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quinta-feira, 19 de março de 2015
O PREGADOR
Muito embora tenha sido baptizado alguns meses após o meu nascimento fui pelos meus pais levado ainda em tenra idade ao “matadouro” para que fosse marcado com o “ferrete” do catolicismo sem opção de escolha, mas que poderia ter sido outra caso tivesse nascido noutro país europeu e se os meus progenitores e a religião oficial do país fossem diferentes. Mais tarde, quando atingi a maturidade, conhecimento, inteligência e a clarividência de poder decidir conscientemente comecei a questionar todo o conceito da religiosidade na sua generalidade e cheguei a conclusões muito interessantes quando encontrei respostas para muitas das minhas interrogações. A religiosidade ou não de cada um, depende de certos factores os quais muitas são devido a razões hereditárias, geográficas ou teocráticas às quais não podemos fugir, e quando isso acontece, acabamos por nos limitamos a seguir as tendências impostas pelo governo ou a gozar da liberdade concedida pelo estado laico que deixa ao critério dos seus cidadãos escolherem livremente a religião que pretendem ou não adoptar, e que no caso especifico de Portugal é maioritariamente a católica, dentro das mais de 50 que se abrigam debaixo do toldo do cristianismo. Obviamente que depois desta minha longa e estudiosa preparação a religião tinha deixado de fazer qualquer sentido para mim e portanto dentro de várias outras opções existentes o primeiro passo foi dado em direcção á apostasia que significa o (abandono público da fé da Igreja a que se pertence ou seja abjuração). Passado alguns anos depois de muito ter continuado a aprofundar o meu conhecimento religioso juntamente com outras filosofias evolucionistas enriquecendo o meu património cultural, acabei por me tornar agnóstico, (sistema filosófico ou doutrina segundo o qual o espírito humano assume que dentro das suas limitações, ainda se encontra impossibilitado de alcançar o conhecimento absoluto, sobre certos fenómenos e um deles é a origem da vida). Bastante mais tarde, e devido a um chamamento visceral incontrolado de uma certeza absoluta sem a mínima margem para dúvidas tornei-me ateu convicto que não sendo considerado uma religião, é um patamar filosófico que se atinge quando interiormente sentimos que a nossa (atitude ou doutrina nega a mais remota possibilidade da existência de um Deus, valorizando a humanidade e a vida terrestre como um bem natural da qual o fenómeno divino está alheio). Devo aqui confessar sem qualquer rebuço que atingi este estágio de profundo conhecimento sobre religiões sozinho, investigando aturadamente uma matéria que particularmente me interessava sem estar sujeito a influências ou formatações dogmáticas sobre alguma religião em particular. Respeito todos os religiosos mas não as religiões. Este texto não foi escrito com a finalidade de debater o fenómeno religioso ou alguma religião em particular, pois hoje felizmente sinto-me um privilegiado em poder encontrar-me sentado muito acima de todas elas e constatar quão ridículas se tornam para convencerem os seus prosélitos de um poder espiritual que não têm, e de um poder de ostentação de riqueza de que não pretendem abdicar.
Se fosse crente, começaria hoje a minha homilia dominical do cimo do meu púlpito da vida dizendo: Na minha modesta opinião nem sempre a morte é a forma mais violenta de conhecermos a vida, e esta rasgou ao longo do tempo caminhos que me levaram ao alto da minha cidade, ao topo do mundo e acima do tempo. Por vazes senti a necessidade de ver o universo telescopicamente e a humanidade microscopicamente para fazer opções mais consentâneas em relação aos caminhos e experiências que pretendia fazer. Procurei escrever a minha própria história trocando as voltas ao destino, umas vezes sozinho, outras com algumas pessoas invulgares que escolhi para projectos de vida diferentes na tentativa desesperada de conseguir ver o menor fragmento da matéria e a mínima palpitação da vida.
Vi o nascimento de várias auroras em diferentes continentes e pores do sol navegando pelos vários oceanos, senti o desabrochar de primaveris flores dentro do meu coração. O meu olhar tem sido ao longo da vida a varanda do meu corpo, e todo o corpo em toda a idade tem a sua atracção e o seu fascínio. O corpo imaculado de um bebé, o corpo conspurcado de uma prostituta, o corpo vigoroso e musculado de um atleta, o corpo alquebrado de um operário fabril, o corpo sereno de um esposo que se sente amado e respeitado, o corpo sensual de um boémio, o corpo saturado do homem rico, o corpo escanzelado de um homem pobre e faminto, o corpo sovado de um criminoso, o corpo febril de um doente, o corpo enrugado de um velho, o corpo doloroso de um torturado, o corpo paralítico de um aleijado e finalmente o corpo, são, sadio e apelativo como o meu, que se concebeu, nasceu e cresceu como resultado dos genes onde os meus pais deixaram a sua matriz. Ao longo da minha vida passei por várias vicissitudes tanto me alcandorei ao topo das mais altas montanhas, como desci às profundezas da terra, senti na pele e no corpo o sofrimento pela perda de pessoas importantes com quem partilhei momentos e intimidades únicas de me sentir impactado por fluidos seminais, orgasmos e clímaxes imortais. E a vida o que é? Um momento, um instante, um passo, um segundo, o provisório até se tornar definitivo, o passo do temporal ao eterno. Já afirmei repetidamente nos meus escritos que não sou religiosos mas isso não obsta que não recorra á Torá ou Pentateuco, que de acordo com os judeus, é considerado o livro sagrado que foi revelado directamente por Deus. Fazem parte da Torá-Bíblia: Génesis, Êxodo, Levítico, Números e o Deuteronómio. O Talmude é o livro que reúne muitas tradições orais e é dividido em quatro livros: Mishnah, Targumin, Midrashim e Comentários.) Alcorão, ou aos 3 livros Budistas incorporados no Tripikapa (significa três cestas) que são: Livro “Vinaya” que define regras de conduta, o “Sutta”, que reúne os discursos de Buda, e o “Abhidhamma”, que é o mais filosofo. Para além destes ainda temos outros que pertencem a religiões importantes, Bramanismo com o livro sagrado “Mahabharata”, Hinduísmo com o livro sagrado “Vedas”, Espiritismo com o livro “Codificação Espirita de Allan Kardec”, o Sikhismo com o livro “Guru Granth Sahib”, e o Zoroastrismo, com o livro Zen Avesta os quais foram por mim lidos e escrutinados várias vezes, para deles extrair passagens das quais me sirvo para complementar ou ilustrar temas sobre os quais pretendo dissertar. Qualquer pessoa instruída e culta fica dotada de armas que o tornam mais poderoso e destemido quando é confrontado com os vendilhões do tempo que são treinados para pregar os seus sermões em embalagens atractivas gratuitamente distribuídas a mentes débeis e receptivas que assimilarem sem contestar todo o lixo que estes profissionais da mentira apregoam com a finalidade de arregimentar correligionários para as suas religiões onde depois através do dizimo ou outros donativos lhes vão extorquir o dinheiro que precisam para manter as suas faustosas vidas quando se trata de pastores evangélicos ou os cofres do Vaticano quando se trata dos católicos.
Algumas destas religiões com os seus Deuses e livros sagrados já existiam há milhares de anos antes de o Cristianismo aparecer no mundo. A Bíblia não passa de um plágio e cópia de má qualidade de muitos destes livros sagrados escritos alguns milhares de anos antes de a Bíblia aparecer.
Eu, não me azumbro com as pessoas que piamente vivem, respiram, bebem, ingerem religiões por todos os poros do corpo, nos países democráticos não teocráticos as pessoas têm toda a liberdade de se devotarem às religiões e dogmas que muito bem entenderem precisar para manterem o seus equilíbrios de sanidade, psíquicos e espirituais em bons níveis.
Muito embora a Bíblia seja o livro mais vendido e traduzido do mundo não é para mim a fonte de alguma verdade e muito menos única, pois foi escrito por homens falíveis como eu, que nela deixaram insertas descrições pessoais do que disseram ter visto e ouvido. Ao longo da minha vida sempre lutei com falta de tempo, passei longos anos numa corrida desenfreada, andei, sobrecarregado, enlouquecido, assoberbado numa correria desenfreada para chegar primeiro e poder escolher á vontade em vez de ficar com as sobras ou segundas opções. Apesar de todo o esforço, o tempo nunca chegava, o que me levava a pensar que tinha havido desde a criação do mundo um erro geral na contabilização do tempo, as horas eram curtas demais, o dia curto demais e a própria vida curta demais. Mas após uma consideração mais racional e analítica, concluí que o tempo foi dado e distribuído às pessoas para elas o utilizarem o melhor que podem e sabem, mas é preciso não matar o tempo, pois ele constitui um presente que nos é dado diariamente mas perecível, que não pode nem deve ser esbanjado em projectos fúteis ou inviáveis. Infelizmente o tempo por vezes não é mais do que um presente envenenado que na sua aparência sedutora esconde toda a sua perfídia e malvadez. Neste período da minha vida mercê de vários factores consegui parar o tempo e inverter as posições, sendo agora eu o dono dele e com a capacidade discricionária de o poder racionar, usar ou distribuir pelas actividades ou pessoas que me agradam. Posso permitir-me ter o tempo que quero para sonhar, dar a volta ao mundo no meu barquinho de papel numa poça de água deixada pela chuva, ou passar os dias de verão á beira-mar construindo castelos na areia com os meus amigos, quero que as maiores competições em que tenha que entrar sejam os jogos do pião e dos berlindes, quero de novo voltar a acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, dos carinhos, dos beijos, nas palavras gentis, na solidariedade humana, na fraternidade, na justiça, na paz nos castelos no ar, e, que tudo isso vale muito mais do que todo o dinheiro do mundo. Deixei de ter ou celebrar dias especiais, todos são idênticos uma vez que já não trabalho há muitos anos por opção pessoal. Os dias são para serem triturados e gastos numa contagem decrescente que os consome com o seu voraz e inexorável apetite. Penso que ao longo da vida, salvo raras excepções incorri em pecados condenados por todos os livros sagrados de todas as religiões mais numerosas do mundo. Eu sei, reconheço e constato que os meus pés de barro cederam muitas vezes, envergonho-me de não ter resistido às tentações e solicitações fáceis da carne e do sexo. E quando o vento finalmente se calou e mudou, tão bruscamente como longos anos atrás tinha começado, quando o raio que rasgou e iluminou a penumbra dos céus se entranhou na terra, e o mar bravio amainou, e, eu olhei à minha volta, constatei que estava sozinho, enojado e envergonhado por pequenos e insignificantes pecadilhos, tal como um ladrão que apenas rouba tostões... Foram pequenas contravenções ao código da fidelidade conjugal, e que me fazia sentir como um cliente que escolhe mercadoria da prateleira de um supermercado, mercadoria essa que não podia jamais devolver depois de usada e consumida. Foram transgressões sem cheiro, sabor e paladar, que não deixaram nódoas ou nexo de causalidade, sem efeito, foram iniquidades que nunca neguei, não escondi, não prometi, não encorajei, nem me enojei, mas que infelizmente se colaram à minha pele para todo o sempre, sujando o meu registo marital. Eu não escolhi a via-sacra para caminhar com a cruz às costas nem o monte gólgota para ser crucificado, portanto cá vou indo e expiando os meus pecados de uma maneira cómoda e no tempo por mim alocado para esse efeito. Hoje em dia já não chove no meu coração, relampeja na minha alma ou troveja no meu falo e nessa alquimia de vários sentimentos combinados tais como atracção, desejo, fantasia, licenciosidade e devassidão, já não têm os efeitos explosivos de outrora. Na vida não há empates como no futebol ou se ganha ou se perde, e nunca devemos abrir portas que não estamos preparados para atravessar, o que é o mesmo que esconjurarmos o demónio e depois recusarmos a ouvi-lo. Epitomizando Sartre com um pensamento que diz: " As palavras são armas carregadas", pois é através da escrita que eu consigo melhor extravasar o meu sentimento, sublimar as minhas paixões e extravasar a bílis. O que a grande maioria do mundo anda a ver agora já eu vi há longo tempo o que me torna imune e insensível às convulsões do quotidiano com que me deparo, pois elas não passam de repetições, imitações ou simulacros baratos e de baixa qualidade dos originais que já anteriormente vivi, enfrentei e saboreei.
31-12-2001
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