor que me corroía as entranhas acalmou, após ter rasgado como um raio as penumbras do meu ser e queimado a fogosidade que me consumia, as minhas paixões viscerais deixaram de ser arrebatadas e instintivas e a bonança do mar dos Sargaços passou a tomar conta da minha rebelde e inconstante existência. Nessa altura tive um rebate de consciência e após longos meses de reflexão introspectiva constatei enojado e envergonhado que alguns dos meus pequenos pecadilhos nada tinham contribuído para a dignificação da minha vida pessoal. Metaforicamente poderei dizer que foram pecadilhos que escolhi como um cliente escolhe mercadoria das prateleiras de um supermercado só que em vez de a pagar na caixa as roubei como um cleptomaníaco. Hoje é tarde para as devolver ás suas legitimas proprietárias, os supermercados faliram, as donas morreram e as poucas coisas que fui subtraindo foram levadas certamente pelos auditores a ganhos e perdas ou a riscos de operacionalidade. Foram pecadilhos, sem cheiro, sabor ou paladar, foram pecadilhos de tostões e não de milhões, não deixaram nódoa nem nexo de causalidade. Foram pecadilhos que nunca neguei, escondi, ocultei, mas que infelizmente se colaram à minha pele por muitos e bons anos. Eu não escolhi nenhum método de auto-flagelação nem nenhum altar sagrado para nele ser imolado pelos meus inimigos e detractores afim de poderem beber o meu sangue. Se tenho que expiar alguns dos meus pecadilhos tenciona faze-lo de uma maneira cómoda e no tempo decidido por mim. Apesar de alguns bons anos terem passado desde a altura em que a minha vida era turbulenta e conduzida a alta velocidade. Hoje em dia, essa fúria apressada de viver passou, mas o instinto predatório ainda reside nas profundezas do meu ser controlado e açaimado. Esta alquimia que se processa dentro do meu ser com ingredientes e componentes inflamáveis ainda podem, a espaços, ter efeitos de ignificação. Na vida não há empates como no futebol, ou se ganha ou se perde. Não devemos nem por brincadeira esconjurar o demónio sem sabermos como terminar a missa negra. Usando as letras que formam palavras, e palavras que juntas de forma harmónica para expressar ideias ou pensamentos, tento contextualiza-las de forma a sublimar as minhas paixões ou a extravasar a bílis. O que a grande maioria do mundo anda agora a ver ou viver já eu o fiz há muito tempo, e, isso, torna-me quase que insensível ás convulsões do quotidiano, pois são apenas, reconstruções, simulações, imitações das verdadeiras e originais situações que já enfrentei no passado. A vida de uma pessoa pode alterar-se ao voltar da primeira esquina, portanto devemos ter os nossos radares a funcionar afim de podermos detectar sinais de que alguém entrou na nossa zona territorial e que portanto justifica que façamos as investigações adequadas antes de aceitarmos “Bona fide”, quem quer se seja no nosso circulo mais intimo e pessoal. 12-10-2003 Vilamoura

Sem comentários:

Enviar um comentário