O blog Mentes Iluminadas é uma contribuição livre para quem desejar partilhar pensamentos de uma forma inteligente e bem estruturada que facilite a compreensão a todos aqueles que se interessam por temas controversos tais como: Aborto, Eugenismo, Eutanasia, Pena de Morte, Nacionalismo, Xenofobia, Racismo, Religião, Politica etc. Serve também para quem desejar manifestar a sua livre opinião sobre os textos, que aqui tenha uma tribuna para poder fazer os seus comentários.
domingo, 15 de março de 2015
O ECLIPSE
Um dia aconteceu poesia na minha vida, e em dueto as estrofes poéticas desses versos foram ditas, vividas e levadas até às últimas consequências com entregas totais e viscerais. Anos mais tarde durante a madrugada acordei inesperadamente de forma agitada com os meus olhos ofuscados por uma luz que de rompante brilhava de uma forma incandescente em todo o seu esplendor como que reflectida e refractada por centenas de prismas ópticos dentro do meu coração. Eu entendi isso como uma dádiva ou oferenda de uma fada amiga ou o resultado de um sonho convertido por um duende travesso para me adoçar o coração que há longo tempo vivia na penumbra sombria e fria dos afectos emocionais. Mas antes que eu tivesse tido tempo suficiente para me banhar na sua incandescente luminosidade gloriosa, gozar das fragâncias imanadas das flores plantadas nos jardins celestiais e ouvir das trombetas dos angélicos arcanjos melodias redentoras, este onirismo redentor esfumou-se como uma miragem no espaço cósmico sem deixar rasto, cheiro ou sabor o que afectou profundamente o império dos meus sentidos. Ainda tentei esticar as minhas mãos desesperadamente para reter este holograma, mas sem qualquer resultado prático, pois ele habilmente esfumou-se por entre os dedos, como o cheiro de um bom cozinhado sai de dentro da panela quando se tira a tampa. Tentei aliciar esta visão fantasmagórica abrindo os portões do meu coração de par em par e desnudando-me até às entranhas para a aliciar numa entrega incondicional implorei-lhe pela continuação desta bem-aventurança na esperança de que a mesma durasse o tempo suficiente para me aquecer o coração, satisfazer a libido, estimulasse a mente na tentativa de imortalizar a sua imagem para que esta me acompanhasse para todo o sempre pelos trilhos da vida. Mas a raiva dos Deuses, a inveja dos mortais, o despeito dos preteridos, desencadearam uma corrente de eventos que desenterrados das profundezas das suas almas biliosas, corroídas pelo azedume e inveja, levaram estas pessoas a envenenar mortalmente a possibilidade da profecia e aparição inicial da terra prometida e da felicidade eterna poder vir a ser concretizada esfumando-se no etéreo. A adversidade das circunstâncias levou a que os nossos corpos fossem brusca e repentinamente separados, mas isso não invalidou que os nossos corações permanecessem ainda por algum tempo acorrentados, e as nossas mentes de uma forma telepática continuassem a comunicar. Ambos pensámos, de que eventualmente ainda poderia existir uma remota possibilidade de reparar os danos causados por esse eclipse se a lua deixasse de obstruir o sol que é a fonte da vida. Ainda acreditei ingenuamente durante algum tempo que a zanga e a raiva dos Deuses, do Diabo, dos mal-amados e da humanidade em geral, se aplacassem e se esquecessem de nós, concentrando a sua ira noutro alvo mais apetecível. Sempre pensei que esse halo luminoso e fluorescente que pairou sobre as nossas cabeças por um lapso temporal, fosse um sinal de que tínhamos sido escolhidos e abençoados como eleitos, delfins ou querubins de qualquer entidade com poderes mágicos para não nos tornar permissíveis e vulneráveis, às invejas ou cobiças do mundo. Pensamos erradamente estar vacinados, uma vez que já tínhamos viajado pela Utópia e chegado a Shangri-la. O nosso entendimento corporal decalcava-se, trespassava-se e sobrepunha-se de tal forma que inevitavelmente acabava por nos transportar em espasmos de prazer para uma orbita não gravitacional. Chegamos a admitir a possibilidade de que não mais estaríamos sujeitos às influências nefastas dos terráqueos ou dos Deuses, uma vez que os elos que nos ligavam, eram feitos de uma liga indestrutível chamada paixão. Engano puro, tudo na vida é perecível e sujeito a ser afectado por circunstâncias alheias ao nosso controlo. Este “Octopus Vulgaris Cuvier”, a que podemos chamar destino, coincidências ou espíritos malignos os quais inexplicáveis detêm na sua invisibilidade maléfica poderes e sinergias sobrenaturais que usam de forma tentacular nunca vista mas fortemente sentida, conseguem alterar as regras do jogo fazendo batota descarada. Brincam com os humanos como estes fossem simples marionetes que movimentam no tabuleiro de xadrez de acordo com as suas perversões trocando-lhes as voltas da vida, de forma maquiavélica para nos causar agruras e desespero. Estes mestres na dissimulação, falsidade e perfídia têm o condão de lançar labéus pouco abonatórios sobre os humanos, sem nunca serem encontrados, presos ou condenados. Lançam a semente da dúvida que nasce prolifera e propaga-se como o fogo em qualquer local fértil que lhe seja propicia para esse efeito, em círculos sociais, searas, florestas, canteiros de flores, em riachos de agua, em emoções, em correntes de música, na prosa e na poesia, em galerias de arte, de dia ou de noite, em paz, na guerra, na fome e na abundância, num abrir de olhos ou num acto de respirar. A semente da discórdia, da desconfiança da dúvida desde que encontre um recipiente vulnerável com ouvidos tísicos receptivos, uma mente pouco blindada, uma fossa desbocada e uma imbecilidade latente bem estrumada, têm ai todos os ingredientes necessários para servir de casulo e metamorfosear o verme abjecto que transportará a doença ou o boato para o mundo voraz e mesquinho do escândalo e do sensacionalismo. Quando isso acontece, e a doença alastra a paixão escaldante que alimentamos e protegemos na procura do orgasmo cósmico da sabedoria e justiça Salomónica, fica fragilizada. e quebradiça como cristal. A partir dessa altura o nosso amor passa a sofrer silenciosamente, preparando-se para ser injustamente acusado, julgado, condenado, torturado, sacrificado tendo por vezes que abdicar ou morrer para não trairmos as nossas crenças ou convicções. Esta pequena parte do meu coração que hoje decidi trazer para a luz do dia, retirando-lhe o véu diáfano que o cobria e dando-lhe a oportunidade de livremente se expressar sobre acontecimentos passados foi mais um exercício de memória do que uma necessidade de expulsar ou exorcizar de dentro do meu Eu, fantasmas que me perturbam o sono ou pesos excedentes que tenho de carregar na minha consciência. Vou terminar com um pensamento de Emerson “ A verdadeira prova de uma civilização, não é o censo, a dimensão das cidades, o grau tecnológico e científico, ou o crescimento do PIB, mas sim, a qualidade de cidadãos que os países produzem.”, e o nosso, está a produzir uma geração de castrados, corruptos e drogados.
1996
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário