quarta-feira, 22 de abril de 2015

EU A RELIGIÃO E O MUNDO

Quando no final dos anos 60 abordei o padre responsável por uma das igrejas de Luanda, em virtude de precisar que este fizesse a celebração de um sacramento, este recusou-se a fazê-lo alegando que o meu casamento civil não era válido á face das leis da igreja, muito embora a cerimónia que eu pretendia que ele efectuasse fosse para uma terceira pessoa que tinha nascido há poucos meses ainda sem pecados, ou culpas no cartório. Obviamente que nessa altura era educado e religioso e portanto aceitei o facto sem retorquir ou argumentar, pois também não tinha preparação teológica ou bagagem religiosa para o fazer, mas de imediato decidi retaliar e tomar medidas adequadas em relação á igreja. A partir desse dia cortei relações com o catolicismo, e toda essa pandilha de deus, Jesus Cristo, Santíssima Trindade, demónio, paraíso, purgatório, inferno, santos, santas e beatos foram irrevogavelmente varridos do meu dicionário, ou de quaisquer futuras práticas religiosas. Contudo esse nefasto acontecimento, foi para mim um despertar da minha consciência, e um alerta de que alguma coisa corria mal no "Reino da Dinamarca". Durante os anos seguintes a esse evento aberrativo, fui-me mantendo um afastamento saudável em relação à religião até á chegada do meu segundo filho o qual obviamente já não baptizei. Os anos foram passando e a coberto pelo manto diáfano do humanismo e agnosticismo, sem assumir uma posição visceral e definitiva em relação ás minhas posições religiosas, optei por me manter na zona cinzenta das minhas indefinidas convicções, até me sentir melhor preparado para dar outros passos e tomar outras decisões. Anos mais tarde o meu relógio biológico um dia despertou com o alarme a tocar de forma ensurdecedora avisando-me que era o momento de acordar de novo para o tema da religião e isto passou-se há 22 anos atrás. A partir desse dia tornou-se numa necessidade imperiosa e obsessão voltar à tolerância zero e recomeçar a estudar seriamente o assunto religioso. No início dos anos 90 já tinha todo o tempo do mundo a meu dispor para apenas fazer aquilo que me dava gozo e prazer, de modo que escolhi o estudo da religião como alvo das minhas preferências literárias. Comecei a comprar, ler, estudar, analisar, dissecar, questionar o fenómeno religioso sobre diferentes vertentes e até aos dias de hoje ainda não parei de adicionar mais luz e conhecimento aquele que já possuo e livros à minha imensa biblioteca. Para além de me instruir fui conversando e debatendo estes assuntos com pessoas especializadas em diferentes doutrinas religiosas, as quais cada vez sentiam mais dificuldade em responder satisfatoriamente ás minhas questões ficando encurraladas. Indubitavelmente que conhecimento torna-se numa das armas mais poderosas de poder, e foi a isso exactamente a que recorri para me municiar com o mais poderoso armamento existente no mercado que foram os livros dos mais reconhecidos e reputados escritores desta especializada matéria. Quanto mais fui lendo e educando-me e aprofundando o meu conhecimento sobre religiões mais depressa conclui que a necessidade d a existência de Deuses nas nossas vidas não era nenhuma, uma vez que a sua criação foi feita pela própria humanidade e forjada pelos patriarcas quando escreveram o Velho Testamento. Deuses são conceitos frágeis que podem ser derrubados ou mesmo mortos com uma baforada de ciência, ou uma boa dose de senso comum. As pessoas vão á igreja pelo mesmo motivo que os homens vão á taberna ou ao futebol, as mulheres ver as montras, á cabeleireira, ou às boutiques. São hábitos hereditários e 60 minutos aos domingos para ver e ser visto, e ouvir uma homília tolera-se bem. Depois saem das missas felizes e contentes por pensarem que conseguirão a salvação eterna, o reino dos céus, por se comportarem como bons paroquianos. É muito fácil rebater a existência destas novas religiões uma vez que não passam de plágios e cópias de outras pertencentes a mitologias milenares mas eu exemplifico: Há 5.000 anos Já existia o Deus Egípcio Horus que nasceu de uma virgem, andou sobre as águas, curou doentes, foi crucificado e ressuscitou ao 3º dia. Acham que isto vos faz lembrar quem e que religião? Mas temos mais, Mithra que existiu á 3.200 anos pertencente á mitologia Persa, nasceu de uma virgem em 25 de Dezembro, tinha 12 discípulos, foi crucificado e ressuscitou ao 3º dia, será que vos faz lembrar alguém nosso conhecido que também nasceu na mesma data? Bem se não estão ainda satisfeitos pode ser que Krishna deusa do Hinduísmo vos satisfaça mais, nasceu há 2.900 anos de uma virgem, operou milagres, se dizia filha de Deus, filho de carpinteiro, ressuscitou, nesta altura jesus ainda não era nascido, será que alguém nota certas similaridades? Mas se mesmo assim estão relutantes em acreditar que tal Dionysus Deus da mitologia grega, que nasceu há 2.500 anos de uma virgem em 25 de Dezembro, transformou a água em vinho. Porque será que a religião católica que nasceu a 20 de Maio do ano de 325 depois de Cristo, será mais verdadeira do que todas estas que mencionei? A verdade é que é tão fraudulenta como todas as outras que existiram antes bem como os deuses que as encabeçavam. Com o decorrer dos tempos fui reflectindo, maturando as minhas constatações e obviamente o caminho mais indicado foi o de me tornar ímpio, rendendo-me incondicionalmente á apostasia. A minha demanda por respostas para as minhas interrogações crescia de dia para dia, obrigando-me a longas horas de leituras sobre o tema em epígrafe, na tentativa de encontrar respostas lógicas e plausíveis que fizessem sentido ao meu senso comum. Devo confessar que a minha racionalidade analítica sofreu grandes convulsões, pois separar o trigo do joio não é tarefa fácil, para além do imenso lixo tóxico irmanado da teologia religiosa que tenta subliminarmente formatar as mentes numa fé retrógrada, obsoleta e incontestada, as quais não satisfazem mentes inteligentes e irrequietas que muito dificilmente se deixam manietar na teia viscosa tecida pelas ideologias religiosas ou a dos seus formadores. A minha sede pelo enriquecimento da mente na procura de outros caminhos e filosofias de vida, levaram-me a trilhar novos percursos de leitura totalmente desconhecidos, ler filósofos e pensadores que desbravaram o início do movimento cultural da elite intelectual europeia denominado Iluminismo e humanismo no século XVIII, que teve como pioneiro Baruch Spinoza. Este movimento procurou mobilizar o poder da razão, a fim de reformar a sociedade, procurando debater as nossas origens e o papel que nos cabe desempenhar no mundo. Todo este conhecimento que fui armazenando ao longo dos anos, tem sido adquirido na leitura dos livros sagrados onde se congregam as maiores religiões do mundo, bem como nas teses cientificas evolucionistas, nas filosofias teístas, deístas e panteístas. As minhas leituras sobre o Monoteísmo, Politeísmo e Henoteismo, têm sido fundamentais para limparem da minha mente o nevoeiro que dentro dela existia. Precisei de faróis de nevoeiro para dissipar toda essa neblina que me toldava a mente e obstruía a visão. Finalmente depois de muito reflectir, acabei por encontrar no ateísmo, o caminho da minha verdade, a paz com a minha consciência e a estabilidade espiritual que me levou anos a conseguir definir qual era a minha zona de conforto quanto ao apaziguamento do meu espírito. Agora sei que trilho o caminho certo, e jamais voltaria a ouvir de alguém uma resposta que o padreca miserável me deu como resposta nos anos 60 em Luanda, sem que levasse uma resposta que jamais esqueceria na vida. Nesta viagem que estou fazendo pela vida não preciso de deuses que me acompanhem ou protejam, pois eles apenas existem nas débeis imaginações daqueles que se sentem coxos e precisam de muletas para andar. Idolatro e venero a minha consciência como entidade máxima, a qual julga, controla e sugere quer os caminhos a seguir, ou os actos que pratico. Confesso que não vejo onde exista a diferença entre fé ou crença. Se eu sigo determinada religião é porque tenho fé nela. No entanto se eu semanalmente visitar o meu astrólogo, vidente, ou a pessoa que me lança as cartas ou búzios e seguir as suas indicações, também demonstro a minha fé nessas predições. A mente humana é sistema neurológico muito complicado, o qual é facilmente susceptível de entrar em ruptura ou desequilíbrios quer por falta de oxigénio, drogas, poder, religião ou sexo. Perdi completamente o decoro religioso pela convicção que tenho da não evidência da existência de deuses, nem da vida para além da morte. Sinto-me no direito de blasfemar e de afirmar que vejo nos Papas dinossauros medievais e intolerantes, que o Espírito Santo é um personagem ridículo de qualquer história de quadradinhos digno de risadas e escárnio. Acuso o Deus Cristão e o Deus do Islão de assassinos convictos por permitirem limpezas étnicas, holocausto dos judeus nos campos de extermínio nazis, que têm sido feitas ao longo dos tempos, em guerras religiosas, inquisição etc. Condeno e vilipendio essas divindades míticas por encorajar o preconceito racial e religioso e de incentivar á degradação da mulher quer nos textos bíblicos ou do Corão. Estou enjoado e enojado de todas as religiões. A religião dividiu as pessoas. Não vejo qualquer diferença entre um padreco a dizer missa na sua igreja, ou de um indígena da Nova Guiné ou nos confins do continente africano a idolatrar e rezar ao seu Totem esculpido em pedra ou madeira. Ambos vivem as suas verdades e a fé devota aos seus deuses, portanto não vejo nenhuma razão para que um Deus Cristão deva ser mais verdadeiro do que qualquer dos outros. Quando os descobridores marítimos andaram por outras terras levavam os seus missionários para converterem os autóctones, muitos deles politeístas, mas mesmo que o fossem tinham o direito de manterem os seus Deuses e não de os renegarem a favor dos deuses dos conquistadores. A ciência está aberta á crítico o que é oposto às religiões. A ciência partilha do conhecimento e das suas descobertas, implora para que alguém prove que ela está errada. A religião pelo contrário vive num hermetismo, cheio de tabus e mistérios e não aceitam quem questione os seus princípios. A fé não se discute, aceita-se, cala-se, consente-se sem retorquíres, porque se o fizeres arriscas-te a ser excomungado ou afastado do rebanho por clandestino, infiltrado ou sabotador. Se as pessoas são boas só para esperarem recompensas divinas ou por temerem o castigo e as represálias de Deus, então á humanidade religiosa é mesmo um grupo de seres bem desprezível. Quando olho para as igrejas como já vi muitas com pára-raios no cimo dos seus campanários rio-me com gosto, pela pouca ou nenhuma fé que têm no seu Deus, e o mais hilariante é que têm que recorrer á invenção da ciência de Benjamim Franklin para se protegerem dos raios que Deus envia para a terra nos dias que está mal disposto. E se fazem isso é porque têm mais confiança em Franklin do que no seu Deus. As religiões apregoam conformismo e resignação, encorajam-te a dar a outra face ao agressor depois de teres levado a primeira bofetada, para que este te afinfe a segunda. As religiões reflectem e aproveitam-se do grau de ingenuidade, conhecimento, instrução em que se encontra o mundo das ilusões e carências da humanidade. Não adianta combater o efeito sem modificar a causa. Quanto maior for a iliteracia mas facilmente as religiões se propagam. Se quisermos libertar os terráqueos das suas ilusões religiosas, precisamos de mudar o mundo matando as religiões e a melhor maneira de o fazer é criar nas escolas uma disciplina que ensine as crianças a pensar pela sua própria cabeça e a questionar tudo aquilo que lhes parecer inverosímil ou mentira, bem como falar-lhe de como a ciência vê a criação do mundo e da humanidade. 26-9-2013 PS: Acho que com este texto termino as minhas reflexões religiosas, lamento muito se alguém ficou ofendido com as minhas dissertações, mas elas apenas representam as minhas verdades pelas quais penso e existo. .

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