segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O ESPELHO DA VERDADE

Vejo-me com um homem culto, educado, instruído, distinto, sofisticado, carismático, bem parecido, charmoso, genuíno, sensível, honesto, sincero, dogmático, pragmático, diplomático, sensual, imaginativo, snobe, sofisticado e arrogante e afectivo quanto baste. Acho que faço parte de uma elite intelectual deste país que me coloca num patamar onde exijo que não insultem a minha inteligência, nem que me tratem como um mentecapto ou imbecil. Possuo um sentido de humor cáustico e mordaz, que uso a meu belo prazer, quando pretendo selectivamente de forma directa, indirecta ou subjectiva, fazer de alguém, alvo das minhas zombarias. Confesso que não sou uma pessoa fácil de lidar, pois sou extremamente exigente e selectivo com todos aqueles que fazem parte do meu círculo social. Sempre vivi em sociedades onde a ordem o método e disciplina eram pedras basilares para a fundação de uma sociedade ordeira e eficiente. Como qualquer pessoa normal, acontece que posso sonhar a dormir ou acordado. Se estou a dormir, não posso controlar os meus sonhos e portanto tenho que os deixar fluir á mente na ordem sequencial que o próprio sonho determina. Se sonho acordado, tenho outros poderes, outra visão e autoridade, podendo indiscriminadamente vestir a pele de quem quero e ter os poderes que desejo. Num destes dias sonhando acordado, pensei que se tivesse a oportunidade de viver num mundo por mim criado, com poderes ilimitados, ele seria muito melhor do que este onde vivo. Abaixo passo a descrever esse mundo imaginário e algumas das leis que de imediato legislaria para serem estritamente cumpridas por todos os cidadãos. A todos os habitantes do meu mundo seria feito um teste do coeficiente de inteligência que faria parte do seu bilhete de identidade, bem como o seu ADN. Acabaria com todas as Universidade Privadas e todos os estudantes que não se qualificassem com as médias exigíveis para entrar numa Universidade Pública, teriam que procurar outros Institutos Profissionalizantes, pois também para além de Engenheiros, Médicos, Arquitectos e Advogadas, também precisamos de calceteiros, sapateiros, cozinheiros, carpinteiros e pedreiros. Acabaria de imediato com cerca de 30% de cursos superiores que para nada servem, uma vez que não existe mercado de trabalho para os absorver. O alto coeficiente de erro, negligência, venalidade, corrupção activa ou passiva, absentismo injustificado, cunhas e apadrinhamentos, seriam punidos com penas de prisão consoante a gravidade do acto. Os estúpidos, imbecis e cretinos seriam apenas usados para trabalhos menores e sempre sobre supervisão. Os drogados seriam desterrados para uma ilha até estarem totalmente recuperados e depois de serem libertos seriam sujeitos a testes semanais para ver se reincidiam ou não. No caso de serem apanhados com indícios de droga no sangue, seriam presos e enviados para campos de trabalhos forçados e agrilhoados, onde seriam usados pelo governo como mão-de-obra gratuita para trabalhos públicos de limpeza e manutenção do país, até se encontrarem completamente limpos de drogas. Aos ladrões e na sua primeira ofensa, a mão que serviu para consumar o delito ser-lhes-ia cortada, e depois a outra em caso de reincidência, pois a partir daí não me consta que existam ladrões que consigam roubar sem mãos. A pena de morte seria instituída com execuções públicas em praças do país em dias e horas marcadas. Isso certamente serviria como medida dissuasora para que futuros criminosos perdessem a vontade de infringir a lei. Os pedófilos e violadores seriam castrados publicamente, para que todos vissem, afim de servir como medida punitiva para quem tivesse a veleidade de sequer pensar em concretizar algo idêntico. Armas nunca seriam vendidas a privados, só podendo ser usadas pelas forças da autoridade neste caso policiais. Todos os cidadãos teriam que se submeter a testes sanitários e sanguíneos periodicamente afim de ser avaliado o seu estado de saúde físico e mental. A prostituição masculina e feminina seria autorizada em prostíbulos autorizados, sendo o uso do preservativo obrigatório, pois todas as prostitutas e prostitutos controlados clinicamente. Todos os clientes ou prestadores desses serviços teriam que deixar a sua identidade, dia e hora que se usaram reciprocamente mediante o uso de um cartão electrónico com a sua identificação num terminal instalado no prostíbulo. Esses prostíbulos seriam inspeccionados pela A.S.A.E aleatoriamente e se quer o cliente ou a prostituta fossem apanhados no acto sem previamente se terem registado no terminal seriam de imediato presos e condenados a um longo periodo de encarceramento. Na eventualidade de alguém aparecer contaminado com doenças venéreas nos testes sanitários periódicos causadas por negligência seria esterilizado. O número de filhos por casal apenas seria permitido de acordo com os seus ganhos salariais. A punição para os casais que tivessem algum filho fora do limite estabelecido, seria a esterilização bem como o retiro da criança após o seu nascimento, e mesma entregue a casais estéreis que procurassem adoptar. Todos os fetos mal formados seriam abortados e todas as crianças com defeitos físicos que as limitassem para sempre, seriam eugenizadas á nascença. Daria ordens concretas a todos os fabricantes de veículos motorizados que dentro dos próximos 5 anos todos os motores por eles fabricados, deveriam trabalhar com energias alternativas á gasolina e gasóleo. Acabaria com todo o armamento existente no mundo bem como o seu futuro fabrico. Os exércitos seriam desmobilizados, e todo esse dinheiro seria canalizado para o bem-estar dos cidadãos. Proibiria a emigração e todo o emigrante ou filho deste que fosse preso por delito grave, seria ele e a sua família repatriado para o seu país de origem. Os importadores de droga por atacado seriam enforcados em praça pública e aos traficantes passadores dar-lhes-ia prisão perpétua. A polícia pública seria reforçada, e a esta seriam dados todos os meios da mais alta tecnologia para poderem exercer a sua profissão eficientemente. A polícia de investigação criminal seria igualmente dotada de todos os mais modernos meios para que não ter que recorrer a laboratórios estrangeiros para obter resultados que demoram meses a chegar. A todos os recém nascidos seria implantado um “chip” electrónico com todos os dados inerentes a essa pessoa e aos seus progenitores. Penso que não preciso de me alongar mais sobre o que faria se fosse dono do mundo. Sou uma pessoa receptiva a aceitar sugestões e criticas quando as mesmas são sensatas e construtivas. Adoro o diálogo, o debate controverso ou polémico, desde que seja conduzido de uma forma estruturada e inteligente, mesmo que não partilhe das posições ou pontos de vista assumidos por terceiros. Abomino todos aqueles que alienam a sua capacidade de pensar livremente, e, em vez de se tornarem cidadãos livres do mundo democrático, se regionalizam paroquialmente, ou se congregam em regimes, grupos, sociedades, facções, seitas, hipotecando ou vendendo, em alguns casos extremos, o direito de ter vontade própria e a liberdade de pensamento. Não tenho qualquer respeito por grupos étnicos, comunidades religiosas fanáticas, seitas evangélicas, ou partidos políticos que vivem intoxicados pelas filosofias que apregoam, pois todos estes supracitados pensam ser os únicos detentores da verdade única e Universal. Aparentemente este intróito nada parece ter com aquilo que vem a seguir, contudo penso ser importante para quem eventualmente me vier a ler que entenda qual o tipo e calibre de pessoa que alinhavou estas palavras, com as quais se formou um texto, onde ficou expresso uma filosofia de que é possível viver-se num mundo melhor, desde que todos cumpram o papel que lhes está destinado na sociedade onde se encontram inseridos. Quando aos chamados “xicos espertos”, oportunistas, que tentam habilidosamente subverter a ordem a leis e valores institucionalizados, utilizando para o efeito métodos condenáveis de burla, coacção, chantagem, ameaças veladas, têm que ser severamente punidos pelas suas infracções. Quando apanhados em flagrante, e provados os seus crimes, passariam a ser elegíveis para incorrer em penalizações que poderiam ser o do açoitamento público, se os princípios que advogo pudessem um dia vir a ser implementados. Mas voltemos a centrar o debate naquilo que eu penso ser importante continuar a analisar. Sou suficientemente independente, e realista para constatar o facto de que, não reconheço a muitas pessoas daquelas que gravitam no meu círculo social, que tenham a capacidade de me poder desafiar intelectualmente. Muito dificilmente perderia o meu auto controlo ou muito estupidamente cairia na infantil armadilha de extravasar o meu descontentamento ou fúria, procurando faze-lo de uma forma menos ortodoxa onde as regras da liberdade de expressão individual, do civismo e boa educação não fossem estritamente observadas. Desde meados de 1992, que tenho vindo a reeducar-me, tentando melhorar a minha atitude, controlar a minha agressividade, intolerância, impaciência e arrogância etc. Tenho passado longas horas, dias e semanas, a polir, limar, desbastando as arestas mais vivas da minha personalidade, pois foram e são essas que tanto no passado como no presente continuam a ser aquelas a quem sentimentalmente, mais situações de erosão têm causado ás pessoas que de uma forma ou outra giraram na minha orbita gravitacional. Nesta fase da minha vida, decidi investir fortemente na reabilitação da minha personalidade com a finalidade de melhorar a imagem que projecto no mundo real, quando tenho que socializar, atrair, impressionar ou seduzir quem me interessar. Passei a ser um estudioso da vida, e das reacções humanas, estabeleço perfis psicológicos, analiso até á exaustão as pessoas quando são deliberadamente confrontadas, provocadas e desafiadas com as suas convicções e valores pessoais. Quando diariamente me olho ao espelho noto melhorias, o meu rictus facial é mais suave, a minha voz mais dócil com entoações mais harmónicas, o meu semblante mais amigável e conciliador, os meus maneirismos menos provocantes, o que me leva a sentir como diamante na sua fase final de lapidação. Julgo ter a isenção que me permite reconhecer, tanto os meus defeitos como as minhas virtudes, e ter a capacidade de introspecção suficiente que me permitem fazer a auto critica e as correcções necessárias á minha idiossincrasia. A consciência não me acusa de alguma vez ter procurado usar alguém para tentar beneficiar-me ou promover-me á custa de terceiros. Espero que ninguém me considere néscio ao ponto de ingenuamente acreditarem que ando neste mundo para ver andar os eléctricos, ou da minha capacidade para avaliar as prioridades ou os valores em jogo. Uma decisão mal ponderada ditada pelo coração e não pela razão, podem levar ao colapso e ruptura total, como se de uma viagem sem regresso se tratasse. Há que saber gerir sentimentos, emoções para que quando somos compelidos a emitir o nosso parecer não o façamos de modo a ferir as sensibilidades dos visados. Eu gostaria aqui de afirmar publicamente de que continuo a ter muito orgulho nas várias mulheres com quem partilhei a espaços, períodos mais ou menos longos da minha vida. Todas elas foram pessoas sensatas das quais nunca me envergonhei, também nunca me criaram qualquer situação embaraçosa em que tivesse que renegar ou atraiçoar os meus valores, pois se alguma vez me visse confrontado com uma situação dessas não teria a menor dúvida que preferiria partir do que torcer. Jamais alguém me viu ou verá engolir sapos, mas vomitar feijões azedos acontece ocasionalmente, pois tenho um estômago fraco e um palato refinado. Eu procuro viver e deixar viver, sem ferir susceptibilidades daqueles que me rodeiam, mesmo que não afinemos pelo mesmo diapasão. Quanto ao meu radicalismo exacerbado sobre certos aspectos de como a justiça deveria ser aplicada, tenho ideias muito “sui generis”, como tenho em relação á educação escolar, serviços médicos e outros. Comigo não é fácil alguém viver sentada na vedação com uma perna para cada lado, ou na zona cinzenta da vida. As pessoas tem que definir á partida, quem são os seus amos a quem prestam vassalagem, e quais são as suas referências, e não depois da contenda, virem a tomar o partido do vencedor. Eu em todas as outras situações da minha vida procuro assumir a liderança do processo, seja ele do foro pessoal ou profissional. Metaforicamente falando sou eu quem conduz o carro, escolhe o destino e define o trajecto, e, nunca por nunca, viajaria no banco traseiro como passageiro ou no porta bagagens como bagagem. O meu corpo tem sido de muitas mulheres mas o meu coração tem pertencido a muito poucas. Sei que me encontro enterrado nas profundezas de alguns corações não como mártir, mas sim como alguém que continuará a ser revisitado pelas suas mentes, corações e sexos, quando a hora das comparações chegarem. Mas para que isso aconteça terão que descer ás profundezas dos seus corações para me saborearem como um eterno amante clandestino ou um viajante intemporal. Vilamoura 1995

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