segunda-feira, 29 de setembro de 2014

MEDITAÇÕES

Gostaria de que quando chegasse a hora da morte e disso tivesse consciência, de não ter pena de ter morrido, sem ter tido a possibilidade de fazer alguns ajustes de contas, saldar algum contencioso que se arrastou ao longo dos anos sem solução aparente. Concluindo e resumindo, gostaria de antes de partir fazer a paz com o mundo e com algumas pessoas importantes com quem compartilhei anos da minha vida e, ás quais, gostaria de lhes dizer quanto lamento tê-las feito infelizes ou defraudado as suas expectativas. Eu tenho plena consciência da minha quota-parte de culpa, portanto assumo todos os erros sem tentar eximir-me ás minhas responsabilidades. Não estou aqui para aligeirar carga nem a tentar justificar-me, mas sim a manifestar um desejo, que também não implica arrependimento ou remorso, uma vez que apenas posso responder pelos meus erros que foram muitos infelizmente. Tenho contudo a esperança que os outros também assuma a sua quota-parte infinitesimal pelos igualmente cometeram. Se tal como eu, tiverem consciência de que também ocasionalmente falharam e têm telhados de vidro, nunca se atrevam a atirar a primeira pedra, pois tenho munições suficientes para ripostar a todos aqueles que o tentarem fazer. Não estou aqui para imputar culpas a ninguém, mas apenas e unicamente para assumir frontalmente as minhas responsabilidades, pois estive sempre em total controle da minha existência, e ao leme de um barco que nem sempre consegui levar a bom porto. Ocasionalmente tergiversei, e, em vez de seguir rotas seguras e conhecidas atrevi-me e aventurei-me por mares revoltos nunca antes navegados o que me levou a encalhar várias vezes. Em muitas ocasiões, semeei ventos e colhi tempestades, escolhi atalhos sombrios, vielas e becos sem saída, em vez de avenidas iluminadas assumindo o risco inerente a essas escolhas. Para o bem ou para o mal, segui sempre os impulsos da minha testosterona e libido, sem olhar ás chamadas de consciência, os resultados muito embora possam ter sido gratificantes na vertente sexual, foram certamente desastrosos para a minha vida matrimonial. Foram opções que tomei de moto próprio, portanto não estou a assacar responsabilidades a ninguém. Nessa altura, eu procurava desenfreadamente a satisfação sexual complementada pelas minhas fantasias eróticas. A felicidade o amor a paixão, o equilíbrio emocional, só muito mais tarde, cheguei á conclusão de que essas coisas não se procuram, encontram-se por meros e fortuitos acasos do destino. Nesta fase adulta e madura que estou a atravessar, sinto-me imbuído de um estranho sentimento de orfandade, chegando a pensar que apenas na morte encontrarei a paz o sossego que muito raramente e a espaços, consegui encontrar em vida. E quando as encontrei, foram em raros e esparsos momentos não sequenciais, mas que aproveitei para os viver com toda a intensidade do meu ser. Se eu tivesse tido a capacidade de ter sublimado as minhas paixões terrenas e carnais, de ter renunciado aos prazeres frívolos do sexo fácil e tentador, direccionando toda a minha energia física e mental para a procura de um amor místico e metafísico, o qual em principio não implica sofrimento teria sido padre. Só que nunca estive talhado nem tive a vocação ou essa chamada divina para a vida eclesiástica, e, o amor que tenho para dar, preferi sempre dá-lo ás mulheres de carne e osso, do que a Deus, aos santos, santas, santíssima trindade ou outras divindades. Por vezes tenho que concordar que não tive o equilíbrio indispensável, o discernimento, ou o bom senso que me permitisse atravessar com racionalidade as grandes vicissitudes e convulsões da minha atribulada vida sentimental. Por essa razão, fui levado a cometer atropelos, excessos, iniquidades, retaliações, que exerci sobre pessoas que me eram queridas e que não mereciam ser tratadas da forma traumática que usei para recuperar a minha liberdade. Nessas alturas cruciais de rompimento faltou-me a espiritualidade e o meu egoísmo exacerbado levou-me a cometer erros injustificáveis dos quais hoje muito humildemente me penitencio. Mas como a vida não se aprende a ler livros a frequentar cursos sobre ela, ou a ir á escola, mas apenas e exclusivamente através da sua vivência e da gestão das nossas capacidades e recursos, para com ela esgrimirmos as nossas convicções quando somos desafiados, temos de ter a consciência de que nem sempre sairemos vitoriosos dessas contendas, quer sejam profissionais, pessoais, sociais ou emocionais. Quando existe falta de, experiência, senso comum, de visão e maturidade, somos por vezes levados a cometer muitos erros desnecessários, que mais tarde lamentaremos de forma dolorosa a forma como com eles lidamos. Infelizmente o tempo não volta para trás, e, portanto, teremos que carregar essas cruzes por longo tempo até ao Calvário da nossa crucificação e, esperar até que apareça alguém que nos ressuscite para a vida, ou então fazer longas e solitárias travessias de desertos na esperança de encontrarmos um oásis. A vida concede-nos um pouco de tudo, sorte, oportunidades, felicidade, amor, mas também a antítese de tudo isto, por isso precisamos de saber antecipar os maus momentos, prepararmo-nos para eles, gozar os bons em toda a sua plenitude quando estamos nessa maré e manter um equilíbrio adequado quando navegamos entre os bons e maus tempos. Eu, apesar de tudo, prefiro gozar o presente, ter fé de que o futuro será ainda melhor, do que ter saudades de um passado que não posso nem quero voltar a viver, por isso não sou saudosista. Eu sempre procurei viver no fio da navalha e nas paixões arrebatadas e avassaladoras que nos consomem, desgastam e nos obrigam a uma conflitualidade, por vezes difícil de controlar e gerir e, que inevitavelmente, nos fazem incorrer em excessos indesejáveis. Eu diria que tentar viver permanentemente num estado de paixão visceral e irracional, é como conduzir um bólide a alta velocidade, onde o virtuosismo da condução para evitar acidentes, obriga a uma atenção redobrada, reflexos rápidos e uma coordenação de sincronismo entre os membros inferiores e superiores digna de um piloto da formula I. O meu conselho para os casais que vivem uma relação sentimental, é que a vivam num amor calmo, metódico, monótono, conservador e chato, pois adoptando esse tipo de sentimento tem-se a capacidade de raciocinar logicamente sem perder as estribeiras, ou resvalar para violências físicas ou verbais. O viver numa paixão arrebatada e turbulenta, onde o pensamento fica embotado pelos sentimentos efervescentes, que nos cegam e desfocam a objectividade dos factos e das situações, não é saudável nem aconselhável para ninguém. Nesta altura do meu percurso terreno, encontro-me a caminhar para a última etapa da minha vida, portanto o tempo já começa a escassear, o que significa, que já não existe grande margem para erros, nem para tentar novos atalhos, pois o relógio não para por falta de corda, e os nossos atrasos são pagos com língua de palmo. Não é portanto muito agradável, ver-me no desemprego sentimental, muito embora, tenha sido eu a despedir-me sempre unilateralmente e de livre vontade. Contudo, quer seja de uma maneira ou outra, acabamos sempre por ter o desejo ou a necessidade de voltar ao mercado dos sentimentos e dos amores, afim de procurar de novo alguém compatível com quem possamos recomeçar tudo de novo. As minhas exigências hoje em dia são maiores, a minha tolerância é de zero em relação a certos aspectos do perfil que construí para a pessoa que imaginei ser a “minha mulher ideal”. Encontrou-me nesta altura, a fazer um percurso de vida, onde o recolhimento tipo eremita a reflexão e a meditação assumem aspectos inovadores em comparação com a minha atitude no passado. É um trilho onde me sinto pioneiro, para o qual a minha mente não tinha sido previamente treinada para ser sujeita a reconhecer ou admitir erros, a encontrar justificações, e muito menos a ter que assumir frontalmente que falhei. Terei que de uma forma tenaz, diligente e determinada, procurar que no futuro não venha a incorrer nos mesmos erros, pois se a tendência se mantiver as minhas possibilidades de ser feliz e manter uma relação duradoira diminuirão drasticamente. Quando a minha mente, começa a vaguear pelos túneis longos e escuros, sem rumo definido, deambulando como se estivesse ébria, sinto um certo receio dos meus próprios pensamentos, uma vez que ainda estão carregados de certas energias das quais me tenho de libertar, quebrando definitivamente as correntes que ainda me mantém preso a um passado não muito longínquo. Por vezes, parece-me ter entrado para um gigantesco labirinto, sem que tenha a mais remota possibilidade de jamais encontrar a saída, pois não é fácil encetar de novo, uma nova etapa da minha vida nesta idade, e com um passado pouco abonatório em relação a mulheres que definitivamente assustará qualquer eventual candidata. Por isso vou caminhando em direcção a um futuro incerto e desconhecido, onde ninguém me espera, ou se preocupa quer chegue a horas, atrasado, ou se nunca chegar. Usualmente neste meu escalão etário o percurso de vida faz-se acompanhado, afim de que o casal se valha mutuamente em momentos de dificuldade, ou de alegria. Este meu recente passado, queima-me e corroí as minhas entranhas, na medida em que sinto não ter sido capaz de controlar os eventos ou modificar o curso dos mesmos, acabando soterrado numa avalanche de palavras que depois de disparadas causaram impactos de rejeição demolidores no orgulho, dignidade, valores e amor próprio das pessoas que comigo partilharam períodos da minha vida. Na generalidade, depois da primeira crise de qualquer relacionamento, surge a fase das negociações, do arrependimento, da promessa de voltarmos a fazer melhor se nos for dada uma segunda oportunidade. Quando nos tentamos redimir pois reconhecemos que dentro do nosso coração ainda existem resquícios de sentimentos amorosos fortes, vamos lutando, só que essa luta e esforço está por nós a ser medida, pesada e analisada, exigindo da nossa companheira alguma solidariedade, compreensão e incentivo de reconhecimento pelo nosso esforço de mudança. Contudo, se durante esse nosso voto de boas intenções, apenas obtivermos indiferença, crítica e rejeição, todo o nosso esforço perde peso, deixando de constituir uma moeda de troca forte, e a separação definitiva torna-se inevitável. Normalmente as pessoas despedem-se quando partem para viagens longas ou de regresso duvidoso, e quando são queridas e desejadas levam ou deixam saudades, recordações de momentos inesquecíveis, que merecem ser preservados, relembrados, celebrados e por vezes chorados. Eu quando parti definitivamente, preferi não levar bagagem na minha mente ou no meu coração, que me dificultasse novos relacionamentos, portanto preferi matar os fantasmas todos de uma vez só, do que deixa-los sair do armário periodicamente para me atormentarem. Por vezes prometemos abrir portas que nunca conseguimos sequer entreabrir muito menos atravessar, e outras que possivelmente nunca conseguiremos fechar. Os relacionamentos confrontam-nos por vezes com dificuldades inultrapassáveis, amargura, tristeza, frustração, desespero, infelicidade, desapontamento, desconfiança ciúme e finalmente a frieza o distanciamento e desinteresse As promessas e juras oficiais do matrimónio perante os órgãos institucionais pouco contam para mim, uma vez que palavras leva-as o vento, o que realmente tem valor é a nossa estrutura mental e o nosso desejo visceral de não voltar a cometer erros do passado mudando a nossa atitude perante a vida, e ganhar o respeito por nós próprios e o dos outros. Contudo nunca deixarei de olhar para a beleza das mulheres, como o faria se estivesse em presença de uma escultura, pintura ou qualquer outra peça de arte, num museu, galeria ou exposição. De uma maneira ou outra, sei que vou deixar recordações fortes em algumas das mulheres com as quais me cruzei intimamente ao longo da vida Com elas partilhei tardes, noites e madrugadas de êxtase, gloria onde os nossos corpos sedentos, e febris se devoravam a fremir de desejo ardente, erotismo, e, na paixão, se deglutiam se entranhavam possuindo-se um no outro ferozmente, sem fronteiras, sem pudor, sem restrições de uma forma avassaladora e total. Vilamoura 2000

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