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quinta-feira, 19 de março de 2015
O SUICIDIO
Era um final de tarde do mês de Julho, o sol já se escondia no horizonte e o dia cansado preparava-se para se entregar nos braços de Morfeu. Um carro parou junto ao Farol da ponta de Sagres no Algarve, com apenas uma pessoa ao volante. O passageiro era do sexo masculino, tirou uma carta que se encontrava no porta-luvas e coloco-a junto ao volante bem visível e com a intenção de ser vista. Saiu da viatura sem a fechar, envergava um par de jeans, ténis e uma T-shirt e começou a encaminhar-se para dentro da área do farol, saltou o muro de protecção e deslocou-se lentamente em direcção á falésia onde os pescadores habitualmente usam como seus pesqueiros favoritos.
A certa altura e já fora do campo visual de quem ainda aquela hora tardia visitava esse local turístico, sentou-se numa das rochas puxou de um maço de cigarros, acendeu um e ficou imóvel durante algum tempo dando impressão de ter entrado em meditação profunda.
Pára….!!!!! Pois antes de saltares, terás que escutar a voz da tua consciência, pois ela irá fazer-te um resumo daquilo que foi a tua vida. Não podes fugir de mim cobarde e impunemente, porque para onde queres que vás te perseguirei sem dó nem piedade e não te dar um momento de descanso. Repara no negro abismo que se cava em frente a teus pés, pois bem lá no fundo irás reencontrar-te com todos aqueles que morreram no Tarrafal, Aljube, Peniche, Rua António Maria Cardoso ou em praias desertas assassinados pelos torcionários da organização para quem de forma indirecta bufavas eliminando todos aqueles que te faziam frente, odiavas ou obstruíam os progressos na tua carreira profissional, e que lá do fundo do penhasco gritam em uníssono....salta…salta. Domina o teu incontrolado corpo, acorda dessa apatia letárgica, coordena essa pútrida carcassa arquejante que te tornou num mísero farrapo humano carcomido e bafiento. Desperta os teus sentidos e a mente embotada que te empurram para o precipício afim de fazeres as pazes com Deus, com o mundo, contigo próprio e pedir o perdão a todos os que perderam a vida devido á tua profissão de “bufo”.
A vida cobarde que tens vivido na servidão humana para agradares a Gregos e Troianos retiraram-te a espinha dorsal e em consequência disso passaste a vida a rastejar, a lamber como um serviçal as mãos e os pés dos teus amos e senhores. Perdeste tudo na vida: a dignidade, o carácter a integridade a verticalidade o respeito por ti próprio e o direito de pertenceres á raça humana. Foste abusado, violentado, usado, corrompido, tratado abaixo de cão por todos aqueles a quem esmolaste servir com a simples finalidade de agradares, de seres bem visto, de te promoveres á custa de traições e ignominias para chafurdares no mesmo no tacho das sobras que os teus superiores te ofereciam como lacaio, pelas denuncias e inconfidências que foste fazendo ao longo dessa vida miserável e abjecta. Eu sei que o remorso acabou por te conduzir ao ponto em que agora te encontras. Denunciaste vizinhos, amigos e colegas ao ponto de a tua própria família te renegar, portanto nada mais te resta do que teres a coragem que ainda te falta de dares esse passo em falso para acabares com a vida.
Mas antes de o fazeres a tua consciência exige de ti um acto de contrição e penitência, de analise introspectiva afim de constatares que não foste mais do que um simples fantoche, que todos manobraram a seu belo prazer e em proveito próprio. O valor que te reconheceram era sempre proporcional ás cabeças que entregavas para o cadafalso e as promoções também. Tenta a reconciliação com o teu EU, uma vez que a tua consciência te martiriza há anos sem fim e se nega a conceder-te a absolvição. Se achas que ainda te resta algo de humano procura nestes momentos finais encontrares-te, pois de ti sempre tens fugido negando ouvir a voz da razão e da verdade. Muito embora tenhas vendido a alma ao diabo na efémera ilusão que servindo o “Sistema” de uma forma cega te erigiriam uma estatua em qualquer largo da cidade onde nasceste para homenagearem os teus serviços á Pátria.
Dá de novo uma olhadela para esse abismo sombrio e rochoso de faldas escarpadas que parece esperar-te de braços abertos, para absolver os teus pecados e nele encontrares o descanso final para a tua alma.
Eu sei que vieste para este lugar com um espírito de missão e como já não esperas a redenção da tua alma, pretendes desta forma punir o teu corpo, pois é a forma mais rápida de pores fim á tua existência. Eu sinto que o abismo exerce sobre ti uma influência magnética, mas parecendo um réptil da mesma família de que sempre fizeste parte, viscoso e rastejante espreitando a sua presa afim de lhe desferir o seu golpe mortal, injectando nela o mesmo veneno que durante parte da tua vida também usaste para enclausurar, desprestigiar ou denegrir todos aqueles que acusaste de conspiradores ou revolucionários.
Se és cristão fala com um padre e confessa os teus pecados, se a tua mente está confusa procura um psicólogo, mas se nada disto pretendes fazer, então cumpre com dignidade a aquilo que aqui vieste fazer.
Eu que me encontro dentro de ti, vejo quão amedrontado estás, nunca foste corajoso, mas agora que se aproxima a hora da verdade tremes como varas verdes, vacilas entre o passar á história nos jornais de amanhã com uma pequena noticia quase que despercebida em paginas interiores e esquecida no dia seguinte, ou apenas festejado por aqueles que te sobreviveram e que rejubilam de alegria de mais um filho da puta ter desaparecido da face da terra.
Enfrenta a realidade dos factos pelo menos uma vez na vida, de que a tua partida não fará ninguém chorar de pesar, não serás lembrado nem recordado e muito menos elogiado pela atitude cobarde de pores termo á vida, pois nem na morte foste corajoso. Toda a tua carne, espírito, moral, sentimentos, valores foram devorados pelos negros abutres que te dominaram e possuíram e que depois de saciados te votaram ao ostracismo e que nesta altura estão tentando por o seu coirão a salvo em face da derrocada que se avizinha e das matilhas ululantes que se preparam para os perseguir em todos os buracos onde procurarem esconder-se como ratos em navio naufragado.
Chegaste a uma fase da tua vida em que já não precisas quer de desconfiar do mundo ou acreditar em Deus. Se achas que finalmente és um Homem e tens coragem para finalizares o teu projecto, dá apenas o pequeno passo que te falta para te redimires do teu passado. Eu terminei o meu sermão cá dos confins do teu ser, agora deixo contigo saíres dentro de ti pela porta principal ou á surrelfa pela porta das traseiras.
Passados alguns minutos o homem depois de ter fumado o seu último cigarro, levantou-se lançando-se pela escuridão dentro, engolfando-se no mundo das trevas e da obviliação que o acolheu para a eternidade.
19-4-2011
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