O blog Mentes Iluminadas é uma contribuição livre para quem desejar partilhar pensamentos de uma forma inteligente e bem estruturada que facilite a compreensão a todos aqueles que se interessam por temas controversos tais como: Aborto, Eugenismo, Eutanasia, Pena de Morte, Nacionalismo, Xenofobia, Racismo, Religião, Politica etc. Serve também para quem desejar manifestar a sua livre opinião sobre os textos, que aqui tenha uma tribuna para poder fazer os seus comentários.
quinta-feira, 5 de março de 2015
O FANATISMO ANGOLANO
Obviamente que com a publicação dos meus textos trazendo-os para a luz do dia e assumindo a responsabilidade de publicamente expor as minhas teses que guardei para memória futura dou a liberdade de ser lido e interpretado consoante as experiências pessoais de cada um relativamente a um denominador comum ao qual todos fomos submetidos em períodos diferentes das nossas vidas. Sendo o risco elevado mesmo assim, estou preparado para tirar a armadura e o colete á prova de bala e enfrentar as diferentes sensibilidades que sei de antemão irei encontrar na abordagem que tenciono fazer.
Não querendo passar por ingénuo antevejo que os tópicos que pretendo analisar, possam gerar alguma polémica, muito embora já tenham passado umas dezenas de anos não estarei muito longe da verdade ao afirmar que muitos deles ainda se encontram demasiado vívidos em muitas mentes e corações, e quando neles remexemos é como se víssemos todo o filme de novo projectado no ecrã da nossa mente.
Se conseguir atingir o objectivo que pretendo que é o de tocar nos sentimentos das pessoas, gerando emoções tanto melhor, independentemente de as mesmas poderem diferir. Não venho á procura de améns ou simpatias, apenas me limitarei a relatar factos e depois que cada um tire as suas ilações.
Não sou pessoa para cultivar ódios de estimação, mas confesso que também não sofro de amnésia e portanto tudo aquilo que perdi em Angola, ganhei em conhecimento, vivências e novas experiências pelos países por onde andei e os quais me permitiram recuperar em 1/3 do tempo todo o materialismo que perdi em Angola, portanto acho que tenho a agradecer em ter sido pontapeado da terra onde nasci pelo MPLA, pois se lá tenho ficado pouco mais teria evoluído e não me refiro ao aspecto académico, pois esse já o levei na mochila uma vez que fazia parte do meu património e bagagem.
Todos nós temos o direito de em liberdade democrática expressar os nossos pontos de vista, desde que as mesmas se enquadrem dentro das normas cívicas de respeito pelas opiniões de terceiros.
O problema político das nossas Colónias era antigo e o governo de Salazar e Caetano foram ignorando e protelando durante tempo demais o direito à auto determinação que se avizinhava a passos largos em todas as colónias e a qual pela estupidez dos nossos governantes acabou por degenerar numa guerra colonial em vários continentes. O conflito começou na Índia e pouco depois alastrou-se a outras colónias em África.
Depois do golpe de estado no dia 25 de Abril de 1974, e das convulsões politicas em Portugal a situação nas Províncias Ultramarinas agravou-se, devido á pressão exercida pela esquerda radical Portuguesa para que as Colónias fossem rapidamente entregues aos movimentos de libertação, após eleições democráticas. Só que esse programa não foi cumprido, nunca houve eleições e as colónias foram entregues aos líderes dos movimentos de tendência comunista, que eram na altura, apadrinhados pelas forças de esquerda radical que governava Portugal.
Após este preambulo vou então centrar o texto nos trágicos acontecimentos que originaram que cerca de 750 mil Repatriados, Refugiados ou Retornados que pela força das circunstâncias se viram obrigados a deixar as Ex-Colónias ou Províncias Ultramarinas como eufemisticamente lhes queiram chamar, em virtude de terem sido abandonados pelo Governo Português que em 1975 governava Portugal, e cujos seus intervenientes terão um dia que responder perante a História quando esta for contada sem complexos, e os carrascos da descolonização publicamente identificados como vendilhões da pátria. Mário Soares que foi um deles, era ao tempo, Ministro dos Negócios Estrangeiros e foi ele que liderou o processo da entrega das Colónias em negociações tidas em Argel e Lusaka. Soares pactuava descaradamente com os movimentos de libertação nas diferentes Províncias Ultramarinas que seguiam uma orientação Marxista. A sua função específica como moço de recados foi a de entregar aos líderes nacionalistas numa bandeja a vida e os bens dos Portugueses que lá residiam, sem que o seu futuro fosse acautelado e protegido. Obvio que essa descolonização descambou como seria de esperar, não só devido á guerra fratricida entre os próprios movimentos independentistas, como depois mais tarde particularmente em Angola o MPLA adquiriu superioridade bélica com a ajuda do Almirante Rosa Coutinho, acabando por expulsar das cidades a FNLA e UNITA. Após terem conseguido essa supremacia centraram a sua actividade em amedrontar e aterrorizar os portugueses residentes gerando um êxodo idêntico ao dos Judeus expulsos do Egipto ou dos Asiáticos do Uganda por Idi Amin.
Cada Português que abandonou quer Angola ou Moçambique, terá certamente as suas experiências pessoais para contar que nesta altura passados 38 anos, já passaram de pais para filhos. Não tenho a pretensão de fazer a história da descolonização, mas apenas dissecar alguns dos aspectos daquela que foi feita em Angola, e que continuam a afectar ainda hoje milhares de portugueses que lá viveram e que não se conseguem libertar desse síndroma que os marcou negativamente para a vida inteira.
Desejo vivamente reiterar que a minha ideia não é a de atirar achas para a fogueira provocando quem quer seja com as minhas reflexões desapaixonadas ou como ex-residente naquela Província Ultramarina.
Por todos os lamentos saudosistas que leio quase que diariamente por estas páginas de Retornados ou Refugiados, apercebi-me facilmente de que passados 38 anos, essas pessoas, continuam desajustadas e desenquadradas das novas vidas que foram obrigadas a reconstruir numa terra para muitos estranha e com a qual não tinham nenhuma ligação afectiva ou identificação
Mercê desse facto continuam a viver intensamente o passado que teimam em não esquecer, recusando-se a aceitar o presente, como se fosse uma situação temporária na esperança de voltarem um dia e encontrarem tudo na mesma
Este drama de continuarem a sonhar com Angola deve ser extremamente traumático e penoso, pois para todos eles a vida parou no dia que deixaram aquela terra. Portugal Continental serviu de plataforma temporária para alguns emigrarem de novo para outros países, mas os que decidiram ficar continuam inadaptados e desenraizados da terra que os viu nascer ou pela qual optaram escolher e ficar.
Eu pensaria que o distanciamento no tempo lhes permitisse uma análise racional e clarividente dos acontecimentos, mas pelas “postagens” que fazem diariamente nestas páginas vejo que não. As pessoas podem não esquecer o cheiro da terra molhada, nem dos inigualáveis por do sol ou do saboroso bacalhau do Vilela ou das sandes de presunto do Baleizão, do sabor da galinha cabíri, ou de uma boa muamba, tudo isso eu aceito e compreendo, muito embora todos esses pratos possam hoje ser confeccionados em Portugal com o mesmo delicioso sabor e temperos.
Contudo por outro lado também não podem nem devem esquecer que fomos escorraçados, os nossos bens delapidados, valores roubados, e que muitos portugueses lá morreram ou desapareceram em circunstâncias misteriosas durante esse período conturbado do Governo de Transição. Eu tenho conhecimento pessoal de alguns amigos meus, que durante a noite as suas residências foram invadidas por fuzileiros ás ordens do Almirante Rosa Coutinho e essas pessoas foram posteriormente entregues a civis do MPLA, para serem interrogados durante semanas a fio, e depois abandonados em locais ermos durante a noite. Para aqueles que têm a memória curta aconselho-os a ouvir de novo o discurso do Agostinho Neto feito em Catete, depois da sua chegada a Luanda referindo-se aos colonos Portugueses. Que muitos dos Portugueses que lá viveram tenham saudades e recordações desses tempos eu admito e compreendo, pois também lá passei a minha juventude, adolescência e vida adulta. A Angola de hoje em território e pessoas em nada se assemelha nada com terra que lá deixamos.
.As pessoas continuam mental e pulmonarmente ainda a viver e respirar o ar de Angola, parecendo que sufocam se diariamente não falarem daquela terra que os enfeitiçou.
As elites governamentais corruptas continuem a roubar o país e a explorar o povo, que utilizaram quando lhes convém e que ao tempo foi chamado de “Poder Popular” A única diferença entre 1961 e 1973 é que não houveram mortes violentas dos colonos, mas entraram na mesma pelas nossas casas roubando tudo e expulsando-nos particularmente nos subúrbios de Luanda.
Pessoalmente senti-me violentado nos meus direitos, portanto foi um período negro da minha vida que esqueci há muitos anos. Tenho honestamente que admitir que de Angola não tenho saudades e as más recordações fizeram-me esquecer as boas que tinha. O solo Angolano estando ensopado em sangue não tem culpa nem é responsável por quem o pisa ou nele habita, nem pelos desmandos que nele foram feitos, só que não podemos olhar para ele ignorando ou dissociando-o de quem foram os causadores de uma das maiores atrocidades e desgraças que culminaram com um dos maiores êxodos do século XX envergonhando Portugal aos olhos do mundo civilizado.
Quando somos mal servidos num restaurante quer pela comida ou desleixo dos empregados, por norma não voltamos lá, nem o mesmo nos deixa saudades. Se vamos de férias a um país e nele somos agredidos e roubados, também não podemos dizer muito bem dele, portanto é este paradoxo de dois pesos e duas medidas que eu tento realçar e colocar em evidência quando se trata falarmos sobre Angola. Será que a água do Bengo tinha realmente efeitos que possamos considerar de poção mágica que tenha enfeitiçado quem a tivesse bebido. Se assim foi, confesso que só fui afectado por algum tempo, porque quando coloco a minha vida passada em Angola no prato da balança, o sofrimento, a angustia, a frustração de me ver indigente numa terra desconhecida que era Portugal, onde fui mal recebido, mal-amado e ainda por cima de novo maltratado, tenho que ser realista, e as saudades, do cheiro da terra vermelha e molhada, da gastronomia, paisagens naturais, pesca, caça, pores-do-sol e tudo o mais, pouco pesam no computo geral da ignominia a que eu e a minha família fomos submetidos. Angola e os Angolanos atraiçoaram-me expulsando-me do meu país, da minha casa, roubando e nacionalizando os meus pertences e haveres. Em meados de 1975 comecei a sentir ma pele o medo e terror de lá deixar ficar os meus ossos aos 32 anos de idade, só porque a cor da minha pele era branca. Que ninguém me peça que olhe para Angola e que a veja apenas até ao dia 25 de Abril de 1974, pois se o fizesse estaria a enganar-me a mim próprio, a tapar o sol com uma peneira, pactuando e ocultando tudo o que se passou até á independência unilateral dessa Republica da Bananas a 10 de Novembro de 1975. Podem de novo crucificar-me pelo que acabei de escrever, mas oxalá que não tenham que me ressuscitar um dia, dando-me razão.
Vilamoura 29-5-2013
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário