segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O SONHO

Esta noite no dealbar da madrugada e através de um onirismo recuei até 1962, portanto 52 anos na minha já longa existência. Este regressar ao passado foi como ver um dos muitos filmes que mesmo passados todos estes anos ainda se encontram bem nítido em bom estado de conservação na filmoteca da minha memória. Obviamente que muitas das pessoas que conhecemos durante a nossa juventude não fazemos a mínima ideia naquilo em que se irão tornar durante a sua vida adulta. A uns perdemos-lhe o rasto pelas circunstâncias impostas pela própria vida, outros continuam a manter-se no nosso círculo social, e em virtude disso vamos acompanhando-os na sua progressão pessoal e profissional. Ao tempo do meu sonho vivia em Angola, e durante o período da minha adolescência jogava basquete no Sporting de Luanda treinado nessa época por Castelo Branco, depois disso no Ferroviário, Maianga e Belenenses. Mas foi no Sporting de Luanda onde tive como companheiro de equipa Roberto Leal Monteiro, nesses anos conhecido na intimidade pelo diminutivo de “Nini”, mais muitos anos mais tarde depois de ter fugido de Luanda por “Ngongo”. O pequeno “Nini” , pois como jogador de basquete não era efectivamente muito alto, deixou Angola clandestinamente com a finalidade de se alistar nas fileiras do movimento Independentista MPLA. Este digníssimo cidadão angolano guindou-se desde os tempos da nossa juventude de um simples “aspirante” (categoria profissional) dos Serviços de Finanças (Fazenda) até ao Generalato nas fileiras militares das Fapla. Depois da independência serviu Angola como Vice-Ministro da Defesa, Embaixador na União Soviética e Ministro do Interior de entre as muitas e variadas posições que desempenhou ao serviço do Governo de Angola. Para quem não saiba “Nini” ou “Ngongo” era filho do Cabo Verdiano Jaime Monteiro, Director Geral dos Serviços de Finanças para Angola e situado no Largo da Mutamba mais conhecido por “Fazenda”. Jaime Monteiro que pertencendo aos quadros superiores do funcionalismo público português, chegou a estar nas Nações Unidas em sua representação. A face situacionista profissional e privada (pessoal) de Jaime Monteiro sofreram um grande abalo e tremendo embaraço publico, quando se soube que este seu filho, ovelha negra da família tinha fugido para Argel e dai para a União Soviética para se juntar aos terroristas do MPLA. Obvio que toda esta situação passada nos princípios dos anos 60 teve uma enorme repercussão pois a PIDE muito embora não tenha feito uma comunicação oficial acabou por divulgar o caso secreativamente mas com a finalidade de ser publicitado. Roberto Leal Monteiro só voltou a pôr os seus pés no território Angolano numa das zonas libertadas pelo MPLA ilegalmente como oficial das Fapla a combater pelo MPLA na zona leste na 2ª e 3ª regiões militares. Durante os meus anos de estudante fui colega de uma das suas irmãs Maria Eulália mais conhecida na intimidade por “Milá” com quem tive um envolvimento sentimental. Em face disso, passei a ser visita da residência desta família de forma periódica e diária a qual cheguei a considerar como a minha segunda casa, pois era ali que passava a maior parte do meu tempo. Este sistema vivencial prolongou-se até 1975, quando Roberto Leal Monteiro, já casado chegou a Luanda na comitiva de Agostinho Neto e foi homenageado juntamente com a sua mulher, com um jantar na casa do seu pai situada na rua do Cagaço muito perto do Hospital Maria Pia, onde estive presente. A família Monteiro era constituída por 10 irmãos a saber: Inês, Mito, Luis Pedro, Roberto, Rosa Maria, Maria Eugénia, Maria Eulália, Paulina, Tó e Mágui. O recente afastamento de Roberto Leal Monteiro do executivo como Ministro do Interior em 27-10-2010 foi a seu pedido, como medida destinada a prevenir eventuais embaraços externos à imagem do Estado angolano, Esta crise diplomática entre S.Tomé, Portugal e Angola ficou relacionada com o envio de polícias angolanos a S.Tomé com a finalidade de prenderem o empresário português Jorge Oliveira acusado em 2009 de fraude a uma empresa tutelada pelo governo angolano e o levarem para Angola ilegalmente sem recorrerem á extradição. As autoridades viram o caso com preocupação depois de terem chegado informações segundo as quais a União Europeia pretendia levar o assunto a Tribunal Penal Internacional. 29-9-2014

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