segunda-feira, 7 de setembro de 2015

MANIFESTO-QUEM SOU EU?

Nasci nos anos 40 durante a segunda guerra mundial, no tempo em que grande parte dos bens alimentares eram racionados e havia senhas para se adquirirem mensalmente em quantidades diminutas. Fui baptizado e educado dentro dos cânones da igreja católica. Fiz a comunhão particular, solene e crisma, confessei-me algumas vezes e comunguei também. Fiz parte dos escuteiros, que tinham a sua sede social na igreja do meu bairro e muito embora os meus pais não fossem praticantes eram católicos convictos e casados pela igreja o que não aconteceu comigo. Durante o período da minha adolescência e mercê de muitas outras solicitações a religião foi perdendo importância e o interesse que a ela devotei inicialmente foi-se desvanecendo. Casei em 1969 em Luanda, tive uma filha nesse mesmo ano e um filho em 1972 também na mesma cidade. Abandonei a religião católica no século passado em 1969 quando tentei baptizar a minha filha na igreja da Sagrada Família em Luanda e o padre residente me perguntou se era casado pela igreja ao que tive que lhe responder que não, pois o registo chegava para legalizar a minha união matrimonial. A sua resposta foi de que eu vivia em “Mancebia” e que mercê desse facto ele como representante da igreja não procederia a essa cerimónia baptismal. Durante uns anos deixei a minha religiosidade em suspenso e congelada, até ter tempo e vagar para lidar e investigar esse assunto com mais ponderação analítica e o cuidado que nos merece um assunto delicado desta natureza. A religião tal como a pena de morto, aborto, eutanásia são temas controversos e sensíveis, que afectam consciências e sensibilidades. As reacções intempestivas resultantes de decisões tomadas a quente usualmente dão mau resultado ou azo a arrependimentos, só que a palavra tal como a pedra depois de atirada ou proferida não voltam para trás. Desde que deixei Angola em 1975 a minha vida progrediu em todos os aspectos inimagináveis, colocando-me novas vertentes e desafios para escalar, o que me proporcionou uma aprendizagem e experiências vivenciais, que nunca teria tido em Angola se de lá não tivesse saído. Como felizmente para além da língua Português dominava perfeitamente o Francês e Inglês isso abriu-me novas portas e diferentes horizontes que me permitiram escolhas que não eram as de regressar a Portugal ou escolher o Brasil para me afirmar. Rapidamente refiz a minha vida o que me proporcionou deixar de trabalhar, regressar a Portugal aos 49 anos de idade sem qualquer reforma e viver em Vilamoura-Algarve uma vida de qualidade que sempre ambicionei ter na terceira idade, mas que para mim chegou muito antes dessa idade cronológica. Com tempo para tudo, casar e descasar, pagar alambamentos e divórcios acabei com a provecta idade que tenho hoje de o fazer por quatro vezes. Desde 1992 e aos 49 anos de idade altura em que cheguei a Portugal, passei a ocupar o meu tempo com diversas actividades e uma delas foi incrementar os meus tempos de leitura algo que iniciei aos 13 anos de idade e que nunca passou um dia que não dedicasse pelo menos 60 minutos a ler. Obviamente que a leitura foi um dos passatempos que potenciei assim como a escrita à qual passei a dedicar grande parte das minhas actividades diárias. Com tanto tempo disponível passei a viajar intensamente e a correr mundo por vezes sem data de regresso, tendo chegado a ficar por períodos de 3 a 6 meses fora de Portugal. Ténis e golf foram outros desportos a que me dediquei de alma e coração passando imensas horas nos courts de ténis ou greens de golf. Decidi comprar um barco que ainda hoje tenho e que uso para ir para as ilhas na costa algarvia durante o verão, onde passo os meus dias longe das multidões que enchem as praias da costa algarvia. Como disse passei a investir fortemente na leitura especialmente na religiosa e a minha biblioteca cresceu exponencialmente no que respeita não só aos livros sagrados das religiões mais importantes do mundo, como passei a ler escritores importantes quer evolucionistas ou criacionistas que me trouxeram tsunamis de conhecimento enriquecendo o meu património cultural. Ao longo destes 23 anos absorvi toneladas de conhecimento que me permitiram começar a arrumar de modo selectivo muitas das dúvidas e questões com as quais me interrogava com a falta de respostas sensatas e credíveis que fizessem sentido dentro do meu cérebro que foi sempre muito céptico em aceitar as verdades dos outros, especialmente quando estas não eram sujeitas a serem questionadas ou debatidas. Quanto mais lia mais o meu cérebro se iluminava, mais consciente ficava e mais perto da minha verdade comecei a sentir que me encontrava, pois admito que cada um possa ter a sua, uns apenas por hereditariedade parental, outros por situação geográfica no mundo onde nasceram e outros ainda porque seguem naturalmente a tendência religiosa do país onde vivem sem nunca questionarem os dogmas religiosos com que foram impregnados na sua juventude, e portanto são católicos como poderiam ser de outra religião qualquer. Infelizmente os progenitores são os grandes culpados de decidirem e violentarem os direitos dos seus filhos dando-lhes uma religião através do baptismo, um cartão de sócio de um qualquer clube desportivo, ou partido politico quando a criança ainda não consegue ou tem consciência pela tenra idade que tem, para saber qual a sua nacionalidade. Obviamente que até chegar ao patamar religioso onde me encontro, passei inicialmente pela apostasia, depois pelo agnosticismo até chegar ao terminal desta minha longa viagem pelo descobrimento da fraude gigantesca chamada de religião que é o Ateísmo. Hoje em dia encontro-me preparado para dirimir convicções religiosas com quem quer que seja, pois a minha preparação ecuménica permite-me abarcar diferentes confissões religiosas, incluindo as orientais. Da religião para a política foi um passo muito curto, pois quer os líderes religiosos ou políticos são muito manipulativos e persuasivos em arranjar e congregar prosélitos para as suas hostes. Hoje sou um anarca convicto e sigo esta doutrina política de renegar e abolir qualquer forma de autoridade estatal organizada substituindo-a por organizações libertárias baseadas na livre associação. Tal como a grande maioria dos anarquistas sou apartidário opondo-me a qualquer regime político ditatorial assente na autodefesa pacifista. A política e a religião apenas servem para escravizar os povos mentalmente proibindo-os ou negando-lhes os meios para pensarem. Quem pensa, quem adquire conhecimento, adquire poder, e isso pode tornar-se perigoso tornando as pessoas em contestatários, sabotadores ou terroristas. Os cidadãos não têm a obrigação moral para obedecer a um Estado quando este irmana leis que entram em conflicto com a nossa autonomia ou direitos e liberdades individuais. A minha frontalidade e paixão pela vida revela-se através dos meus escritos sem complexos ou receios de afirmar convicta e visceralmente o que sou, de onde venho e para onde vou, se quero ser acompanhado por deuses e santos ou se prefiro fazer a minha viagem até á eternidade sozinho, sem medo de enfrentar a morte, ou do que possa estar para além dela. 21-6-2015

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