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segunda-feira, 16 de março de 2015
A ÚLTIMA ETAPA-1
Chegou a hora de fechar as portas do meu coração, as persianas dos meus olhos, as janelas da minha mente e ficar na escuridão total com a finalidade de apenas ouvir o som do silêncio e o palpitar do meu coração para me dar a garantia de que ainda estou vivo. É no silêncio e na escuridão que eu procuro reflectir sobre o tempo que ainda me resta para fazer o inventário das qualidades e defeitos, de contabilizar as pessoas a quem devo e de quem tenho a haver, e finalmente dar o balanço de uma vida e prestar contas á minha consciência que de dia para dia se torna mais exigente, menos complacente ou disposta a fazer vista grossa e absolver os meus pecadilhos. Quero proporcionar à minha consciência uma capacidade redentora de ressuscitação, para a libertar e limpar da negritude das iniquidades cometidas, sofrimento e dor infligida a terceiros. Entendi ser este o momento certo para soltar os meus demónios e enfrenta-los corajosamente sem medos ou receios e muito menos sem a protecção divina, pois há muito que me afastei da teoria criacionista renegando a existência de Deus. O silêncio em situações de isolamento forçado pode tornar-se doloroso, mas quando é exercido por opção pode levar-nos a patamares de completo êxtase.
É no recato das penumbras e na quietude meditativa que aproveito para visitar as campas onde enterrei todos os meus amores, esperanças e sonhos não realizados, uns que abortei e amputei por decisão unilateral, outros que me forçaram a decisões autofágicas castrativas do meu orgulho e auto-estima.
Ainda hoje consigo rever em pormenor e camara lenta, algumas das minhas decisões comportamentais por promessas que não cumpri ou espectativas que defraudei. Nem sempre a escuridão é considerada maligna e muito menos associada ou portadora de energias negativas.
A meditação é um estágio espiritual que nos abre dois caminhos que são o da concentração e contemplação. Quando a nossa mente atinge uma concentração profunda é como se tivéssemos desligado a tomada da corrente e ficado sem luz eléctrica, passamos para o mundo das trevas e para as profundezas do nosso ser. É ter a capacidade de nos desligarmos do mundo esvaziando a mente de pensamentos supérfluos a que eu chamo lixo tóxico, e focando-a num único objecto o qual pretendemos analisar e dissecar de uma forma mais racional, dissolvendo previamente todas as preocupações e problemas que possam estar a bloquear a nossa mente, impossibilitando-a de entrar em transe. Há quem use essa abertura mental para comunicar com o divino invocando um poder mais alto o que obviamente não é o meu caso devido a minha não religiosidade que implique devoção a seres imaginários cuja sua existência nunca foi provada.
A grande maioria das pessoas usa a mente para evocar saudosistamente as suas memórias ou então transportar-se para o futuro delineando expectativas, planificando e programando objectivos. Com o devido treino podemos diminuir ou aumentar a velocidade do pensamento que por vezes chega em turbilhão á nossa mente precisando de ser previamente peneirado. Esta triagem que requer ser feita com certo pudor de selectividade e sofisticação tem como finalidade separarmos os diferentes tipos de lixo que precisam de ser reciclados das genuínas preocupações ou problemas que possam estar a ser bloqueadas ou soterradas por tanto esterco que entram no tapete rolante e passam por todos estes módulos cerebrais: Medula Espinhal, Bulbo Raquidiano, Ponte de Varólio, Cerebelo, Amígdala, Hipocampo, Hipotálamo, Tálamo, Lobo Frontal, Lobo Parietal, Lobo Temporal, Lobo Occipital, Corpo Caloso, Cortex Cerebral, onde tudo é desmontado e filtrados até chegarem à linha de montagem que termina naquilo que eufemisticamente chamo a minha mesa de autópsias para que de forma forense as causas do problema sejam dissecadas, analisadas, estudadas, definidas e solucionadas.
Devemos negar á mente a tendência para o a absorção de material que implique a possibilidade de absorvermos por contágio de ideologias, vícios, hábitos, tendências que nos possam infectar e levar a tomar decisões prejudiciais, quando são tomadas a quente devido a reacções extemporâneas e temperamentais. Através da meditação é possível separar os pensamentos na parte da nossa consciência que realiza a percepção cognitiva e arruma-los, de forma ordenada catalogando-os respectivamente de acordo com a sua prioridade de execução.
Ao longo dos últimos 10 anos a meditação tem-me ajudado a ser mais rigoroso, imparcial, auto disciplinado e a desenvolver uma serenidade espiritual bem como um sentido de equanimidade que se traduz em obter uma igualdade de ânimo quer perante a prosperidade e sucesso ou da adversidade e derrota.
A meditação ultrapassa o intelecto e o segredo é ter a capacidade de concentração necessária para silenciarmos o ruído limpar, arejar, desinfectar a mente de todos gases poluentes e tóxicos que nos permita transmutar-nos para o seu vazio com a finalidade de nessa arena nos confrontarmos com os nossos fantasmas de molde a que os possamos incinerar, erradicando-os das nossas para evitar as suas assombrações.
Quando no início falo dos meus demónios pode parecer uma contradição ou um paradoxo, pois se não acredito na existência de Deus obviamente que não posso acreditar que existam Demónios também conhecidos por espíritos malignos, os quais biblicamente falando são os mensageiros de Satanás. Lamentavelmente ao longo das nossas vidas nem todas as situações ou problemas nos quais somos intervenientes como juízes ou réus são resolvidos da melhor maneira de molde a terem um final feliz. Quando escolho os meus momentos de solidão conducentes para levar a efeito as minhas reflexões meditativas, faço-o por necessidade de aliviar peso e para descarregar as enormes quantidades de entulho que vou acumulando sem me aperceber da forma dissimulada de como disfarçadamente este entra e se colam às paredes do meu córtex, levando-me por vezes de forma sub-reptícia a optar por soluções que em circunstancias normais nunca teria considerado.
Ao fim e ao cabo, chegamos ao mundo sozinhos, fazemos grande parte do nosso percurso existencial sozinhos, e na grande maioria das vezes morremos sozinhos. A solidão é algo com que todos lidamos por períodos mais ou menos longos.
Acho que chegou o momento em que devo definir concretamente o estado de solidão e solitude pois têm etimologicamente um posicionamento espiritual completamente diferente. A solidão pode levar as pessoas a casos depressivos que apenas se solucionam com medicamentos e terapias adequadas. A Solitude é um estado de privacidade decidido voluntariamente que nos recolhamos em isolamento ou reclusão, mas que não exige sofrimento. Por outro lado a Solidão é um sentimento conectado com uma sensação de vazio pela falta de companhia que nos poderá ter sido imposta contra nossa vontade pela força das circunstâncias, e a qual nos leva para uma fase de adaptação na transformação de sentimentos, é aquilo que vulgarmente chamamos a travessia do deserto ou período de luto e resultante da perca de familiares chegados ou de amores doentios e obsessivos.
Pessoalmente sempre me considerei um individualista, detestando andar em “alcateia”, para me tornar extrovertido, muito embora nunca tivesse tido dificuldade em comunicar ou de fazer amizades, uma vez que nunca me considerei aquilo a que chamamos bicho-do-mato. Optei durante a maior parte da minha vida por actuar sozinho tipo atirador solitário e dei-me bem com essa forma de vida que escolhi. O individualismo é um conceito político, moral e social que exprime a liberdade individual frente a um grupo, á sociedade ou ao Estado que nos governa. As pessoas distinguem-se umas das outras pelas escolhas que fazem, pelas formas comportamentais que expressam e pela oratória que usam para comunicar. O exercício da liberdade individual quando estamos inseridos em sociedades modernas frequentemente estão associados aos nossos projectos de vida, obviamente para quem tem a capacidade de planear e aferir os seus progressos num espaço temporal previamente definido. Qualquer projecto ou objectivo por nós traçado entra dentro de um campo de possibilidades falível, consequentemente devemos sempre ter um plano B de contingência para implementar no caso do plano original A não estar a sortir os efeitos desejados. Qualquer projecto de vida insere-se automaticamente num meio sociocultural dinâmico que não é monolítico e o qual inclui diferentes ideologias, visões do mundo, experiências de classe ou grupos que podem não ser culturalmente, academicamente, historicamente compatíveis connosco e isso eventualmente pode criar fricção ou erosão nos relacionamentos que tentamos criar ou desenvolver.
Para mim eu vejo o homem como figura central do Universo, ele sim é o Criacionista de todos os Deuses e de tudo o que existe no mundo excluindo a criação do mesmo. Para esse grande mistério existem teorias científicas que explicam a sua origem, sem obviamente serem as religiosas e baseadas nos diferentes livros sagrados das religiões mais importantes. O homem usufrui da autonomia do controle sobre o espírito enquanto ser vivo e pensante, pois tem a capacidade da razão e as liberdades de escolha, no exercício das suas vontades e da sua afirmação, legitimados por uma Constituição que nos garante como seres unos e indivisíveis o direito de nos manifestar publicamente as nossas convicções em forma de aplauso ou critica, dentro dos termos da lei, de tudo aquilo que entendermos ser injusto ou indigno na nossa condição de seres humanos.
21-7-2012
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