segunda-feira, 29 de setembro de 2014

AUTO CRITICA

Muitas das definições têm sido escritas sobre o amor, tanto em prosa como em verso, e também verbalizados por amantes ou namorados em momentos íntimos de êxtase, quando as emoções extravasam os sentimentos que nos percorrem a alma. Para mim, tudo se resume numa amizade que arde em fogo escaldante nos primórdios da fase inicial do enamoramento, mas que com o decorrer dos anos, esse arrebatamento tende a abrandar e arrefecer. Depois dos sentimentos iniciais de atracção recíproca se terem esfumado, fica apenas uma grande cumplicidade entre o casal, o qual será transformado em ternura, carinho, amizade, suporte, compreensão amparando-se mutua e reciprocamente em todas as situações. Durante alguns anos da minha solitária vida, e fazendo recurso da Internet, profissionalizei-me na actividade de mercador de sonhos, os quais vendi com algum sucesso através das auto estradas cibernéticas, sem contudo nunca ter garantido que os mesmos se pudessem vir a converter em realidade. Como resultado dessa actividade, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente algumas das pessoas com quem mantive uma interactividade mais intimista. Para que esses encontros se convertessem em realidade, tive que utilizar todo o meu carisma, charme, sedução, manipulação e magnetismo, o que é extremamente difícil de fazer, utilizando apenas o recurso à escrita, da voz através do telefone ou pela webcam. Procurei tal como um mágico, criar ilusões de deslumbramento, que aliada a outra poderosa arma da Alquimia me permitiu vender poções alucinogénicas, que estimulavam o desejo, abrindo portas para novos mundos de fantasia e prazer que tinham como corolário final um efeito poderoso e afrodisíaco sobre a libido. Todas essas pessoas, que me visitaram, vindas tanto do Oriente como do Ocidente, com culturas sociológicas diferentes, vieram ao Algarve, na persecução de um sonho que por mim lhes foi instilado na mente, com duas finalidades. A primeira, a de avaliarem da possibilidade de comigo poderem compartilhar um projecto de vida. A segunda, de passarem umas férias estando receptivas a tudo o que viesse a acontecer se a minha companhia lhes agradasse. Na minha perspectiva de cientista e investigador da mente humana, essas pessoas foram por mim dissecadas e estudadas como ratos de laboratório. Sujeitei-as a testes de vária ordem, com a finalidade de descobrir quais as motivações que as levaram a fazer viagens longas e dispendiosas ao nosso pequeno Portugal, que nos primórdios da nossa correspondência talvez nem soubessem onde geograficamente estava situado o nosso país. Devo aqui confessar, de que, das inúmeras visitantes que recebi em minha casa, todas elas eram pessoas de alta qualidade em todos os aspectos, correspondendo quase que a 100% a todas as minhas expectativas. Tenho igualmente que afirmar, com toda a honestidade e sem rebuço, de que nunca fiz promessas, dei garantias, ou criei esperanças, de qualquer ordem nos contactos através da net. Por outro lado, também nunca enjeitei a possibilidade de me vir a envolver sentimentalmente com alguém, uma vez que era e ainda sou um homem livre, e, consequentemente receptivo a poder encetar uma relação amoroso em qualquer altura, na eventualidade de vir a encontrar alguém que reúna os requisitos essenciais ao meu critério altamente selectivo. Nos contactos preliminares com as minhas correspondentes, vários temas de ordem generalista eram abordados, o que me permitia construir um retrato robot da sua personalidade e ir ajustando as peças do puzzle até ter uma visão mais aprofundada do calibre de pessoa com quem lidava. Numa fase posterior, tentava avaliar sobre o seu conservadorismo ou liberalismo sexual, taras ou fantasias, tanto em mensagens subliminares com inuendos discretos ou com perguntas directas e incisivas de molde a descobrir quais as suas tendências ou limitações. Nessas fases de aprofundamento e descoberta dos seus perfis psicológicos, carências e objectivos, o tema do amor raramente era abordado ou discutido, se bem que não fosse por mim considerado tabu, mas era evitado, pois não considerava ser uma das disciplinas fundamentais a explorar ou debater nesse estágio inicial do relacionamento. Procurei na medida do possível, nunca assumir uma atitude paternalista, mas nunca abdiquei de ser eu a liderar os temas para discussão. Tentei conduzir as “entrevistas” numa perspectiva de professor aluna, sem contudo tornar esse aspecto demasiado óbvio, para evitar ferir susceptibilidades. Penso ter adquirido através do comando da escrita e da forma muito peculiar de como fazia as minhas abordagens e pesquisas, um colaboracionismo equivalente à administração do soro da verdade, pois todas as candidatas salvo raras excepções facultavam-me sem restrições todas as informações por mim pretendidas, sendo algumas do foro intimo e pessoal. Muitas vezes fiquei surpreendido devido a candura das suas respostas. A experiência aconselhou-me sempre a que o meu envolvimento através da escrita, apenas ficasse centrado no aspecto intelectual, académico, físico-imagem e sexual. Procurei sempre manter uma equidistância segura quanto aos problemas do coração. Esse distanciamento aconselhável permitia que a minha lógica e capacidade analítica não fossem contaminadas, o meu sentido de julgamento subvertido, o “timing” de reacção afectado, e finalmente, o meu poder de decisão influenciado. Muito embora, pense que cabe ao homem o desempenho de conquistar o sexo oposto, eu pessoalmente algumas vezes abri excepções deixando-me conscientemente seduzir, por algumas mulheres que sublimaram essa arte de estimular a testosterona masculina. Esses poucos espécimes do sexo feminino a quem concedi esse privilégio já tinham ultrapassado o estatuto de mulheres, pois na fase em que cruzaram a minha vida, já se podiam considerar Afrodites, com uma larga experiência de vida no campo do erotismo e da sexualidade. Quando a grande maioria dos homens pouco experientes, encontra uma mulher nesse estágio e apetrechada com todas essas armas mortíferas, é como se um terramoto lhe desabasse sobre o corpo, ficam escravizados, deslumbrados, e hipnotizados, até que essa mulher decida quebrar o encantamento. São mulheres que usualmente não estão ao alcance dos homens comuns, procurando para acasalar aves da mesma plumagem. Tive ao longo da vida a oportunidade de esgrimir em duelos longos de prazer, volúpia e êxtase, técnicas de sedução em jogos de amor perigosos com algumas dessas Deusas, sem contudo permitir que a minha estrutura física ou mental, sofresse qualquer desvio ou os meus valores desvirtuados. Devo confessar, que é uma delicia e um desafio, ter o privilégio ou a oportunidade de nos podermos cruzar com mulheres dessa estirpe, a que eu chamo encontros na terceira dimensão. Há longo tempo que concluí de que as pessoas não mudam quanto ao ser carácter, contudo podem ser polidas, espelhadas, aperfeiçoadas, treinadas e ensinadas afim de melhorarem quer a sua imagem ou performance em aspectos e para fins que não sejam exclusivamente de cariz profissional. Quer a roupa que vestimos, o visual que escolhemos, a linguagem que usamos, os maneirismos de que enfermamos, podem ter importância determinante nos círculos onde nos pretendemos impor e movimentar, ou da imagem que decidimos projectar. Felizmente e salvo raras excepções, o dinheiro ainda não compra educação, instrução, estilo, classe, charme, fascínio e boas maneiras, muito embora quem não possua estes requisitos básicos de berço, possa adquirir algumas noções dos mesmos desde que se proponha a aprende-los e a pagar para isso. Algumas pessoas têm uma enorme cobardia enorme em viver a vida, esses mortos-vivos aos quais eu chamo almas penadas, apenas ocupam espaço na sociedade, não passando de trambolhos que respiram o oxigénio do ar que tanta falta faz aos que fazem girar o mundo. O oxigénio do ar poluído e escasso, deveria ser racionado para os parasitas, os derrotados e vencidos pela vida, fornecendo-lhes apenas o essencial para vegetarem. Um dos grandes segredos da vida é sabê-la viver com dignidade, alegria, prazer, mas sobretudo com toda a intensidade possível, sem termos que abandonar a nossa zona de conforto, afim se nos sentirmos seguros de nós próprios e em controlo de todas as situações. Um outro segredo é nunca perder a capacidade de sonhar, e ter a determinação de perseguir sem vacilar esses sonhos afim de os converter em realidades palpáveis, pois uma mente sem sonhos é como um céu sem estrelas, ou um jardim sem flores. Todos os pruridos sociais decadentes e bafientos devem ser ostracizados, pois funcionam como espartilhos e algemas que nos condicionam e oprimem, fazendo com que percamos por vezes oportunidades na vida que jamais se repetirão. Saber viver a vida em equilíbrio de forma harmónica e consistente requer disciplina, timing, senso comum, alguma diplomacia, mas sobretudo a grande capacidade de estarmos sempre posicionados para antecipar oportunidades ou problemas, e dos mesmos podermos sair como vencedores ou minimizar o dano. Por vezes as pessoas têm a oportunidade de poder viver uma vida inteira em apenas algumas horas dias ou semanas, mas recusam-se a faze-lo porque não tem a garantia da continuidade desse sonho ou da felicidade eterna. Eu contrariamente penso que sendo a vida uma incógnita, quanto à nossa continuidade nela, devemos vivê-la, educando a nossa mente quanto á nossa perenidade existencial. A vida, não é mais do que um simples percurso em direcção à morte, podendo vir a ser eventualmente terminada em qualquer momento, sem que para isso o nosso consentimento seja pedido. Durante a nossa vida amorosa, existem pessoas que chegam e outras que partem de dentro dos nossos corações. Mas depois de entrarem, devemos deixar a porta aberta para que possam sair livremente quando o desejarem fazer, sem dramas, convulsões, histerismos, ameaças, represálias, vinganças ou chantagens. È preciso deixar entrar as pessoas pela porta principal, e também conceder-lhes o espaço de manobra para que a sua dignidade não seja afectada ao ponto de terem que utilizar a porta das traseiras ou sair durante a noite furtivamente como ladrões. As pessoas não devem viver acorrentadas nem se devem submeter, vender ou alugar por razões que não sejam exclusivamente de amor ou paixão, e onde a reciprocidade dos sentimentos, das manifestações de amor, carinho ou ternura sejam equivalentes e recíprocas. Eu prefiro que as entradas ou saídas do meu coração se processem de uma forma sóbria e sem grandes alaridos, contudo dentro dele grandes batalhas ocorreram. Foram conflitos que nem sempre terminaram com tratados de paz, de tréguas, derrota ou vitória. Por vezes temos que utilizar o recurso a retiradas estratégicas afim de que nenhum dos contendores perca a face, ou os obrigue a abdicar, claudicar sobre as razões iniciais que os levaram ás hostilidades, acabando o incidente por ser esquecido passado algum tempo. Hoje em dia sublimei e criei, 3 alter egos diferente. O primeiro é o do mestre-de-cerimónias, recebo as visitantes á entrada do meu coração que tem quatro quartos, dois ventrículos e dois aurículos. Mostro-lhe os aposentos, dou-lhes a chave da porta para entrarem e saírem quando pretenderem fazendo apenas questão na hora do jantar. Depois entra o anfitrião que se apresenta definindo criteriosamente as regras da habitabilidade, do jogo que pretende jogar, bem como as regras do mesmo. A visitante tem toda a liberdade de apenas fazer o que lhe apetece, sem ter que se sentir constrangida, forçada ou persuadida a ter que agradar ao seu anfitrião ou partilhar com ele algo que lhe desagrade como paga da sua hospitalidade. Depois na última fase, entra o amante, caso a empatia gerada conduza ambos a um patamar mais intimista onde o sexo será o corolário do desejo de ambos os parceiros. Passado esse periodo de encantamento mútuo, e na hora da despedida, cada um decidirá qual o próximo passo a dar no futuro, e se vale ou não a pena, repetir a experiência em data posterior. Vilamoura 2-5-2003

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