quarta-feira, 4 de março de 2015

ANGOLA VERSUS PORTUGAL

Acho que a grande maioria dos Portugueses ainda não se libertou mentalmente do cordão umbilical que os liga a Angola e obviamente do chamado “Síndroma de Estocolmo”. De certa forma continuam a sentir que esse país lhes pertence, como se nunca o tivessem deixado, considerando-o nas suas memórias e coração como propriedade inalienável e intransmissível. Essa ideia de posse 38 anos depois já não faz algum sentido, nem sequer é aceite ou bem-vista pelos angolanos em geral que se pretendem libertar desse complexo paternalista. Muito embora os angolanos estejam dispostos a continuar a receber alguns milhares de portugueses que por falta de condições se vêem obrigados a emigrar para países carentes de tecnologia a fim de preencherem as lacunas existentes na mão-de-obra local, o sentimento rácico e colonialista dos angolanos em relação aos portugueses não se alterou em nada independentemente da cor da epiderme. A Angola que lá deixamos em 1975 deixou de existir, é preciso que as pessoas se consciencializem definitivamente disso. Chegou a altura de a libertarem do vosso subconsciente, tal como um filho quando atinge a maioridade e passa a seguir o seu percurso existencial de adulto e deixamos de ter controlo efectivo sobre a sua vida. Passaram quase 2 gerações desde que abandonamos o território e Angola de forma progressiva tem vindo a desenraizar-se lentamente das formas iniciáticas que lhe impusemos, baseada numa cultura de hábitos e tradições europeias, coarctando-lhes a sua genética e ADN africano ajudados pela Bíblia e chicote. Angola hoje em dia, segue o seu próprio percurso aos solavancos e trambolhões aprendendo com os seus próprios erros, tal como fez o Brasil em 7 de Setembro de 1822. Países onde grassa a corrupção existem em todo o mundo, portanto telhados de vidro todos os temos em maiores ou menores proporções, mas os leaders africanos são useiros e vezeiros em enriquecer bem e depressa acumulando fortunas astronómicas que dispersam em depósitos e investimentos por países e bancos estrangeiros, mas que no caso particular dos angolanos a grande maioria deles se encontram concentrados em Portugal. Estas medidas a que estes ditadores recorrem para lhes assegurarem uma velhice tranquila e reformas douradas na eventualidade de perderem os tachos podem ocorrer apenas em dois cenários. O primeiro será devido a um eventual 25 de Abril originário de uma revolta popular onde o exército decida não intervir contra o povo. A segunda situação será causada por uma revolta militar que apeie pela força o poder legalmente instituído dando ou não a possibilidade a este de abandonar o território procurar exilio. Obviamente que quando as coisas chegam a este estado de podridão já os governantes e seus apaniguados têm as suas galinhas dos ovos de ouro a chocar em galinheiros fora do país de origem, que lhes garantem e asseguram poder viver “ad eternum” sem preocupações financeiras. O que se passa nos outros países do mundo, não nos diz respeito, também devem ter policia, tribunais, juízes e prisões, para deter, julgar e condenar os criminosos, corruptos e todos os outros que sem culpa formada e sem julgamento, vão enchendo as prisões angolanas por se atreverem a censurar, publicamente ou de forma jornalística as suas dissidências politicas. Como infelizmente em Angola, o exemplo vem de cima das elites politicas ou militares, é caso para os angolanos legitimamente perguntarem quem é que tem a coragem de prender o próprio polícia. Os golpes de estado sucedem-se ciclicamente nos países africanos, onde os seus líderes são selvaticamente chacinados ou então obrigados a procurar refúgio pedindo asilo político em países onde sabem ser recebidos e protegidos, isto quando ainda têm tempo de por o seu negro coirão a salvo. No Irão enforcam-nos nas ruas, na Arabia Saudita e Iémen, cortam-lhes as mãos, na China são fuzilados, na América do Sul e países latino americanos desapareciam durante a noite sem deixar rasto. Ainda há muitos países que recorrem á pena capital para punir os criminosos corruptos, ou exercer purgas politicas imanadas pelos seus ditadores com a finalidade de se verem livres dos seus opositores incomodativos. Não sei por que razão é que nós Portugueses, alguns naturais ou não de Angola e apelidados de “Retornados” ou “Refugiados”, nos preocupamos tanto com o que se passa naquele país. Angola passou a ser unilateralmente independente em 1975, mais tarde, em Setembro de 2008 tiveram pela primeira vez eleições, justas ou injustas, legais ou não, pouco interessa, sendo o partido do MPLA o mais votado e reconduzido ao poder por vontade da maioria do povo angolano reelegendo José Eduardo dos Santos como seu presidente lugar que ainda hoje mantém. Que interessa a nós portugueses se ele ou a sua família são bilionários corruptos, amassando uma fortuna descomunal e vivendo que nem nababos enquanto o povo vive periclitantemente no limiar de uma pobreza miserável e aflitiva. Que nos interessa se uma elite governamental possa de forma escandalosa e imoral ter-se locupletado com milhões devido às funções politicas ou militares que desempenham e como resultado dos favorecimentos que patrocinam. Que nos interessa que alguns portugueses na sua capacidade individual ou liderando empresas, tenham embarcado no sonho de que Angola se tornaria num novo Eldorado para enriquecer depressa e facilmente esquecendo-se das flutuações dos preços do “crude”. Muitos portugueses escolheram Angola pelos chorudos contractos de trabalho que faziam pela venda do seu “know-how”, ou de empresas que escolheram o mercado angolano para investir, pensando que as árvores das patacas não iam ser podadas, arrancadas e levadas para quintais e propriedades privadas, para uso exclusivo dos seus poderosos e intocáveis proprietários. Em Angola existe lugar para todos desde que seu estômago se adapte a viver sem vomitar, num país onde subsistem tantas e abissais desigualdades sociais. Se estas fossem em Portugal teríamos estes mesmos cidadãos nas ruas das nossas cidades diariamente a manifestarem-se publicamente contra o governo. Mas como estão num país estrangeiro vão cobardemente comendo da mesma pocilga, silenciosamente aplaudindo e calando estas iniquidades, vendendo de forma hipócrita e mercenária os seus sentimentos em troca de vistos e chorudos contractos de trabalho, que lhes permitem embolsar grossos proventos. Os cemitérios de angola estão cheios de milhares de angolanos que ao longo do tempo discordaram e lutaram contra o regime político do MPLA. Que nos interessa a nós que tenham mudado o nome das ruas ou províncias, que tenham demolido ou retirado monumentos que os fazia lembrar os tempos coloniais, ou que Angola tenha sido parcialmente destruída durante a guerra com a UNITA ou forças armadas Sul-africanas. A partir do momento que abandonamos o território e este se tornou independente, passou a ser um país estrangeiro e como tal, tudo o que se lá passa diz respeito exclusivamente aos Angolanos e portanto a eles compete decidirem o que de melhor querem ou precisam para o seu país. Que nos interessa a nós Portugueses se as elites angolanas na sua gastronomia diária se deliciam as suas papilas gustativas com a carne de vaca importada e massajada de Kobe no Japão a mais cara do mundo, ou se apreciam a boa lagosta “au Termidor”. Também não nos diz respeito se como opção preferem deglutir um prato consignado a aves utilizando para esse efeito um delicioso faisão estufado. Não nos interessa ou preocupa se para entrada e como aperitivo se utilizam ovas de esturjão com que se faz o caviar mais caro do mundo de nome Petrossiam, pois o mais barato é feito com ovas de salmão. Também não nos diz respeito se ingerem diamantes em bruto e os cagam lapidados. Para nós é indiferente se bebem petróleo em bruto ou se ficam etilizados bebendo Charles Heidsieck Vintage 2000 um dos 10 melhores champagnes do mundo, bem como se para final de refeição optam pelo café mais caro e exótico do mundo chamado “Kopi Luwak”, feito dos excrementos de um animal raro que só existe na Indonésia. Também não estamos particularmente interessados em saber se como digestivo ingerem Conhaque Grand Armée de 1811 a 4.990 libras a garrafa, e se depois disso ainda chupam um Cohiba Behike, que para um verdadeiro “connoisseur” é um dos melhores havanos que o dinheiro pode comprar. Que nos interessa a nós indigentes Portugueses comparativamente com o novo-riquismo angolano que estes façam festas principescas em Luanda nos bons hotéis, quimbos, sanzalas, ou propriedades privadas, que usem ou aluguem aviões para o transporte de convidados VIP. Também não temos nós portugueses que ficar surpreendidos se alguns angolanos possuem belos Iates ou conduzam carros e jeeps dos últimos modelos, façam compras milionárias em Lisboa ou tenham mansões imperiais no Mussulo, Bairro Miramar ou em Belas. Apenas por termos nascido ou vivido em Angola, não nos dá o direito de criticar ou enaltecer o modo de vida dos angolanos, nem a forma como decidiram aproveitar-se de um país que roubaram aos colonos Portugueses ou da forma como gastam ou lavam o dinheiro que obtêm por meios ilícitos e corruptos Penso que ninguém quer ou pretende aqui justificar as injustas politica coloniais Salazaristas, mas por outro lado também não podemos esquecer a forma com milhares de portugueses sem culpa nenhuma dessas mesmas políticas, foram tratados, enxovalhados, espoliados, aterrorizados por todos os movimentos de libertação sem excepção e obrigados a deixar o território, uma vez que ficaram sem protecção das forças armadas portuguesas, por estas estarem solidárias com a linha de actuação programática e marxista do MPLA, a qual era a mesma que Portugal adoptou na altura, durante a governação de Vasco Gonçalves. Acho que chegou a altura de deixarmos de fazer julgamentos de valor ou carácter sobre as pessoas que de ambos os lados da barricada defendem valores, interesses, ou privilégios diferentes e os quais pretendem preservar. Ninguém me passou procuração para defender ou acusar quem quer que seja, não represento países, ideologias, pessoas ou corporações. Entendo contudo que tenho o direito de dissertar livremente explanando a minha visão sobre os dois países que devido ao seu passado histórico e língua, deveriam usufruir mais daquilo que ambos têm em comum para oferecer ao outro, do que continuar estupidamente a fazer cavalos de batalha daquilo que os separa. O paternalismo colonialista que os portugueses usaram durante 500 anos, foi e ainda é, um complexo de inferioridade de que os angolanos ainda não conseguiram libertar-se. Esse relacionamento teria vantagens reciprocas se fosse feito sem intenções retaliatórias e arrogantes quer de subalternidade ou maioridade. Este relacionamento não poderá progredir enquanto continuar a ser feito de patrão para empregado, pai para filho e muito menos para enteado ou filho adoptado. Andamos praticamente de costas voltadas e ainda desavindos por querelas do passado e contenciosos recentes mal resolvidos. As relações bilaterais entre Portugal e Angola nunca foram as melhores e azedam-se facilmente logo que o nosso Ministério Público decide questionar ou investigar a origem dos dinheiros trazidos por certos cidadãos pertencentes às elites políticas ou militares angolanas e pertencentes ao MPLA. 4-3-2015

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