O blog Mentes Iluminadas é uma contribuição livre para quem desejar partilhar pensamentos de uma forma inteligente e bem estruturada que facilite a compreensão a todos aqueles que se interessam por temas controversos tais como: Aborto, Eugenismo, Eutanasia, Pena de Morte, Nacionalismo, Xenofobia, Racismo, Religião, Politica etc. Serve também para quem desejar manifestar a sua livre opinião sobre os textos, que aqui tenha uma tribuna para poder fazer os seus comentários.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
NÃO BASTA EXISTIR É PRECISO VIVER
Quando é que passamos a existir como seres humanos? Quando nascemos ou começamos a pensar? O pensar exige raciocínio, uma operação lógica discursiva e mental com a finalidade de isolar questões, desenvolver métodos e encontrar resoluções nas mais diversas questões relacionadas com a existência e sobrevivência humanas. Partindo desta premissa, podemos afirmar que o raciocínio pode ser considerado parte integrante do processo cognitivo que nos ajuda na formação de conceitos e na solução de problemas que fazem parte do pensamento, entre eles, ter a consciência e a clarividência necessárias para podermos optar entre o bem e o mal, o certo ou o errado? O pensamento concede, ao homem, asas para voar e para se movimentar pelo mundo através da imaginação e do sonho, mas também lhe concede raízes para se aprofundar na realidade, nua e crua da vida. O pensamento pode e deve ser usado como uma medida de avaliação das realidades da vida, é ele que determina a grandeza ou a pequenez das pessoas. A grandeza decorre de uma forma de pensamento positivo e bem estruturado, que avalia as realidades da vida sobre todas as vertentes possíveis, e se esforça por encontrar de uma forma racional, objectiva, analítica, harmoniosa, e inteligente, soluções para a mesma, saboreando a sua riqueza e diversidade na procura insana da verdade e da sabedoria. Por outro lado, a pequenez humana decorre do pensamento obscuro e mesquinho, do desconhecimento e da preguiça de querer saber ou ir mais além, e, por isso nunca poderá saborear ou obter o prazer de se sentir enriquecido, reconhecido ou respeitado pelos seus iguais. Este tipo de pensamento negativo pode transformar-se num meio de ocultação da verdade e da realidade, podendo, por isso, ser utilizado ou aproveitado para fins inconfessáveis. Pensamento e pensar são respectivamente uma forma e processo mental. Pensar, permite aos seres humanos modelarem o mundo e com isso lidar com ele de uma forma efectiva de acordo com as suas metas, planos e desejos. O pensamento é considerado a expressão mais palpável do espírito humano, pois é através de imagens e ideias que revelamos as nossas vontades.
René Descartes quando pretendeu fundamentar o conhecimento humano disse: “Cogito ergo sum”- “Se penso logo existo” uma palavra semelhante ao silogismo Aristotélico. que apareceu na sua obra mais conhecida chamada “O Discurso do Método”. Mas agora pergunto eu, quando é que começamos a pensar? Pensar permite-nos acreditar, duvidar, crer, questionar, renegar, criticar, elogiar ou amar. Existir e pensar, permite-nos tomar opções e escolher caminhos, definir o nosso posicionamento e lugar no mundo, em que fomos lançados de dentro do ventre das nossas mães. Quando nascemos não somos mais do que pequenos animais irracionais, agindo por instinto, e só muito lentamente, com o decorrer do tempo e depois de devidamente treinados e amestrados pelos nossos pais, vamos desenvolvendo, progressivamente, as nossas capacidades racionais. Nem todos os seres pensantes existem, há pessoas que nascem, vivem e morrem sem nunca terem adquirido um estatuto vivencial Na minha opinião, existir não é o mesmo que viver, muito embora e segundo o pensamento filosófico com que iniciei este ensaio, pensar nos possa dar o direito de existir mas, não o de viver. Um dia, alguém me disse estas palavras que ficaram gravadas a fogo na minha mente e coração:” que só o amor que nutro por ti, é a razão da minha existência, e que enquanto tu existires, eu nunca me sentirei só”.
Não basta existir, é preciso viver. E viver é muito mais que existir. Viver implica aprender e, para ser aprendiz, é preciso humildade para reconhecer a própria ignorância. Viver implica educar-se, instruir-se e preparar-se o melhor possível para enfrentar a vida com sucesso em todos os aspectos com que somos diariamente confrontados. Precisamos de experimentar a angústia de saber-se iluminado sem se sentir luz, vivenciando as dores e venturas de sentir-se completo sem poder ser pleno. Viver implica movimento. E não há movimento sem esforço e atrito.
A vida é dinâmica, jamais perde a sua fluidez. Umas vezes torna-se calma, monótona e repetitiva, outras, saltitante como num concurso de hipismo, outras ainda, dispara à desfilada como se tivesse tomado o freio nos dentes. Temos que a saber cavalgar nas diferentes selas, sejam quais forem as circunstâncias, sem que delas se caia. A vida tanto pode ser vibrante e turbulenta como serena e sem pressa, embora nunca pare para esperar quem ignore o seu ritmo. Não é um ensaio teatral que possa ser repetido inúmeras vezes até que o guião seja seguido á risca. A vida também não é um programa televisivo que por avaria das câmaras, avisam os telespectadores de que o programa seguirá dentro de momentos depois do problema resolvido. Para existir, basta estar, deixar que o nosso corpo se movimente automatizado, tipo robot Para vivermos em toda a plenitude, é preciso entregarmo-nos, por inteiro, sem condicionalismos ou reticências. E para viver, ainda que existindo, é preciso estarmos como um ser único e indivisível. Viver implica acreditar-se imortal e eterno, mesmo sabendo que tudo é passageiro e efémero. Viver implica progredir, ir adiante, avançar, descobrir, inventar, realizar até que nos sintamos completos. Viver é existir de todas as formas e em todas as dimensões, amando cada uma delas. Para viver, não basta ver, ouvir, pensar e falar, pois estas, são manifestações da existência. Para viver, é preciso sentir, mergulhar em si mesmo e sair, novamente, para se observar sem paixão. Viver implica iluminar-se e, sob a luz da própria consciência, apontar os próprios defeitos e limites implicando assumir a responsabilidade pelos próprios actos, transformando-os em gestos de amor e compaixão. Viver implica conhecer-se, profundamente, e, ciente de si, conhecer as suas limitações, deixando de se enganar, trabalhando para mudar o que não está bem e ter a capacidade de se regenerar ou reinventar. Viver implica reconhecer, no Universo, o próprio lar; nas humanidades cósmicas, a própria família; na criação infinita, o próprio berço; encontrando na natureza a própria saúde e único sustento. Não há vida sem troca, não há troca sem perdas, não há perdas sem ganhos, não há ganhos sem lutas, não há lutas sem dor, não há dor sem razão; e não há razão fora da vida. Viver é muito mais que existir, mas ninguém aprende a viver plenamente sem existir. Muitas vezes, de muitas maneiras. Viver é transcender o que se pensa saber da vida, para lhe assimilar a verdadeira sabedoria. Viver implica arriscar-se e caminhar por vezes na corda bamba sem cair nas trevas onde apenas nos podemos deixar guiar pelo nosso sexto sentido, ou na claridade radiosa da luz do dia sem perigos ou surpresas. Todas estas opções são escolhas que fazemos consoante os riscos que estamos preparados para correr. E o maior risco é errar, mas errar também é humano, portanto, a sabedoria é tentar sempre minimizar a margem de erro, sem que abandonemos a nossa zona de conforto. Se somos peixes de aquário não nos devemos atrever a nadar nos rios ou nos mares levados pela ambição, pois corremos o risco de poder ser comidos por peixes maiores. Mas viver também implica estar certo, não abdicando das nossas convicções pessoais. E a maior certeza é a de que, a cada erro, mais se pode aprender desde que tenhamos a capacidade para reflectir e deles tirar as ilações apropriadas. Para existir basta ter sangue nas veias, ar nos pulmões e alguma massa cinzenta no cérebro. Para viver, no entanto, é preciso sangrar e sufocar-se, quer quando amamos alguém, ou quando somos ignorados, deixados e esquecidos pelos outros. Na existência, há apenas meias verdades e grandes mentiras, a verdade absoluta não existe, nem ninguém é dono dela. Viver é manifestar-se sem tempo ou espaço; é ser fogo ardendo sempre, sem se queimar; é verbo que não se conjuga, apenas se pratica; é palavra que não se define, apenas se diz; é conceito que não se explica, apenas se vive. Viver é estar no todo, sendo tudo, sem nunca se esgotar. Quem vive, por vezes é obrigado a cantar e chorar para dentro, a despeito do silêncio ou do imobilismo exterior. Quem vive, existe em todos os lugares sem ter a arrogância de se considerar omnipresente, sem pertencer a nenhum, nem se subjugar a ninguém. Quem vive, busca, em si mesmo, o que deseja para o seu caminho e, quando encontra, volta a buscar, pois a vida é, por si só, um desafio permanente às nossas capacidades. Quem vive, por vezes é obrigado a morrer várias vezes e a renascer das cinzas transformando-se e transmutando-se para novas vidas alicerçadas em bases diferentes. Viver é ir mais além, mudar sempre, virar-se e revirar-se, buscar o próprio avesso, sem saber onde fica o direito, é enxergar a luz, mesmo nas sombras, e criar luz nas próprias trevas. Viver é expandir a própria existência para além dos limites imaginados. Viver é doar-se, sem pedir ou implorar, é ceder, sem resistir; é entregar-se, sem recear. Quem vive, renasce num novo ser todos os dias. Quem vive, tem a própria existência traçada a lápis e recria o seu próprio plano existencial, tal como um arquitecto desenha um edifício, minuto a minuto, com a borracha da sabedoria e do perdão. Quem vive, pode não saber quando chegará, mas tem a obrigação de saber para onde quer ir e com quem. Quem vive, continua na morte e recria-se ao nascer, sabendo que é preciso morrer para nascer e preciso existir para morrer. Viver é ter, na própria consciência, uma única história, representada por milhares de faces, nomes, lugares e episódios de outras tantas existências. A vida é um jogo de sombras e de espelhos, e neles temos, por vezes, mil faces nesta grande peça teatral de três actos que são: nascer, viver e morrer.
26-10-2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário